terça-feira, dezembro 21, 2004

Meninos não choram.

Meninos não choram. Não sei bem porque, mas meninos não choram. Não cai bem. Coisa de frouxo diriam uns e outros, coisa de mulher... meninos não choram. Não importa, mesmo que estejam sozinhos, meninos não choram. Mesmo que se sintam magoados, meninos não choram. Mesmo quando desenganados, meninos não choram.
Não há motivo que justifique o choro. Devem ser duros, ásperos, não devem ter lágrimas. Lágrimas molham, amolecem. Lágrimas são piegas, tem sentimentos demais. Meninos não devem sentir nem amolecer, meninos devem ser duros como pedra. E pedras? Pedras não choram. Pedras são brutas, sedutoras, eternas, pontiagudas, mas pedras... não choram. Que confiança há em quem chora? Quem chora precisa ser acalentado, protegido, quem chora precisa de colo. Meninos não, meninos devem ser bravos e varonis o tempo todo, ou então, simplesmente não são. E não ser... é pior que não chorar.
Mesmo que percam um amigo dito valoroso, meninos não choram, a eles não é permitido este tipo de amizade, devem sim ser camaradas, mas a intimidade carrega sempre uma mácula, retira sempre um pouco do brio. A amizade é sempre maldita como a de Arthur e Galahard. Mesmo que percam alguém de quem gostem muito, meninos não choram, pois não são eles quem perdem, meninos sim são perdidos. Mesmo que se percam pela vida, meninos não choram, meninos não se perdem, figuram à proa do navio apontando o caminho tal qual o astrolábio.
Meninos devem ser algozes, alentejos, carnífices, severos. Meninos devem estar prontos para o sacrifício, mesmo que seja por alguém que não queira, mesmo que seja por alguém que não mereça, e não devem de maneira alguma demonstrar seu interior ou velam como o filme fotográfico, tornam-se inúteis, perdem o valor.
Meninos não choram, mesmo que percam seu maior companheiro de muitos e muitos anos, seu fiel amigo de 18 anos, em uma manhã fria e chuvosa no primeiro dia de um verão. Aquele que sempre lhe saudara e sempre lhe acolhera sem nunca se importar se meninos devem ou não chorar. Ah amigo, como lhe dizer adeus depois de tantos e tantos anos? Tantas corridas e tantas caminhadas? Tantos afagos e tantos carinhos? Pago lhe hoje meu último favor, não um favor, pois é antes meu dever. Pago-lhe hoje as moedas para o Caronte e desejo um dia lhe reencontrar junto aos Deuses. Boa viagem em sua derradeira caminhada.
Adeus amigo, adeus.

Semi-existência

Escrito ontem pela manhã.

Batidas descompassadas, coração acelerado, falta fôlego, água, frio, incômodo. Estou na cama. Viro de um lado para outro, quase me debato, não encontro posição confortável. Ora um calor insuportável, ora um frio desagradável e ninguém a meu lado. Meu corpo dói. Meu cérebro pulsa, resiste a acordar, não quer voltar a dormir. Permaneço prostrado, cansado, vazio, desalentado e com um sono insuportável. Levanto de súbito, me visto tão rápido que não entendo como. Silêncio. Todos foram embora. Que estou fazendo eu sozinho? Não me lembro do meu nome, olho no espelho e não me reconheço. Na mesa permanece o desjejum, frio já há algum tempo. Bebo leite. Olho em volta, uma brisa gelada constante arrepia a pele. Saio à rua e os olhos passam por mim sem me notar, olhos vazios, esbranquiçados, olhos de mortos. Vez que outra um olhar parece me acompanhar, parece me reconhecer, depois desiste, ignora-me. Não sei, parece que sou outro, torto, não valho a pena, e meus olhos talvez sejam de um morto, ou estejam se tornando. Desisto, vou trabalhar. O sono me devora, não consigo acompanhar as letras no monitor, para onde elas foram? Fugiram, correram pela sala. Fico perseguindo as letras, os olhos, o sono. Numa sala vazia, sempre vazia, onde os anos passam e eu envelheço mais e mais sozinho. Mas nunca morro. Talvez já esteja morto a algum tempo e por isso não viva. Aparentemente voltei a acordar, olho ao redor desconfiado, um mosquito disputa a minha atenção com o monitor. Parece que ele consegue me ver, desvia dos meus movimentos. Fico imaginando se o mesmo acontece com as pessoas, se não vou passar através delas e sentir muito frio. É impossível explicar, é ilógico, é tortuoso. Começo a falar e percebo que converso sozinho, do outro lado do tabuleiro de xadrez não há ninguém. Chá para dois, três, seis, mas uma xícara só se esvazia em quanto as outras esfriam. Meu coração dói e eu não consigo saber por que, não há o que eu faça, não há o que eu fale nem o que escreva nem o que grite. Os dias vão perdendo as cores e as rosas secam no armário.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Entre a sobrancelha e o olho

Deitado na varanda à sombra dos arbustos repousava em uma rede um homem admoestado pelo sono insistente. O tempo quente das tardes de verão deixava tudo vagaroso. A brisa às vezes acariciava o corpo, refrescava e balançava a rede. O cheiro de frutas invadia a casa vindo do pomar, os gatos dormiam sob o sol, tudo compunha um quadro. Do seu lado esquerdo, em uma pequena mesa redonda, branca, repousava um copo de limonada com gelo e um livro, “A queda que as mulheres têm para os tolos”, uma excelente tradução de um autor francês desconhecido feita pelo senhor Machado de Assis. Uma cigarra chiava ao longe fazendo lembrar o cheiro de mato dos dias de infância e o riso dos primos. O sol escapava por minúsculos espaços entre as folhas das árvores para furar a sombra, lamber-lhe o colo e iluminar a pequena pinta que residia só entre a sobrancelha e o olho. Espreguiçou-se e virou de lado expondo o torso nu, o sono vinha gostoso e os sonhos, doces como néctar, regados num desejo de ouvir Djavan. Ah... vontade de poesia que rola no corpo, na sensação de toque leve na pele e no cheiro de calêndula. Dentes de Leão voando pelo ar, escalando o céu claro até as nuvens brancas que dançam no cerúleo refletidas na íris e na pupila dilatada, pegadia, perdida.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Não Leia.

Às vezes quando estou só algumas idéias vem me visitar em asas de mariposas e se queimam na lâmpada inúmeras vezes até caírem mortas no chão. Outras vivem escavando o solo e devorando a terra fazendo cócegas na minha mente. Algumas vêm e outras vão depois de um tempo. Às vezes estas idéias ficam, esperando maturação, às vezes elas morrem sem terem conhecido a luz do dia. Outras surgem devorando a estas idéias como surgem os vermes que devoram cadáveres. Hoje apenas não há como falar. É falar sobre o nada, tentar relacionar ecos, ametistas, vinagre e vestidos vermelhos, como relacionar olhares, madeira e desespero. É imiscuir água em óleo, derreter areia com gelo. Às vezes não há como falar. Aqui sou senhor do absoluto, monarca supremo do meu reino. Aqui minha palavra é a ordem e estabelece a história, mas hoje, hoje não há histórias para serem contadas. No princípio era o verbo, e depois, o silêncio. Como poderia deixar-me seduzir pelo silêncio e fazê-lo abater-se sobre todas as coisas? Delírios apoteóticos de uma mente lúgubre, insana e insalubre. O dia de hoje simplesmente não aconteceu. E no sétimo dia? Ele não descansou? Não. Estava farto por demais, enrolou, chorou, padeceu, riu e visitou a loucura.
Blasfêmia, eu disse: "Não leia." e a propósito, não quer ler, não venha.

terça-feira, novembro 30, 2004

É engano...

Existe algo mais deprimente do que uma ligação enganada no celular? Você atende e o cara do outro lado pergunta quem está falando, como se ele não soubesse para quem ele ligou. Tudo bem, até entendo, de repente a pessoa deixou o celular dele na bolsa da namorada, ou estava longe e alguém atendeu por que ele pediu (ou não... vai saber), mas de modo geral as pessoas costumam atender a seus próprios telefones. Então você pergunta para o cara com quem ele quer falar, geralmente essa é a pior parte, chovem nomes esdrúxulos, títulos bizarros, dicções tortas e insistências estúpidas. “Queria falar como o Ministro Caetano”, “O Evérclaidísson está?” (como se as pessoas pregassem seus celulares na parede, o que me lembra da história da empresa que mandou fixar os lap-tops dos executivos às mesas porque não queriam que eles levassem os respectivos em viagens ou algo do gênero).
_ aáà luidiisjns esk?
_Eim?
_ ``AÀ`´a luidiisjns!
_Eim?
_LUIDIISJNS!
Você para, pensa, não consegue se decidir se desliga na cara ou manda tirar o p... da boca. Desliga porque é educado. A pessoa liga de novo e ainda acha que pode ficar puta porque você está enganando ela! Mas acreditar realmente que deram a ela o numero errado... isso não, nunca. O processo se repete pela próxima hora e, a partir do dia seguinte, em dias alternados. Afinal, todo mundo sabe que os celulares saem à noite para cantar no muro do quintal e se reproduzir (de onde você imaginou que vinham os celulares? Não vai me dizer que também acredita em cegonha...) e nesse processo às vezes voltam para a casa errada, mas um dia eles voltam. Isso tudo quando a pessoa não começa a perguntar de onde fala, ou quando acha que você é o(a) amante da esposa(o) e começa a te perturbar a vida. Maldita baixa estima...
Mas passando os constrangimentos sociais diretos, você sempre tem os sociais indiretos e os psicológicos. Os sociais indiretos geralmente são relativos à oportunidade, isso sempre costuma ocorrer nas horas mais constrangedoras possíveis. No dia em que você esqueceu de desligar o celular no motel, quando você está chegando atrasado no serviço (mais precisamente no exato momento em que você está passando discretamente pela sala do seu chefe), no banheiro, no cinema, quando você finalmente conseguiu dormir depois de vários dias, ou pior, quando a sua namorada com uma cólica desgraçada e aquela TPM insuportável conseguiu. Mas ainda acho que os piores efeitos de todos são os psicológicos: Quando se está esperando resposta a uma entrevista de emprego, quando se está esperando uma ligação daquela pessoa especial, ou quando você brigou com o seu melhor amigo ou com a namorada. É horrível. E se é tão horrível hoje, imagine quando as pessoas usavam pombos correio...

quinta-feira, novembro 25, 2004

Lazward

Depois de alguns dias de chuva, acordei com a pele levemente arrepiada pelo frio das últimas horas da manhã, olhei para o céu e percebi, um tanto incrédulo, que o tempo abrira. O céu estava tão profundo que eu não me lembrava que ele era desta cor.
Alguma vez já disse o quanto gosto dela? Naquele dia algumas nuvens passeavam pelo cerúleo, adornando a abobada celeste, contrastando com o fundo da tela de algum Deus, tela essa que invejo absolutamente todas as vezes que percebo quão profundos e belos são os tons de seus pigmentos. Tento me lembrar de quantas vezes me roubou os pensamentos, como quando mergulhei entre as pedras e os cardumes de Ilha Bela, como quando estava à beira do mar das praias do sul, dos céus que me roubaram a paz, dos olhos de safira que me roubaram à fala... dos poucos olhos que me invadiram violentamente a alma. “Acho que são olhos de mar na ressaca... Aquele mar que vem e me arrasta e me puxa para dentro de você”. Lembro-me igualmente dos tons ultramarinos que tingiram as coisas na calada da noite quando a luz a muito se fôra e da cor daquela manhã em especial. Há quanto tempo foi? Já não me lembro mais ou minto muito bem para mim mesmo. Foi a melhor de todas as noites em meio àqueles dias turbulentos, a calmaria no olho da tempestade. Era quase como se eu pudesse ouvir o som das ondas que me levavam entre o mar e a praia. Era o sonho de Ícaro.

Azul, do persa Lazward. Adj. 1. Da cor do céu sem nuvens com o Sol alto; da cor do mar fundo em dia claro; da cor da safira. S.m. 2. A cor azul em todas as suas gradações. 3. O céu, os ares, o firmamento: Voam pássaros pelo azul em fora.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Problemas com seus empregados?

Seus trabalhadores são muito onerosos? Cansado de enfrentar greves? Você não agüenta mais receber aquele barbudo devorador de charutos do sindicato?
Um novo trabalhador-conceito irá mudar para sempre a rotina de sua empresa! Desenvolvidos sob condições extremas em laboratórios subterrâneos no Laos, trazemos para vocês os Fabulosos Estagiários Anões TM, Chuin!!!! (Som de Brilho de Robô Gigante de Seriado Japonês). Os únicos estagiários de alto desempenho, performance dinâmica e baixo custo que ocupam menos de um metro cúbico! Ensinados, os Fabulosos Estagiários Anões TM, Chuin!!!! possuem habilidades inigualáveis e são capazes de realizar tarefas únicas como piking, paking, textos, petit gateau e muito mais! São capazes de amarrar os próprios cadarços, precisam de pouca luz, pouca comida, pouca água e pouco carinho, mas são capazes de trabalhar por extensos períodos em qualquer condição físico-geológico-psico-climato-sociológicas! Mas espere, não peça os seus Fabulosos Estagiários Anões TM, Chuin!!!! ainda porque nas compras acima de cinco unidades você ainda leva uma prática caixinha de areia que irá manter os seus Fabulosos Estagiários Anões TM, Chuin!!!! limpos e asseados.

terça-feira, novembro 09, 2004

Chove lá fora

Como estou em época de provas e até as tampas de trabalho decidi publicar um ensaio já um pouco antigo para vocês se divertirem, não o havia publicado até hoje porque queria aumentar um pouco o tamanho, divirtam-se:

A meia luz banhava o quarto escondendo segredos entre as sombras dos móveis. Uma vela acesa em um canto bruxuleava levemente. Os movimentos eram sutis. Um mundo em tons alaranjados expunha corpos que eram calmamente despidos de suas vergonhas. Um sorriso de pin-up, uma boca carmim, lindas pintas e grandes olhos ocupavam meus pensamentos. A leveza de um toque e a voluptuosa vontade estabeleciam a excitação entre dois amantes a disputar um jogo. Sedução. Do latim seductione, substantivo feminino 1. Ato ou efeito de seduzir ou ser seduzido. 2. Qualidade de sedutor. 3 . Atração, encanto, fascínio. A alça de sua blusa caiu expondo sua pele clara, um dos ombros e a saboneteira. Os movimentos da chama aumentavam e em algum lugar raios choviam na terra. O fôlego faltava. A chama aumentava. O calor crescia. Um instante de resistência fazia os corações acelerarem dilatando suas pupilas ao máximo, arrepiando suas peles até o encontro de seus toques. Um clarão iluminou o mundo e a chuva caia forte em tons azulados lá fora.

sexta-feira, novembro 05, 2004

Sexta-feira, mais um dia de posts extranhos...

Tá, as crônicas não tem surtido muitos comentários nem visitas, isso me desanimou um pouco com relação à minha produção para o Projeto Nascente, mas tudo bem. Acho que poderia ter trabalhado um pouco melhor o último texto, tinha várias idéias legais, mas faltou tempo para variar. Então por hoje vou me ater aos comentários da semana.

Mulheres, mulheres, mulheres.
Ainda vou ficar louco, o tempo melhora e as garotas aqui do trabalho desfilam com cada vestido que me deixam insano... Não sei se já falei alguma vez sobre o quão sexy eu acho uma mulher de vestido, saia, mini-saia... Pernas, ahh... posso dizer com algum orgulho que compartilho de uma das opiniões do Drummond... rs. E existe algo mais sensual do que uma garota inteligente e bonita com um vestido leve, cabelos soltos, mostrando de leve os ombros e as pernas claras, inebriando os sentidos com o seu cheiro e um sorriso lindo nos lábios? A tradição clama por mim, dezenas de poetas que sob esse céu estariam tomando sua cerveja a beira do mar, escrevendo, discutindo e observando a essas beldades. Mas só observando... São todas livre, muitas comprometidas e eu aqui passo só vontade, tenho tanto com o que me preocupar, tanto a estudar, e montanhas de trabalho... O jeito é ligar o meu disc-man e ouvir novamente “Love in a Elevator” do Aerosmith.

Cores.
Hoje o escritório está despido do cinza habitual, centenas de bexigas coloridas enfeitam cada monitor da sala em comemoração ao aniversário da empresa. O efeito é delicioso, somado ao fato da semana estar chegando ao fim, todos trabalham um pouco mais felizes. Muitos preferiam que a comida do refeitório fosse boa só por hoje. Eu particularmente olho para as minhas bexigas laranjas e penso que de tão belas provavelmente devam ter um gosto melhor do que o arroz cru, o pirão azedo e o peixe de que tentei fugir inutilmente ontem. Acho que estou emagrecendo, depois da viagem não tenho mais dinheiro para comer comida de verdade. Minhas refeições matinais sempre foram parcas, meu almoço agora tem sido repetidamente folhas amarelas e pedaços de beterraba e o jantar, que já estava restrito a um ou dois salgados na faculdade, agora já não existe mais. Estou pensando em arrumar um fogareiro à álcool e trazer marmita, ou cozinhar aqui, mas para um não tenho espaço na mochila e para o outro não acho que o RH vá gostar. Mas é bom olhar ao redor e ver alguma cor diferente, já que não tenho uma janela para olhar o céu lá fora e ainda não pintei a minha paisagem para colar aqui dentro. Se eu não tivesse uma prova na segunda, talvez a pintasse hoje, ou durante o final de semana. O engraçado é ler o texto enviado pelo diretor da empresa que diz que a força e o valor da empresa reside aqui em seus funcionários e saber que existe uma comissão de corte de custos do refeitório que já não serve comida. É nisso que dá um canceriano sarcástico escrevendo com fome antes do almoço...

quinta-feira, novembro 04, 2004

O dia dos mortos

Ao se levantar, logo pela manhã, seus olhos teimavam em ficar fechados. O corpo jazia semi-inerte enrolado nos lençóis e virava-se vez ou outra procurando um pouco de calor e uma posição confortável. Mas sua consciência não tardou a falar mais alto e mesmo amarrado as necessidades fisiológicas que seu corpo exigia de forma pungente e turbulenta, levantou-se cambaleante e arrastou-se pelo quarto tateando em busca de uma calça. Ontem havia sido o dia de Finados, o dia onde se cultuam os mortos, e ele havia permanecido confinado a sua casa como um defunto em sua cripta. Não foi a falta de opção, nem a falta de vontade, pelo menos não a princípio. Quando pequeno, seus pais costumavam levá-lo até o tumulo dos avós, em uma outra cidade. Avós que não conheceu, mas os visitava habitualmente, se é que os mortos realmente se importam com visitas; certo dia isso lhe fez pensar: _Coisa curiosa. A morte. Vindo de uma família grande e nascido uma geração mais tarde, conheceu vários de seus anciões e teve a oportunidade de voltar à mansão dos mortos diversas vezes. Hoje, lembrava-se daqueles tempos, da necrópole escaldante, do cheiro de crisântemos, das beatas nas vielas e das pontuais chuvas torrenciais no fim de tarde. Sempre chovia. Sempre. Por vezes os velhos lhe contavam histórias e velhas superstições. Neste mesmo instante lembrava-se de uma: diziam que ao olhar para o cemitério a meia noite do dia de finados, você seria capaz de ver a procissão dos mortos saindo de suas covas em direção às casas para visitar os vivos. Pensou pelo dia à fora, sem encontrar a resposta a equação que se impunha lasciva a sua mente. Quem estava de fato morto? Seus avós, que hoje não passavam de um punhado de pó, cabelos e ossos ou ele, que lutava contra os próprios impulsos e necessidades da vida para enfrentar um novo dia de trabalho? De olhos vidrados em frente ao monitor o sono tentava usurpar sua atenção, este há dias o desafiava, mas também negava a ele o descanso. Com o descaso a fome lhe tratava e mesmo as iguarias que mais apreciava não pareciam provocar-lhe o estímulo necessário. Gastou com alguma besteira que comera apenas pelo impulso. Se quer possuía fome. A volúpia parecia jogar o mesmo jogo, mostrando-se em horas impróprias para desvanecer nos momentos onde seria ela oportuna. Durante todo o tempo em que permanecia acordado tinha impressão de ter suas vontades trocadas, queria dormir quando precisava ficar acordado, trabalhar quando devia dormir, rir e conversar quando deveria fazer sexo... Desenhar, ler, estudar, brincar, beijar, deitar na grama, nadar na praia, tudo se misturava em um sincretismo maldito, ameaçador, brincalhão. Espíritos Zombeteiros... Parecia-lhe agora que havia passado para outro lado da vida, parecia agora pertencer ao Senhor dos Esquecimentos. Este vinha se aproximando vagarosamente em uma marcha inexorável. Primeiro se apropriara de suas memórias, depois de seus gostos e agora parecia cobrar sua vida, sentado sobre o computador, estalando os dedos e balançando os pés sobre o monitor, o que produzia um estalido baixo e cadenciado do contato entre o coturno que vestia e o vidro do monitor. Talvez seja isso, talvez seja uma forma de ignorar quem está vivo e quem está morto. Talvez um modo de cultuar a nós mesmos. Jogo perigoso esse, quando pequenos seres se aproximam cobrando coisas grandiosas.

sexta-feira, outubro 29, 2004

O que não deve ser nomeado.

_O que mais lhe assusta? – perguntou o homem no outro canto da sala.
Imersa em sombras e fumaça de cigarro apenas o mostrador do rádio relógio rasgava em verde os tons marrons escuros que cobriam a sala como uma mortalha. Um silêncio mórbido percorreu o ambiente causando a mesma sensação estranha que a friagem causa em nossa pele instantes antes do tempo mudar avassaladoramente. Por vezes, seus pelos arrepiavam-se e todo o ambiente parecia compor um quadro em sua mente, com cores da fase holandesa de Van Gogh. Imagens corriam sua mente e vultos freqüentavam a extensa sala. Uma imagem se formava.
_Certas coisas não devem ser nomeadas. – respondeu o rapaz em voz baixa, esquivo e inquieto.
Uma crença comum é a de que nomes têm poder, saber o nome real de uma coisa pode ser bastante perigoso. O rapaz tentou explicar entre palavras vacilantes. Falou ao homem sobre uma certa crença Haitiana, rituais de morte e os pesquisadores que tentaram estudá-la, falou também sobre o poder de se acreditar em algo. Logo suas palavras sumiram em meio a fumaça.
_Por que me perguntou isso? – o temor começara a se transformar em raiva.
O homem não soube responder, por mais preparado que estivesse a força nas palavras do rapaz lhe açoitaram o peito, o ar faltara e suas próprias palavras não conseguiam romper o som do silêncio. O homem percebeu que acordara demônios que permaneciam há muito adormecidos, demônios que não deveriam ser acordados sob hipótese alguma. Na verdade, o que ele não sabia é que este demônio voltara a rondar pouco tempo antes e possuía sim um nome.
A sensação de estar com o abdômen preso por faixas sujas, levemente ensangüentadas, encurtando-lhe a respiração, em um quarto semi-destruido, imerso na sombra, ao súbito e esperado zunido de um letreiro de néon vermelho refletindo nos respingos que a chuva colocara na janela; somada a impressão de uma mão em forma de garra, feita de acúleos de rosas, com seu caule já há muito seco, espremendo o seu coração a cada batida, como que fazendo-o bombear o mesmo sangue que escorre por entre os longos dedos desta mesma mão sob o odor característico de madeira podre. Pavor é o nome.
O homem afrouxou a gravata e soltou o primeiro botão da camisa, uma atitude nada convencional, pouco profissional em sua própria opinião. Tentou disfarçada e inutilmente enxugar as gotas de suor que passaram a brotar em sua face na mesma velocidade de seu pensamento. Era tarde demais, seu nervosismo já era aparente.
Em sua frente com as faces ruborizadas, inclinado para frente, ofegante, dentro da única coisa clara em todo aquele ambiente, florescia agora a impressão de ar brotando de dentro para fora, inundando os seus pulmões, um calor conhecido e um ímpeto destemido, desavisado, imprudente gritando em sua mente. A raiva agora fluía livremente. Abruptamente parara o som do letreiro de néon. Tudo isso por causa de um nome, um nome de mulher. Ela voltou.

quinta-feira, outubro 28, 2004

Como outro dia qualquer

“Hoje acho que estou a fim de pegar um cinema sozinho, como nos bons tempos”. Foi assim que começou. Olhou os bolsos onde jaziam duas moedas de dez centavos, a carteira onde um surrado trevo de quatro folhas dividia, plastificado, o pequeno espaço com cinqüenta Iene e mais vinte centavos de Real e terminou com uma breve visita ao site do banco, onde números vermelhos exterminavam sonhos. Respirou fundo, olhou o trabalho empilhado sobre a mesa junto ao computador e uma xícara fria de chá. Ainda dá para tomar, pensou num surto de polianisses. Fez algumas contas. Hoje é quinta, amanhã recebo e começo bem o final de semana, cobrindo o limite da minha conta corrente até segunda feira quando, então, faltará apenas quinze dias para que o ritual se repita. Sentiu-se ridículo, riu de si, reclinou a cadeira e continuou digitando. Um breve olhar ao redor revelava pessoas ocupadas, preocupadas e desesperadas pelo excesso de trabalho. Na mesa em frente, um administrador mauricinho abria uma embalagem de plástico e se debruçava, voraz, sobre o pedaço de bolo de chocolate. No disc-man um led indicava a bateria chegando ao seu fim enquanto Lenny Kravitz tocava apenas para ele.
Procurou rapidamente algo em seu e-mail e encontrou apenas algumas propagandas, dois vírus e algum vazio. Pensou: “Existirá vida inteligente lá fora?”. Era quase hora do almoço, hora em que, diariamente, ele fugia desesperado do refeitório da empresa em busca de alguma comida real e alguma discussão estimulante. Infelizmente as garotas mais inteligentes do escritório por vezes insistiam em retornar a assuntos rotineiros e por demais cotidianos. Casamentos, crianças, o maldito trabalho de conclusão de curso. Assuntos que se repetiam religiosamente da mesma forma, com os mesmos comentários e tópicos em uma ordem inabalável. Memens. Ao menos elas não falam sobre novela... Os rapazes, bom, meu salário não ajuda muito a convivência. O almoço passou por ele como previsto, não conseguiu empurrar o lixo que alguém insistia em chamar de comida, feijão sem gosto, farofa mole e pedaços crus de frango e lingüiça. Comeu apenas alguns pedaços de beterraba, algo que nunca lhe agradara, e tomates extremamente vermelhos. Lembrou-se do exército e em seguida tentou retirar uns cheques no caixa do banco para comprar qualquer coisa que lhe enganasse o estômago. Quando retornou a sua mesa a voz do administrador em frente o irritava penetrando levianamente em sua mente, este, passara toda a última hora no telefone, entretido em uma conversa fútil onde se gabava por enganar com sucesso a própria namorada. Ligou novamente o disc-man numa tentativa frustrada de ignorar o administrador e exterminou grande parte do trabalho enquanto isso. Pôs-se então a examinar as resenhas dos clientes. Continuou curioso sobre a existência de vida inteligente.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Alma

Escrito originalmente domingo pela manhã durante algum tempo psicológico.

Cheiro da “Radical. Uma peculiar mistura de móveis velhos, tinta de impressão serigráfica, papel couche e revistas. Quando entrei na sala, preenchera-me os pulmões, agora, por um instante, quase o perdi. Limpo a mesa do outro lado da sala e arrasto-a para perto do sofá. Coloco o aparelho de som em uma extremidade e sento-me na outra com os meus livros. Levanto, procuro a tomada e coloco um CD no aparelho de som. Música clássica, ou quase... A trilha sonora de “O Senhor dos Anéis”. Não pude resistir a vontade de escrever. O som, os cheiros, a arte. Essa mesma sala já foi o meu estúdio inúmeras vezes. Assistiu a vários “estados” e mudanças de espírito meus. Essa sala conheceu de mim um lado que poucos conhecem, talvez ninguém. Agora ela está tomada de coisas da Radical, firma do meu pai. Humm... vejo aqui, de repente, tantas coisas sobre o que escrever. Simples prazeres... A música evolui forte ecoando pela sala, violenta, sóbria. Lembro-me dos aromas das mulheres que tive. Como um cheiro pode seduzir um homem? Domá-lo? Tocá-lo? Posso lembrar-me dos aromas de cada uma delas, o que às vezes me faz arrepiar. Estes dias todos tenho pensado: que tipo de homem eu sou? Sobre tudo um tipo raro. Creio que tenho aquele tipo de característica provocadora, acompanhada por uma profundidade assustadoramente perigosa. Algo em mim atrai e amedronta. Tenho uma segurança sobre coisas que assustam as pessoas comuns, sempre gostei do desafio, da audácia, do perigo. Mas confesso que muitas vezes não sei lidar com coisas simples como um Beijo. Touche. Às vezes penso demais, ponho tudo à perder. Um troféu enfeita o tampo superior do piano de minha mãe, nesta mesma sala. Foi um dos melhores dias da minha vida, quando domei um cavalo e venci uma prova hípica de salto. Faz tanto tempo... seis longos anos. Esta sala também me faz recordar alguns dos beijos apaixonados que já dei. A alma de um homem é algo que poucas vezes se revela.


quinta-feira, outubro 21, 2004

Frase Red Dragon da semana:

“O estado de degradação de um homem é diretamente proporcional à quantidade de Cup Nodles que ele toma no café da manhã.”

quarta-feira, outubro 20, 2004

Top 5 - Filmes Trash e infames

Acho que foi Charles Chaplin que disse que você precisava ser bom para fazer chorar, mas precisava ser um gênio para fazer rir. Assim decidi utilizar essa coisa acinzentada que possuo entre as orelhas (não, eu lavo os ouvidos diariamente) para escrever algo diferente hoje. Sem pretensões à genialidade, (embora o humor seja reconhecidamente um sinal de vida inteligente) quero apenas tentar arrancar um sorriso ou dois das pessoas por hoje falando um pouco de bobagem. Vamos ao tema, vou aproveitar um pouco do meu serviço para falar sobre os filmes mais bizarros que eu já vi e seus nomes curiosos. Que comece o top cinco!

Em ultimo lugar...
Curiosamente, os filmes de artes marciais parecem ter uma grande propensão ao mundo bizarro. Quando comecei a escrever este post, o primeiro nome que me veio à mente foi “Rajada de Fogo”, um filme super batido que já passou zilhões de vezes naquela coisa lobotomizante com que as pessoas continuam insistindo em perder o seu tempo, a chamada televisão aberta (não que a paga seja muito melhor). Confesso que tive a sorte de nunca tê-lo assistido. Porque então foi o primeiro nome de que lembrei? Uma velha piada de colégio sobre que tipo de filme tem o nome “Rajada de Fogo”. A mente dos garotos aos 15 anos é uma fonte surpreendente de bobagens...

No penúltimo lugar...
O segundo nome que lembrei foi o famosíssimo “Reno, Desarmado e Perigoso”. Charles Bronson realmente é o cara, eu juro que queria ter a metade da habilidade dele em interpretar o maior papel de sua carreira (o papel dele mesmo), convencer os estúdios a filmarem a interminável série “Desejo de Matar” (onde ele se divertiu atirando com uma .45 e dando vários roles de Cherokee) e ainda conseguir que a Jeep permitisse que ele queimasse totalmente o filme da marca usando uma Grand Cherokee em todos os seus filmes. Esse cara realmente tem talento, sabe como se divertir e ganhar dinheiro! Pena que ele se pareça com o diretor da escola onde fiz o colegial...

Em terceiro lugar...
Agora, ao pensar no terceiro filme eu comecei a ficar preocupado. Misteriosamente todos os filmes muito ruins de que estou me lembrando parecem fazer parte da minha adolescência. O terceiro colocado (mnemonicamente falando é claro), foi uma disputa interessante entre “Freeklândia – O parque dos horrores” e “A Fantástica Fábrica de Chocolates”. Esse foi páreo duro, Freeklândia era um filme que costumava passa no SBT freqüentemente e era tão freek, tão trash, que conseguia me arrancar muitas risadas. É o típico filme B ao estilo um-Nerd-e-uma-câmera, o que me faz ter muita saudades da extinta “Gorda Flácida Produções”, a mega produtora de filmes B que foi muito ativa entre 1997 e 2001 aproximadamente. Ela produziu, entre outros, os clássicos thrillers “Cereal Killer I eII”, o cult “A Minhoca Assassina”, o épico moderno “Os Guerreiros de GranVille” que acidentalmente foi gravado sobre o final do primeiro “Cereal Killer” e um outro filme que nunca descobri o nome mas que foi inteiramente produzido, dirigido, estrelado, editado e divulgado pelo meu amigo Espírito da Noite. Bons tempos aqueles... quem assistiu que o diga. Um dia quem sabe ressuscitemos a coitada (ela merecia um post inteiro só para ela). Assim para o terceiro lugar elegi aquele que nunca assisti: “A Fantástica Fábrica de Chocolates”. Chocolate satisfaz mesmo quando amolece, mas um filme tosco com esse nome ninguém merece, tem que ser muuuuuuuuuuuito ruim.

Em segundo lugar...
Isto era para ser um top cinco, mas como alguém nesse país tem que trabalhar (entenda-se: minha chefe vai sair da reunião daqui à pouco e há uma enorme pilha de DVDs cobrindo a minha escrivaninha cinza claro) vou terminar com o segundo lugar. Filme: “Copycat III - ???” (o subtítulo era tão ruim que eu nem me lembro). Esse filme é sensacional, não vou nem comentar sobre o elenco multirracial que faz com que um russo e uma japonesa loira tenham um filho negro. Vou direto à primeira cena do filme, onde uma chinesa (japonesa, tailandesa ou coisa que o valha) vestindo um uniforme preto em uma mesa de cirurgia e leva uma injeção no meio da testa. Esse é o ápice... depois disso não tenho coragem de comentar mais nada...

Eu sei que as grandes restrições saco-orçamentárias me impedem de ter um campo de comentários decente que permita mais de 5 comentários, mas seja você também, mais um juiz a votar no pior filme trash de toda a sua adolescência! Deixe um comentário!

terça-feira, outubro 19, 2004

Tédio

Ontem eu passei o dia inteiro entediado, depois de um final de semana legal fiquei surpreso em saber que mesmo com bolinhas ainda consigo ficar de mau humor. Não sei bem porque. O ápice do meu tédio foi sonhar que eu jogava Magic: The Gathering com três amigos de colégio (ou deveria dizer com dois amigos e mais alguém) em uma noite chuvosa. É possível isso? Ter um sonho entediante? Para mim é novidade, não me lembro de ter passado por isso antes. Devo dizer que não há nada mais desafiador à criatividade de um sujeito do que o tédio. Nas últimas semanas o numero de posts que tenho publicado andou minguando, fiquei fazendo hora extra por vários dias e não tive tempo para publicar nada. Então vem essa misteriosa onda de tédio, aproxima-se como uma taturana avançando em movimentos circulares, coroada por esse tempo chuvoso, mundos de coisas para estudar, algumas traduções “malas” para fazer no trabalho, centenas de resenhas de clientes para revisar e subitamente rouba as minhas idéias... Devo dizer que o rombo orçamentário na minha conta também não ajuda muito o meu humor... rs. Afinal, não há tédio que resista a um bom rodízio de comida japonesa regado a um bom sake. Uma bela companhia também seria ótima, imagino-a trajando um vestido chinês vermelho com uma flor enfeitando seu cabelo e horas de conversas agradáveis. Ahh... sonhos... o que eu não daria agora por uma travessa com dezenas de sashimis, temakis, guiozas, hot rolls... Ou então uma visita à Curry House... Pelo menos acordado ainda consigo sonhar. Apenas sonhar, porque os números vermelhos do site do banco insistem em agredir meus sonhos na tela do computador.

quinta-feira, outubro 14, 2004

Alô Blumenau! Bom dia Brasil! São 17 dias de folia...

Para ouvir enquanto lê: Don't stop me now – Queen (pensaram que eu tinha perdido o hábito né? rs).

Eu já havia me esquecido como é bom viajar, principalmente depois de árduos meses de trabalho e faculdade. O feriado fôra as minhas merecidas férias longe de tudo e de todos os problemas, pela primeira vez sem preocupações quanto a estar desempregado. Foi épico, muito divertido, descansei, conheci pessoas novas, lugares diferentes, senti saudades, ri bastante e de conheci o lado “selvagem” da vida... rs (desculpem pela piada interna, não pude evitar). O sul é um lugar incrível, eu estou até pensando em fazer uma daquelas promessas de me mudar para lá se eu não casar até os 35 (não que hoje em dia eu pretenda casar... rs, o que é ironicamente engraçado). Pensei até em tentar arrumar um estágio por lá quando eu terminar o bacharelado e transferir a licenciatura para a Federal de Santa Catarina ou coisa que o valha, só pela diversão.
Pretendia escrever um épico sobre a viagem, mas meus esforços foram frustrados, até agora ainda estou com sono, mesmo tendo dormido bem de ontem para hoje. Tentei escrever de lá e atualizar meu blog, mas tudo o que consegui foi enviar uns três recados via orkut, a lan house de lá possuía um teclado ABNT qualquer coisa e eu não encontrava um acento se quer. Meu plano de escrever um diário da viagem também acabou indo por água abaixo, esqueci o caderno e acabei não comprando um. Já as fotos clicadas acabaram se restringindo a um filme iso 400 do Nihil – “o Homem selvagem”, que tentamos acabar às pressas para brincar com um segundo filme de iso 800 que acabou por ficar esquecido no hotel durante a melhor de todas as noites. Mas mesmo depois uma viagem incrível e divertida, mas meu espírito cômico ficou na estrada junto com o meu cérebro, quase 11 horas de viagem na volta, ninguém merece. Então, por hoje ficam os agradecimentos ao Nihil e ao Tex Murph, meus companheiros na Savage Fellowship, que dividiram comigo essa viagem, chocolate e cerveja! E também, a Tezinha (futura candidata a Red Dragon), a Gabi (com quem acabei não conseguindo conversar muito, mas é fofa e gente boa demais), a Keka (pelas risadas e momentos de descontração) e a todas as amigas do Nihil que conheci e de quem não esquecerei. Agora volto a programação normal e a minha escrivaninha cinza claro, lotada de trabalho...

Don't stop me now - Queen

Tonight I'm gonna have myself a real good time
I feel alive and the world I'll turn it inside out - yeah
And floating around in ecstasy
So don't stop me now don't stop me
'Cause I'm having a good time having a good time

I'm a shooting star leaping through the sky
Like a tiger defying the laws of gravity
I'm a racing car passing by like Lady Godiva
I'm gonna go go go
There's no stopping me

I'm burnin' through the sky yeah
Two hundred degrees
That's why they call me Mister Fahrenheit
I'm trav'ling at the speed of light
I wanna make a supersonic man out of you

Don't stop me now I'm having such a good time
I'm having a ball
Don't stop me now
If you wanna have a good time just give me a call
Don't stop me now ('Cause I'm having a good time)
Don't stop me now (Yes I'm havin' a good time)
I don't want to stop at all

Yeah, I'm a rocket ship on my way to Mars
On a collision course
I am a satellite I'm out of control
I am a sex machine ready to reload
Like an atom bomb about to
Oh oh oh oh oh explode

I'm burnin' through the sky yeah
Two hundred degrees
That's why they call me Mister Fahrenheit
I'm trav'ling at the speed of light
I wanna make a supersonic woman of you

Don't stop me don't stop me
Don't stop me hey hey hey
Don't stop me don't stop me
Ooh ooh ooh, I like it
Don't stop me don't stop me
Have a good time good time
Don't stop me don't stop me ah
Oh yeah
Alright

Oh, I'm burnin' through the sky yeah
Two hundred degrees
That's why they call me Mister Fahrenheit
I'm trav'ling at the speed of light
I wanna make a supersonic man out of you

Don't stop me now I'm having such a good time
I'm having a ball
Don't stop me now
If you wanna have a good time (wooh)
Just give me a call (alright)
Don't stop me now ('Cause I'm having a good time - yeah yeah)
Don't stop me now (Yes I'm havin' a good time)
I don't want to stop at all
La da da da daah
Da da da haa
Ha da da ha ha haaa
Ha da daa ha da da aaa
Ooh ooh ooh

terça-feira, outubro 05, 2004

Carta a um velho amigo: Sobre ideologia e vinho

Hahahaha.Ah, caro amigo, soubesse você o tanto que o tempo me trouxe... Quantas mudanças, quanta maturidade...Acho que o melhor que posso dizer a meu respeito nesse sentido é parecido com o meu gosto para a bebida:Aprendi que não se bebe para encher a cara, mas para degustar uma boa bebida. Em fato beber e comer carne são coisa que faço por gosto e até por um posicionamento ideológico que vai contra a radicalização das idéias e contra os fundamentalismos. Eu poderia parar de beber ou de comer carne a qualquer momento se e somente se eu quisesse, se achasse que isso tem algum valor e quando falo em valor digo-o para mim, não tento aqui postular sobre o que todos devem ou não achar e fazer. Existem motivos muito bons para cada ato.
De um certo modo eu poderia dizer que não deixei de acreditar na "revolução", mas que, como tudo, tem de ser feito com consciência, ao contrario do que muitos pensam (aqueles que buscam a iluminação através dos atos e não das palavras). Embora as pessoas de modo geral não tenham gostado das continuações de matrix, eu devo dizer que, apesar delas não possuírem a genialidade do primeiro, as pessoas optaram por criticar o lado comercial e esquecer as discussões filosóficas. O segundo filme deixa bem claro aquilo que estou tentando dizer. O importante não é o ato em si, mas a compreensão sobre o que deve ser feito. Acho que isso expressa uma base muito grande onde se fundamentam vários dos meus comportamentos e das minhas ideologias hoje.
Yuppie de terninho? Rs... Meu gosto musical mudou bastante nesses anos todos, creio que para melhor, como disse a única coisa que tenho achado absolutamente agradável na idade é que um vinho de uma safra antiga tem um sabor melhor. Fui metaleiro, quase from hell, hoje estou muito próximo da ecleticidade. A pura ecleticidade em si não tem para mim muito valor, acho que ela deriva de uma ausência de aptidão crítica sobre uma das maiores formas de expressão, a arte. A arte é um dos filhos incompreendidos da humanidade. Hoje ela sobrevive de forma muito triste transformada em mercadoria como tudo aquilo que o homem é capaz de criar. Fácil é ouvir música, difícil e compreendê-la. Fácil é parar diante de um quadro, difícil é decifrá-lo. Fácil é ler um texto, difícil é compreendê-lo. O segredo para o gosto está no que Saussure chamou de significante e significado (o que mais uma vez me remete a uma das conversas mais agradáveis que já tive na vida e da qual sinto muita falta). Se eu mostrar um kanji, yama, por exemplo, a uma pessoa qualquer na rua, para ela isto nada irá significar. Serão apenas três traços verticais, que alguém poderia dizer simples traços, alguém poderia dizer um borrão e alguém poderia dizer que é um buraco feito pelas garras do Wolverine. O significante neste caso não teria significado certo para essas pessoas. Mas se eu mostrasse o mesmo kanji a você que estudou japonês por 8 anos, independentemente de não se lembrar quase nada, você pode até não lembrar do nome, mas sabe que yama é o kanji para montanha. O significante para você tem um significado. Partindo deste ponto sabemos que você pode discutir a respeito deste kanji e atribuir a ele um valor. Assim como poderia falar com propriedade sobre The Doors, uma banda que você sempre gostou, mas talvez não possa falar sobre música folclórica Neozelandesa.
Sobre o modo de vestir, acho que não sigo exatamente um modo, tenho sim um modo próprio, uma amiga minha disse que eu sou meio esporte... rs Creio que um hábito que adquiri depois do exército. Prefiro roupas que não me restrinjam os movimentos e que não sejam absolutamente largas podendo enroscar em qualquer coisa. Gosto de bolsos vários, fundos e ajustados ao corpo de modo que não pressionem o que eu carrego contra o meu corpo, mas que também não fiquem sacolejando. Atualmente eu tenho investido mais em um visual motociclista, devido à necessidade de ter roupas que protejam mais em caso de queda.
E para terminar de responder a sua carta, falemos sobre o vício da internet. A internet é uma ferramenta. Assim como uma chave de fenda ela por si só não é boa ou má, conceitos meramente humanos. Bom ou mau é o uso que damos a ela. Acho uma ferramenta formidável, só espero que sua esposa não tenha que disputar pela sua atenção com o computador, isso sim é um hábito desagradável. Um amigo que temos em comum, tem o péssimo hábito de deixar suas visitas esperando enquanto passa horas ao telefone. Isso é extremamente desagradável e desrespeitoso, reduzir uma pessoa a um objeto, que fica sobre sua estante até que você deseje utilizá-lo ou não e que, como qualquer criança descuidada e deslumbrada ou um animal como um gato, irá largar de qualquer jeito em qualquer lugar quando alguma outra coisa qualquer lhe chamar a atenção. O vício pode ser sobre qualquer coisa, pode ser sobre cocaína ou basquete, mescalina ou computação, álcool ou limpeza. O que caracteriza o vício é o abuso de algo em detrimento a uma obrigação ou ao convívio social.
Espero que me desculpe pelo tom absolutamente filosófico e um tanto frio que impregnei nesta carta, mas não escrevo no meu blog há alguns dias e achei nesta um prazer e um tema propício para um bom post. Lá, você a encontrará dentro em poucos momentos...

[]’sJuca

quinta-feira, setembro 30, 2004

Procuro enfermeira: pago em espécie.

Como é ruim ficar doente. Não falo isso por todos os motivos óbvios. Claro que todos os motivos diretos são muito chatos, as febres, as dores, as limitações... sem falar no prejuízo, mas cada vez que fico doente tenho a impressão de que atropelei um cigano. Observem o meu caso: Há algum tempo em um passado longínquo eu fiz um curso de massagem onde fui instruído e agraciado com a dádiva de ajudar as pessoas. Mas havia nesse mesmo curso uma senhora meio estranha que sentava na frente da sala e que me atirava olhares horripilantes cada vez que eu ganhava um elogio dos meus professores. Eu me empenhava bastante e como era o aluno mais jovem, era inevitavelmente notado em meio a uma sala de aula composta por senhoras em média 30 anos mais velhas que eu. Entre outras coisas, isso fazia com que eu ganhasse massagens dos meus professores a cada vez que eles necessitavam de um modelo. À margem de minha apreciável condição, esta estranha figura que usava um par de meias vertiginosamente listradas, carregava sempre um baralho só com cartas de copas, um fole e um cesto de maçãs, rogou-me uma praga. Desde então, sempre que preciso de massagem passo maus bocados até a conjunção astral mais próxima se realize (Depois da palestra que assisti essa semana sobre os calendários lunar e solar na cultura japonesa tenho a impressão de que tem alguma coisa haver com isso também).
Mas vamos aos fatos recentes. No final de semana eu fui inocentemente ajudar a minha irmã mais velha que havia tirado a coluna do lugar, uma das pessoas que eventualmente consegue escapar a regra e me fazer massagem. Coloquei no lugar, tudo muito naturalmente, e na segunda feira à noite comecei a me sentir mal. Minha terça feira foi desprezível, desmerecendo qualquer comentário... Quarta feira logo cedo decidi dar fim ao meu estado miserável e ir a um hospital. Lá chegando fui atendido por uma médica absurdamente mal-humorada que fez pouco caso de eu ter passado a terça toda com febre e ainda quis me fazer sentir culpado por existir. Não obstante, ganhei ainda duas injeções na nádega esquerda, que hoje eu tenho a impressão que vai se destacar do meu corpo e cair dura no chão, e um “vai trabalhar vagabundo”. Para não dizerem que eu sou machista vou citar o comentário de uma das minhas amigas do trabalho sobre esta parte da história: “_ Desencana, o namorado dela dever ter dormido de calça jeans ontem”.
Moral da história, hoje estou melhor, mas não tenho um puto para comprar os remédios que ela mandou e a injeção de ontem está perdendo o efeito, o que significa que vou voltar a piorar até amanhã, ainda mais com esse tempo tosco que está fazendo aqui em Sampa. Com essa história toda estudei muito menos do que eu queria essa semana e estou me sentindo o último Dodô. A carência de estar doente sozinho é algo absolutamente insuportável. Odeio a sensação de vulnerabilidade e dependência, queria sumir da face da Terra.

sábado, setembro 25, 2004

Chega de ser o bonzinho.

Não, não estou puto da vida, não levei mais um fora que me fez rolar por três meses, não aconteceu nada de mal, nada de ruim. Em fato nunca estive tão lúcido. Vou contar uma historinha, ela começa com um garoto frágil e sensível, que só queria agradar de todas as formas às mulheres. Não posso dizer que ele tenha aprendido tudo o que havia para ser aprendido, estava bem longe disso, mas ele aprendeu bastante, digamos que ele tenha aprendido quase o suficiente. Incrivelmente este garoto nunca deu muita sorte no quesito relacionamentos, engraçado não? Pois é, creio que o mais engraçado é que as pessoas que se aproximavam sempre o faziam seduzidas por duas imagens que na verdade não existiam, o anjo e o demônio. Mas o anjo era bonzinho demais, e como tudo o que é muito doce, ele causava satisfação e enjôo para não falar no medo de se estragar algo belo. O demônio, bem esse era bem visível, mas sempre ficara lá dentro e raramente saia para dar umas voltas. Entretanto, as pessoas que viam o demônio corriam para ele extasiadas com sua presença.
O irônico era isso o garoto ser as duas coisas e não ser nenhuma. Engraçado terem sempre o visto como o amante perfeito, mas um péssimo namorado, engraçado olharem para ele e verem nele aquele ar de cafajeste que ele sabia ter no sangue, mas queria a todo custo negar. O garoto era muito bom com uma coisa, sabia ler as pessoas de trás para frente, ele sabia olhar nos olhos de uma mulher saber exatamente o que ela queria ou não, mas pecava em uma coisa, nunca quis machucar ninguém, morria de medo disso. Pois que o tempo passou e pensando em todas as oportunidades perdidas e na vida que havia pela frente o garoto percebeu o seguinte: “Não arriscar nada é arriscar tudo”. Chega de medos, chega de proteções infindáveis que no fundo só lhe roubam a agilidade, chega de porquês e mas. Chega. A verdade é que a vida é uma só e se ficamos cheios de dedos para fazer as coisas, acabamos sem fazer nada. Isso não significa tocar o f0d4-s3 e machucar todo mundo, mas dar às pessoas a opção de viverem suas vidas e arriscarem o quanto estão dispostas. Não se trata de enganar ninguém, muito pelo contrário, trata-se da verdade mais absoluta, aquela que o garoto negou por todo esse tempo, mas que nunca seria feliz se não tentasse libertá-la. No fundo, somos o que somos, nada mais e nada menos.

sexta-feira, setembro 24, 2004

Nada melhor que amizade, amor e afins

Nada melhor do que a sensação de pele limpa depois de um banho tomado e cheiro de sabonete, do que transar com quem se ama ou com quem se deseja, do que estar apaixonado. Do que andar de moto no calor e sentir o vento no rosto, do que andar descalço na areia limpa da praia quando ela ainda não esquentou, do que comer quando você está com muita fome ou beber água quando se está com muita sede. Não há nada melhor do que ver alguém que você ama corresponder à sensação, mesmo com todos os problemas, com todo o mundo caindo ao redor. Nada melhor do que ver aquela garota especial que você conhece há anos, que é uma super amiga sua e que você acha super fofa te abraçar com vontade e sorrir. Não há nada melhor do que fazer rapel sob um céu de brigadeiro e uma vista linda, nada melhor do que levantar logo cedo depois de uma noite bem dormida em uma manhã de primavera. Não há nada melhor do que ser bom em algo que você faça e ser admirado por isso, do que pintar um quadro inspirado e sentir o cheiro dos pigmentos. Não há nada melhor do que conversar por horas com aquele seu amigo inteligente nem há nada melhor do que ler um bom livro deitado na cama com um prato de cookies e um copo de leite. Nada melhor do que beijos na boca, abraços fortes e ganhar um beijo de quem você queria. Nada melhor do que passar um dia inteiro fotografando com um amigo, nem do que ficar preso dentro de casa quando o mundo desaba lá fora sem compromisso algum exceto o de estar lá e se divertir com alguém de quem se gosta sob o barulho da chuva. Nada melhor do que ver o brilho nos olhos ao reencontrar um amigo e nada melhor do que reencontrar um grande amigo que você não vê a 10 anos. Não há nada melhor do que ter amigos maravilhosos e conhecer pessoas incríveis. Não há nada melhor do que um bom cálice de vinho, pedaços de um bom queijo (um não, vários!), pé de moleque, bicho de pé, sashimi e sake! Nada melhor do que a Boemia, do que ouvir música, do que conhecer pessoas interessantes e fazer bons amigos aonde quer que você vá. Nada melhor do que a excitação do trabalho instantes antes do almoço, quando você fica curioso para saber com quem vai almoçar e aonde. Não há nada melhor do que viver sem se preocupar e ser feliz por isso, sem precisar de motivos senão a própria felicidade.

terça-feira, setembro 21, 2004

Janelas

Estou pensando em matar uma dessas noites para pintar uma paisagem. Faz muito tempo que não pinto nada e sinto muita falta, mas mais do que isso me faz falta uma janela para que eu possa ver o mundo lá fora. O andar onde trabalho no Nautilus, não possui janelas, a única exceção é aquelas janelas de banheiro velho que circundam todo o andar, mas ficam ocultas por persianas propositalmente colocadas para tanto. Hoje sinto falta da Valentyne, levei-a para a revisão ontem e vou buscá-la hoje ao final do meu expediente. Ela se tornou rapidamente uma parte importante da minha vida, me faz lembrar dos poucos instantes onde sou realmente livre, senhor de mim. Estou querendo viajar para passar mais tempo com ela, porém me falta grana para isso. Nesta última semana tenho me apegado às coisas que deixo passar. Fico pensando quantas oportunidades passaram sem que eu pudesse aproveitá-las. Preciso desesperadamente levantar uma grana, quero por as minhas contas e coisas em ordem. Para quê? Ainda não sei ao certo, mas quem sabe se eu juntasse uma grana legal, pagasse todas as minhas contas e tentasse arrumar um novo emprego... bom, eu poderia tirar umas férias e viajar com a Valentyne para o sul do país, por um mês talvez... Acho que me faria muito bem. Então, a pintura que quero fazer ficaria pendurada ao lado do meu PC e seria o ícone do mundo lá fora, dos lugares desconhecidos, de pessoas exóticas. O ícone da minha iluminação, de uma vida melhor, a promessa de um amanhã diferente de tudo.

terça-feira, setembro 14, 2004

A volta do bom humor

Acordou esfregando os pés por debaixo da cama, com nova disposição e com o sol atravessando as arestas da janela. Enrolou, estava com preguiça de ir trabalhar. Procurou uma desculpa dentre o rol de pequenos mal-estares que o acometiam recentemente. Estômago virado logo cedo, torcicolo crônico e uma recente dor de ouvido com ares de bumerangue. Logo desistiu de ter preguiça e acabou por levantar. Engoliu alguma coisa de que mais tarde se não se lembraria só para dizer que comeu algo. Arrumou-se e partiu. Sempre que tinha insights sobre a condição humana se sentia bem disposto logo cedo. Hoje era um dia desses. Desviou do cachorro na entrada da casa e deu bom dia a Valentyne, seu verdadeiro amor, que dormia em um quarto empoeirado, daqueles onde pode se ver a poeira dançando no ar logo que os raios de sol o alcançam. Desviou novamente do cachorro que resignava-se a levantar e sair do caminho. Ignorou os presságios de chuva. Vestiu a luva, o capacete e deu a partida. O ronco do motor encheu o ar e acordou aos gatos. Com o coração crescendo e ocupando todo o peito doou-se à liberdade. Só conhecem o dom da liberdade aqueles que voam sobre o asfalto em duas rodas, com o vento no rosto e sentindo os cheiros da estrada.

segunda-feira, setembro 13, 2004

E assim segue mais um dia cinza chumbo.

Começou bem, levantei com o estômago embrulhado e desejando dormir o resto do dia. Hoje é segunda-feira o pior dia da semana e o dia que irá começar o meu segundo semestre. Supostamente eu deveria estar feliz com isso, mas vou começar tendo uma aula de japonês que não entenderei bulhufas porque não pego nos livros há um ano. Já estou até vendo, vou entrar na aula e passar por alguns momentos constrangedores quando a minha sensei mandar eu ler alguma coisa ou responder há algum exercício e eu simplesmente tiver a impressão de que estou lendo lídiche em alfabeto cirílico.
O tempo estava horrível quando olhei pela janela o que me lembrou que provavelmente vou pegar chuva de moto, já que não tenho dinheiro para pegar um ônibus até a facu (o que por um lado é excelente), mas ao mesmo tempo o contador de gasolina da Valentyne anda me pregando uma peça, de repente ele resolveu cair de uma vez para próximo da reserva. Espero que ela ande até o dia 15, quando eu continuarei sem dinheiro, mas pelo menos voltarei a ter limite no banco. De mais a mais, o meu final de semana foi bem estranho embora tenham ocorrido algumas coisas muito legais.
Andei pisando na bola com a minha “mais melhor amiga” e ela está afim de construir uma forca na frente da casa dela, onde suponho eu há uma grande possibilidade de eu encontrar alguns corpos de criaturas vagamente humanas semi-carbonizadas empaladas no portão de entrada e uma tabuleta de “aberta a temporada de caça aos elfos” da próxima vez que eu a visitar. Gostaria que a vida tivesse alguns save points, assim eu poderia simplesmente voltar atrás das m3rd4as que eu faço e não teria medo de morrer quando encontrasse o chefão da fase.

domingo, setembro 12, 2004

Deus está de brincadeira comigo hoje!

Olha o meu Horóscopo de hoje (sic):
"A raiva que circula solta por aí parece motivada pelas limitações, mas na verdade alimenta-se dos sonhos que ainda permanecem sem realização. Porque, senão, a alma se irritaria com as limitações? Consentre-se nos sonhos."

Twpish!!!! (onomatopéia de tapa)

e para completar o do meu ascendente (sic):
"Alimentando-se do medo a pergunta de, se vale a pena tanto sacrifício para realizar os sonhos, sugerindo inibir o impulso da criatividade e conquistar uma paz ilusória, dado que você continuaria sonhando mesmo assim."

Twpish!!!! Twpish!!!!
Na cara!!!!!

Deus só pode estar de brincadeira comigo hoje....

quinta-feira, setembro 09, 2004

Perdidos na tarde

Existe um sentimento que se abate sobre o coração dos homens em determinados dias, em determinadas tardes. É um sentimento como o por do sol, com cores vibrantes e um céu pintado de um material que não se sabe bem o que. É o mesmo que se sente entre as árvores de um bosque, em pleno silêncio em um canto afastado do mundo, onde se percebe que não existe o silêncio puro, mas a melodia das folhas e da natureza. Tem algo haver com a o calafrio extasiante que percorre nossos corpos ao pisarmos em folhas secas e com a brisa que nos refresca levemente em uma tarde de verão. Certas mulheres conseguem nos dar esta sensação, de que perdido em uma sala de cimento escuro no começo da tarde, preso há uma máquina de metal e plástico, um suspiro percorra o corpo e nossa boca lembre vigorosamente o sabor de um beijo com desejo e vontade. Uma saudade de algo que possa nunca ter acontecido. Basta sentir o aroma suave que desfila no ar com sua passagem, basta ver um arquear de lábios, ouvir um riso perdido. Bastam tão poucas coisas... Apenas a sensação de sua presença. Apenas um encontro de olhares, a leveza de um toque, a beleza de um sorriso. Ah! Soubessem elas o tremor que causam, as palpitações, os sonhos... E enquanto isso permanecemos aqui. Ocultos do mundo, distantes da luz do dia, fora da vida e longe de mais de tudo.

sexta-feira, setembro 03, 2004

A poucos centímetros da auto-suficiência – insights e conclusões em uma sexta-feira estranha.

Pois bem, seu topos foi muito apropriado Buck. Tão apropriado que resolvi escrever a respeito (pero no mucho).
Deus realmente deve ser um velhinho sacana, aliás, o único Deus que deve existir realmente é o Priapo. Explico, o Priapo era uma divindade fálica greco-romana, utilizada em frente às casas como uma espécie de “espantalho” junto a uma tabuleta com uns dizeres muito gentis, algo similar a “Se você invadir ou roubar este lugar currar-te-ei filho da P...” e eu não estou brincando, isso é sério mesmo. Ele também era muito cultuado em ocasiões “festivas”, se é que vocês me entendem, mas isso já é outro assunto.
Eu estava pensando na quantidade de obras feitas por homens para as mulheres, como diz aquele texto (que dizem que é do Jabor) tudo é por causa das mulheres. Mas curiosamente não há recíproca, ou melhor, se há eu ignoro. O mais próximo a isso que eu conheço são as chamadas “cantigas de amigo” que nada mais são do que lamentos frustrados e irados de mulheres pela ausência do amante. O que por sinal me faz recordar uma outra excelente observação do Sr. Buck a respeito de uma mísera palavra. Vingança - substantivo feminino - ato ou efeito de vingar; vindicta; punição; castigo; desforra; represália; desforço. Uma das palavras mais ouvidas saindo da boca de mulheres em referência aos homens. Quanto a nós, homens, continuamos a escrever poesias, músicas, livros, pintar quadros, fotografá-las e até a construir uma das maravilhas do mundo. Ouvi dizer que homens e mulheres hão de se tornar espécies diferentes. Não duvido, creio até que os homens entraram em extinção, porque toda essa adoração exasperada e esse ódio não há de terminar bem realmente. Entendam que não se trata de misógina da minha parte, eu sempre acreditei que homens e mulheres eram iguais, sou até um dos caras mais bobos que conheço nas mãos delas. Mas permaneço aqui com um terrível problema, não sei qual a palavra correspondente feminina para a misoginia (do Grego. mis, r. de misein, odiar + gyné, mulher). Somente depois de uma busca demorada consegui achar o correspondente, misandria, que curiosamente não consta no dicionário embora a palavra exista. Convido os meus leitores a fazerem uma pequena busca no Google por essa palavra onde vocês encontraram textos e dados bastante interessantes. Entre as justificativas para este fato vocês notarão que a misoginia é reprovada pelas sociedades ocidentais, o que não ocorre com a misandria por ser um hábito absolutamente freqüente. Uma das frases que me chamou a atenção foi a seguinte: “Enquanto que o agressor do sexo masculino é passível ser condenado por crimes de violência, as mulheres agressoras são vistas como loucas ou insanas” o texto integral pode ser encontrado na página: http://www.socratesnolasco.com.br/newshomer.htm Outro texto interessante pode ser encontrado em: http://nzmera.orcon.net.nz/p6maljus.html Curioso pensar como o homem branco em pouco mais de um século conseguiu o tornar-se o tipo humano mais discriminado. Mas a intenção deste post não era tornar-se um estudo sociológico, então volto a idéia do Sr. Buck e penso que atualmente a única coisa que o homem pode esperar hoje é que a evolução o compense ou acreditar que pode ter mais sorte na próxima encarnação.

segunda-feira, agosto 30, 2004

Inércia - Tudo é uma questão de razões.

Ao acordar de manhã levantou porque tinha de trabalhar, comeu para poder tomar seus remédios, tomou seus remédios para não surtar enquanto trabalhava. Foi trabalhar para poder pagar seus estudos, a conta da moto e a do analista, ou melhor, do analista e da moto que usava para ir até ele e até a faculdade. Ou pelo menos era o que ele queria acreditar.
Alguns amigos afirmam que Prozac é hoje uma religião. Eu afirmo que na verdade a religião é um Prozac. A religião obriga você a acreditar que há um ser supremo, Deus-pai-todo-poderoso, Magnus Opus, que olha por seus atos e que irá puni-lo ou bonificá-lo de alguma forma caso siga ou ignore dada conduta, caso você não faça exatamente o que “ele” deseja. Primeiramente eu não quero nem comentar o fato de que um ser supremo teria coisas muito melhores para fazer do que ter de criar um mundo e observar as pessoas nele. Explico, se estamos tratando de um ser perfeito ele não teria curiosidade uma vez que é onisciente, não criaria a humanidade para observá-la, e se o fizesse seria em um ato de extremo tédio. Ora, se deus está entediado ele não pode ser perfeito e as coisas não começaram nada bem. Uma vez que é onipotente ele poderia ter criado algo melhor, e teria lugares mais interessantes para estar apesar de ser onipresente. Mas não é sobre o conceito e o propósito de Deus que quero falar, por tanto darei função à religião e voltarei à questão. A religião serve a dois propósitos fundamentais: estabelecer um código de conduta tendo em vista o funcionamento da sociedade e do indivíduo exposto às pressões desta. Por analogia tanto a religião quanto o remédio, funcionam para sanar os mesmos problemas, as questões existencialistas.
As questões existenciais sempre foram um problema para o homem. Qual a real motivação do indivíduo para viver e seguir um modo de vida? O que faz com que o indivíduo levante de manhã e faça algo? A atual sociedade propõem um modelo onde a resposta se resume a uma palavra: desejo. Funciona em função da busca pelo hedonismo, estimulando o consumo e por tanto a produção. Para manter o ciclo ela necessita da criatividade, inventividade, tecnologia, propaganda e reciclagem. Isto apenas para citar algumas das coisas. Para que os desejos possam ser produzidos em série, rapidamente e em quantidade eles devem ser padronizados, dando origem ao irônico termo conhecido como “cultura de massa”, que nada mais é do que a padronização da população e que nada tem de cultura no sentido erudito da palavra. A sociedade atual induz a uma resposta que é artificial e que tenta nos fazer esquecer a pergunta.
Existe um pensamento que eu creio seja o maior sofisma perpetrado pela nossa espécie. A crença de que somos animais racionais. Uma vez que somos criaturas de instintos, pensamentos, sentimentos e desejos não creio que possamos ser chamados racionais porque muitas vezes a racionalidade é suplantada por nossos instintos, sentimentos e desejos. Em que isso nos difere dos animais? Nossas relações são mediadas por instintos, estabelecidas à força e segundo nossos interesses. A questão social nunca evoluiu para além da selva.
Por um longo tempo eu cometi o erro de justificar a razão da minha existência através dos meus atos e das pessoas a quem amo. Acreditava que aquilo que eu fizesse poderia ser a essência de meu ser, a minha razão. Acreditava em agir com nobreza em honra àqueles que amo. Na verdade um modo bonito de se dizer que se eu fosse uma pessoa de bem, seria admirado, respeitado, querido, desejado e amado. Portanto em pouco tempo esta se tornou a razão do meu ser. Porém isso encerra um grande problema, toda vez que a relação que tenho com as outras pessoas muda isto me afeta de uma maneira violenta. Essencialmente quanto mais significativa a relação com a pessoa mais violenta a reação, maior o tombo por assim dizer. Toda vez que perco um amigo ou uma namorada eu literalmente morro, porque meus atos deixam de ter um propósito, um sentido, um significado e uma razão. Aprendi a viver em função das outras pessoas, aprendi a não acreditar nos meus olhos, mas nos olhos de outrem. Quando sou amado me sinto bem, sei que sou uma boa pessoa, quando abandonado, volto às trevas do esquecimento. Não consigo ser de outra forma por mais que eu tente. Tento me amar, mas não vejo nisso mais que uma motivação narcisista e egoísta, não acredito na realidade que capto com os meus sentidos a respeito do meu ser. Talvez porque eu não aspire grandes coisas além de amor, o que infelizmente envolve outros seres.
Então eu pergunto a todos os que me lêem: Qual o motivo que vocês tem para levantar da cama de manhã e viver a vida? O que faz com que vocês passem pela vida e não que a vida passe por vocês? Porque amor é uma mera convenção, relativa a proteção e admiração, relativa a instituição de quem é sagrado para você. Devo afirmar que nesta alçada não sou mais do que um mero aspirante. Que me apaixono como qualquer cachorro de rua quando recebe um osso qualquer. Mas como todo o cachorro de rua não sou capaz de gerar admiração por parte de ninguém. Não tenho características impressionantes. Não sou nada além de “fofo”, mas não quero ser um travesseiro. No final eu sou sempre o cara legal com quem as pessoas contam quanto precisam, mas se esquecem quando apropriado. E isso não tem nada haver com recompensa, mas com notabilidade. Por mais que eu me esforce, não sou digno de nota. Se nós somos todos animais e vivemos para crescer e perpetuar a espécie, neste caso sou fadado ao fracasso. Sou um sobrevivente astuto não um garanhão musculoso. Sou apenas um coiote que uiva só no topo da montanha. Não posso mais ansiar grandes relações que me façam viver com meus antiquados ideais nobres, nem esperar que essas relações me preencham. Assim, já tenho meus remédios, não quero uma religião ou uma crença em um futuro improvável, não será nada que eu compre que irá me responder o que quero saber. Não quero me importar porque assim dói menos, já que sou fraco, admito a minha fraqueza! Quero apenas uma resposta e não quero a resposta definitiva, quero apenas saber que motivo faz cada um levantar logo cedo e viver a vida!

sexta-feira, agosto 27, 2004

Jogando dados com o diabo

Certa vez eu li um conto muito interessante sobre um irlandês muito sortudo que sempre ganhava as apostas que fazia. Diziam que ele seria capaz até de enganar três vezes o diabo. Até que um dia o diabo apareceu para comprovar a teoria...
Não vou contar o resto da história porque ela é muito boa, e em algum lugar no meu ser eu desejo não estragar o deleite das pessoas que eu gostaria que lessem-no um dia.
Há muitos anos, uma das minhas expressões mais conhecidas era “jogar dados com o diabo”. Acho que não preciso explicar muito a respeito até porque meus parcos leitores já a conhecem. Ainda assim explicarei, aliás, explicarei com uma frase que não é minha: “Life is cheap when the bounty is high;
So are you ready to die?“
Depois de muito tempo votei a tentação de jogar dados com o diabo. Imagino que se conversássemos seria algo mais ou menos assim:
_Boa noite jovem mancebo.
_Boa noite.
Um silêncio seguiria entre os moveis rústicos de madeira em um ambiente predominantemente marrom de um pub irlandês, quase com os tons da fase holandesa de Van Gohg, exceto pela iluminação um tanto mais calorosa e pelo cheiro forte de madeira.
Os olhares falariam por um longo tempo, o meu levemente audaz, desafiador. O dele, plácido.
_Não há necessidade de constrangimentos ou rivalidades aqui. Cedo ou tarde TODOS voltam.
Ele colocar-se-ia de lado e indicaria com a mão a passagem até uma mesa com pão de centeio, queijos vários, salame italiano, azeite extra-virgem e cerveja irlandesa.
_Você não esquece não é mesmo?
_No meu negócio, hospitalidade e memória são muito importantes, uma leve e agradável risada tornaria a frase reconfortante.
Comeríamos um pouco e enquanto ele retiraria do bolso um pequeno jogo de dados de marfim, que nos acompanhariam pela noite toda rolando pela mesa. Ao final, eu teria ganhado a maioria das partidas, então me levantaria e diria.
_Você nunca se cansa? Eu vinha aqui freqüentemente e nunca perdi, mesmo depois de todo esse tempo continuo ganhando.
_Vou lhe contar um segredo, mais cedo ou mais tarde TODOS perdem. Uns mais cedo, uns mais tarde. Alguns perdem na primeira rodada, outros nunca perdem. É tudo um lance de sorte.
Um instante de silêncio e ele diria ainda:
_Gosto de você, você é um bom cliente, uma companhia agradável, sabe das coisas, conhece as regras... Você não vem aqui para ganhar. Você vem aqui pelo jogo.
Um breve e caloroso abraço e ele abriria a porta para mim.
_Agasalhe-se bem, está frio lá fora.Abriria totalmente a porta e flocos de neve voariam para dentro, revelando um mundo azul lá fora.

quinta-feira, agosto 26, 2004

sexta-feira, agosto 20, 2004

E a canção do flautista começa lentamente.

Sexta-feira, 15:00 horas e eu aqui à deriva... Não porque não tenha o que fazer, estou com uma pilha de trabalho acumulado, mas sei lá... é como se eu não estivesse aqui. Não sei explicar, a Fada disse que é essa mesma a sensação no início, de que eu não sou eu mesmo. Tudo está diferente, meu equilíbrio, meu tato, meu paladar, os cheiros e o meu olhar. Nada de mal com isso, não por enquanto. Mas eu estou aqui, sentado em frente ao meu micro, com tendinite devido ao excesso de trabalho e tentando esquecer que daqui a pouco terei de enfrentar o trânsito infernal de Sampa para chegar até Avalon. Não que eu não queira assistir a minha aula hoje, pelo contrário, eu só queria chegar logo e sair logo. Acho que é a ansiedade me roendo de novo. Pelo menos ela também não está tão ruim como de costume. O trabalho não para de acumular e parte dele ainda é problema alheio. Até este post está estranho. Será que isso tudo não é algum sonho estranho?

quarta-feira, agosto 18, 2004

Ontem...

Existe um tipo de solidão diferente do habitual, ela se refere a sentirmo-nos sós quando estamos em meio a uma grande multidão.
O elfo singrava pela floresta rasgando o chão de pedras em direção ao local onde, diziam, encontraria o que buscava. Diversos olhos observavam atentos a uma curta distância física, mas a uma grande distância psicológica. Ele seguiu sem dar muita atenção ao fato de estar sendo tão observado, entregava-se a sensação de liberdade proporcionada pelo contato com Valentyne e ignorava o fato que atraia a curiosidade de outros sobre a sua pessoa. É verdade que a princípio teve receio de voar por entre as matas de pedra. Teve medo de que bandoleiros o abordassem, de se sentir acuado, de não ser ágil o bastante. Teve muitos medos. Todos infundados. A agilidade do elfo continuava tão extraordinária quanto sempre fora, mesmo depois que os ratos...
O elfo sabia exatamente para onde estava indo, de fato, já estivera no local uma vez. Sabia exatamente a dimensão dos poderes que estava evocando, tivera a oportunidade de ver estes poderes em ação pelo menos duas vezes e sabia que estes poderes poderiam tanto resolver os seus problemas quanto gerar outros piores. Poderes muito grandes, tão grandes quanto perigosos... Chegara ao local muito cedo, mas fôra rapidamente conduzido pelo arauto a uma sala de espera onde permaneceu por um tempo infinitamente menor do que ele havia previsto.
Encontrou com a Pixie que estava de passagem por ali e teve de falar muito rapidamente com ela, pois a arauto não tardou a se aproximar falando femininamente em um tom um tanto solene.
_ Vamos, a flautista irá lhe receber agora.
Em um movimento rápido e um pouco descordenado o elfo apresentou a Valentyne à Pixie e combinou de vê-la depois que falasse com a flautista.
O que se seguiu logo após isso é muito difícil de se descrever.O elfo entrou no salão aonde a flautista indicara-lhe um lugar para sentar. Não sabia quais cores estava de fato enxergando, mas tinha a impressão de que as roupas da flautista emitiam um leve brilho amarelado. Seus olhos, duas ônix perfeitamente redondas, observavam-no atentamente radiando um brilho sinistro e, a princípio, um pouco desconfortante. O elfo falou por um longo tempo antes que a flautista se pronunciasse. Depois que tudo havia sido esclarecido acordaram um alto preço. Mas o elfo já estava consciente disso, faria qualquer coisa para se livrar dos ratos.

terça-feira, agosto 17, 2004

RATOS! Ratos! ratos!

Singramos a cidade juntos, eu e Valentyne.
Gritando por entre carros e rasgando o asfalto direto para o destino.
Hoje, o grande dia onde a sombra buscará o flautista para trazê-lo ao seu domínio.
Aceitará o flautista o pagamento? Tocará o flautista a mesmerizante canção para varrer consigo os ratos da cidade? E os ratos? Para aonde irão depois disso?

Symphony of Destruction - Megadeath

You take a mortal man,
And put him in control
Watch him become a god,
Watch peoples heads a’roll
A’roll...

Just like the pied piper
Led rats through the streets
We dance like marionettes,
Swaying to the symphony...
Of destruction

Acting like a robot,
Its metal brain corrodes.
You try to take it’s pulse,
Before the head explodes.
Explodes...

Just like the pied piper
Led rats through the streets
We dance like marionettes,
Swaying to the symphony...
Of destruction

The earth starts to rumble
World powers fall
A’warring for the heavens,
A peaceful man stands tall
Tall...

Just like the pied piper
Led rats through the streets
We dance like marionettes,
Swaying to the symphony...
Of destruction

segunda-feira, agosto 16, 2004

sexta-feira, agosto 13, 2004

Resenha: Peter Pan

Prólogo: Depois da crise de ontem e dos sonhos durante a noite, hoje acordei inspirado e resolvi compartilhar com o mundo a resenha que escrevi no meu trabalho para o filme Peter Pan. Segue o texto:

Adaptação da clássica peça de teatro de J.M. Barrie, escrita há mais de 100 anos, Peter Pan, permanece como um dos contos mais do que presentes no imaginário coletivo. É a famosa história do garoto que não quer crescer e vive na terra-do-nunca, liderando os garotos perdidos em aventuras entre sereias, índios, crocodilos e piratas. Seu arqui-rival é o tenebroso Capitão Gancho, o terrível líder dos piratas, que busca obsessivamente destruir Peter Pan e nutre pavor por um certo crocodilo... Tudo isso continua sendo um desafio de crítica, uma vez que permanece na estreita linha entre infantil e adulto, discutindo exatamente o tênue limite entre ambos.
O filme Peter Pan do diretor P.J. Hogan (O Casamento do Meu Melhor Amigo) não deixa nada a desejar, sendo cotado como a versão definitiva de Peter Pan para o cinema. Uma montagem de grandiosos efeitos especiais, mas que mantém o simbolismo, a inocência e a profundidade do texto original, investindo nos fatores psicológicos, no realismo e no clima romântico e sombrio.

quinta-feira, agosto 12, 2004

vulnerável

Gritos preenchem uma sala vazia esbarrando em visões lembranças e acontecimentos incontados. Fascina-me a capacidade afrodisíaca do poder, nada consegue ser tão ensurdecedoramente estridente. Basta apenas um carro, um salário, um posto, um uniforme, uma vantagem ou outra para causar uma comoção e um movimento. Enquanto isso eu me rendo facilmente a um simples e sensual toque casual em minhas costas, capaz de me fazer estremecer, pensar e repensar, capaz de me fazer viajar entre imagens, delírios e sonhos. Nesta hora, lembro-me que também não poderia deixar de citar Valentine... My Funny Valentine... Mas em verdade não sei como fazê-lo. Não me sinto à vontade para tanto, embora saiba que você nunca se importaria. Meus sentimentos continuam a me tomar de assalto e fico cada vez mais desesperado à medida que continuo sem ter como comprar uma solução. E continuo entediantemente ansioso, absolutamente sozinho, completamente desesperado, absolutamente perdido, prostrado e vulnerável.

quarta-feira, agosto 04, 2004

E tudo cai ao meu redor.

A existência se despedaça em minha frente como castelos de areia tomados pelo vento. Os dias estão cada vez mais insuportáveis e não consigo resistir às emoções que me tomam. Acontecerá novamente, muito em breve. Tornei-me capaz de distinguir entre as sombras do meu ser o padrão que toma de minhas mãos absolutamente todas as coisas. Foi assim desde o princípio. Eu resisti enquanto cego, mas a visão da verdade, embora redentora, tem minado meus últimos esforços. Meu castelo está sendo tomado ainda mais rapidamente, por um inimigo semi-desconhecido que hoje sei que sou incapaz de combater sozinho. Momentos de lucidez e insanidade se alternam em uma dança rubra infindável. O legado da loucura vem cobrar o seu quinhão, batendo ensurdecedoramente a minha porta. Os golpes mais recentes me tiraram muito mais sangue. As paredes vêm chegando cada vez mais perto. As cores cada vez mais negras. O ar falta. Colapso.

terça-feira, agosto 03, 2004

Só por ontem

As cores eram fortes e entusiásticas, não do cinza escuro habitual.
Os pássaros eram todos de tons verdes, não havia ratos alados no ar.
Os arranha-céus se erguiam altivos e não se esfacelavam com o tempo.
O clima era agradável e tranqüilo, sem nuvens, sem fumaça, sem disel.
As moças riam risos contentes, sem dor, sem medos e sem escárnio.
As pessoas eram mais felizes, não havia cansaço ou problemas.
Os versos eram perfeitos, a vida era boa e eu era feliz.

Porque todos são felizes nos musicais.

Originalmente escrito em 02/08/04 durante a manhã.

Hoje o dia está lindo, com direito a cores entusiásticas, sorrisos e pássaros verdes voando por todos os lugares. Realmente supercalifragilisticexpialidocious. Há muito tempo eu não me sentia assim tão bem. Eu descobri a verdade sobre os musicais, aquele tipo antigo de filmes que hoje não se faz mais (com a exceção de Molin Rouges da vida). Coisa de corujão ou de Sessão da Tarde no começo dos anos 80. Falo sobre os antigos grandes musicais, como “Cantando na Chuva”, “My Fair Lady”, “Mary Popins” e afins, onde mulheres cantavam e dançavam em cenários estranhos desfilando lindos vestidos ou fraques estonteantes enquanto diversos homens sapateavam ao seu redor. Nestes filmes, todos são incrivelmente felizes. A felicidade reina plena, absoluta e pululante em todos os lugares, florescendo, crescendo e exalando por todos os poros. Nada escapa a ela, nem mesmo os falidos, mendigos e desgraçados, todos eles estampam em suas faces um belo sorriso. Não existe desespero, angústia, ansiedade, TPM, depressão, síndrome do pânico e qualquer outro dos máles modernos. Como seria isso possível? Apenas uma única explicação é capaz de desvendar-nos este mistério: Todos tomavam bolinhas para fazer filmes felizes!

sexta-feira, julho 30, 2004

A expiação na escrita.

Creio que uma das melhores coisas em escrever é o aspecto terapêutico. A escrita obriga-nos a organizar os pensamentos exercendo uma lógica um tanto distante da emoção. Mas esta distância é um tanto relativa, uma vez que nunca escrevemos um texto absolutamente despidos de nossas emoções. A própria escolha de verbetes nos leva a um caminhar emocional por entre linhas e páginas, os sentimentos, parte de nossa condição humana não podem ser deixados de lado, constituindo um exercício muito saudável agindo como válvula de descompressão e trazendo cor ao habito de escrever. Motivos existem diversos: Coisas que não conseguimos falar a uma pessoa, mas apenas para o mundo. Monólogos que desejamos que todos ouçam. Idéias mal formadas e formuladas. Pensamentos escorregadios que surgem repentinamente uns sobre os outros. A mente humana é um labirinto de cores, formas, cheiros e sensações onde os pensamentos correm livres atravessando paredes que nós mesmos não podemos. Eu poderia discorrer muito tempo sobre isso tudo, mas quero me deter sobre um determinado aspecto desta questão, na verdade, uma conseqüência.
Não me recordo corretamente da frase ou do seu dono, mas alguém ilustre já disse algo célebre sobre os textos que nascem “abortados”. Lembro-me apenas da situação onde a ouvi: Estávamos eu e a Dríade em uma feira do livro lá em Alexandria quando em um momento de descontração ela leu para mim um poema a esse respeito, talvez fosse da Florbela Espanca ou do Mario Quitana, talvez ela se recorde melhor do que eu. Olho para meus arquivos na tela do computador e me surpreendo com os inúmeros de textos não terminados ou censurados por mim mesmo. Eles residem ocultos entre sinopses e resenhas em uma semi-existência agonizante. Alguns deles tentam apenas expressar minhas revoltas, outros tentam constatar fatos. Muitos tornaram-se dantescos monstros torturados, saindo de trás de filmes não assistidos (no cinema ou em casa, não importa), de almoços tediosos e conversas ridículas e excludentes, ou sobre uma observação quanto ao crescente número de fumantes do sexo feminino. Estes textos impublicáveis nunca chegam à vida realmente, alguns poucos se quer chegam ao papel. E embora me façam sentir melhor muitas vezes, não deixo de pensar sobre o fato de cada texto desses representar uma necessidade de contato. Sobre quantos deles deveriam tornar-se diálogos ao invés de monólogos, sobre a proliferação destes textos.
 Ps.: Seja bem vinda Doroty da Wyrm, poucos Shadow Lords se atrevem a peregrinar por estes reinos. Quanto a seu pedido, saiba que já estou deliberando a respeito e logo conhecerá a resposta.

quarta-feira, julho 28, 2004

Frase Red Dragon do dia

“A merda no capitalismo é o quanto você se propõe a pagar por um pacote murcho de Bono de chocolate em uma manhã fria de inverno, apenas porquê não tomou café...” - Frase Red Dragon do dia

terça-feira, julho 27, 2004

Desesperadamente sozinho

Ando pela rua e observo as pessoas passando. Observo as pombas, os pardais, os cães...
Entro no metrô para me espremer entre estranhos e, em meio deles, ser apenas mais um desconhecido. Os vagões vão sempre cheios, mas continuo sempre sozinho, sonhando com um momento onde todos os trens estarão vazios para que eu esteja realmente só, para que não deseje bater em alguém porque foi estúpido comigo ou com outra pessoa. Chego em casa, as luzes meio acesas e meio apagadas. O pior tipo de solidão é aquele que começa no fundo da garganta, quando parece faltar ar para completar as sentenças, quando os números na agenda são apenas números e você não os disca por sentir-se incapaz de dizer algo que valha a pena; ou por medo de encontrar com o silêncio constrangedor ou por medo de se perder enquanto fala. Medo da rejeição. Outro tipo de solidão vem dos olhos de estranhos. Alguém para do seu lado e no encontro dos olhares faísca uma pequena chama, chama esta que ilumina por instantes a escuridão dentro do ser. Em um mísero segundo, uma mísera esperança... De preencher todos os vãos, de aquecer o frio, de fechar a porta ao vento que varre a alma carregando folhas secas que arranham. Medo, medo, medo... Ando cansado de mim mesmo.

segunda-feira, julho 26, 2004

Score para a balada de sexta

Agradeço a todos que compareceram na sexta no Lone Star, e devo dizer que foi a melhor festa de aniversário que já tive. Muita gente que eu imaginei que iria acabou não aparecendo, mas os meus melhores amigos estavam lá em peso, responsáveis por quase metade dos clientes da noite. Cheguei em casa só as 7:00am, feliz da vida. A banda tocou pelo menos umas duas horas a mais só para a nossa mesa, e parou apenas quando o guitarrista não conseguiu mais convencer o baixista a tocar (acho que ele era casado ou algo do gênero). A balada, como era de se esperar, terminou com um epílogo divertido (e um tanto conturbado) na Floresta da Vó.
Frases da noite:
“_Acho que eu vou pedir o e-mail do carinha da banda...
_Já sabe, chega lá e fala: “E aí? Tamo’ nessas carnes...”” – Fada e Ogro
“Do you want a stalker? Ask me how.” – Ogro, sobre mais um dos poderes mutantes da Fada
“_ Não tem outro banheiro?
_Tem a árvore...” Fada e Mr. X

Score
Namor - adquiriu uma estranha cor amarela
Ogro – best shot on the run
Elfo – maior número de frags
Fada – a mais desejada da noite
Mr. X – desaprendeu a atirar
Doroty – passou para o lado negro da força

E estas foram só algumas...

quinta-feira, julho 22, 2004

Da elasticidade temporal (ou completo tédio)

Acho fabulosamente incrível a capacidade elástica do tempo. Creio não haver qualquer outra matéria que possa se equiparar com sua elasticidade. O tempo tem uma relação estranhamente arbitraria com o nosso temperamento. Basta apenas estar bem para que ele passe mais rápido, porém, uma única gota de tédio é capaz de fazê-lo se arrastar pela eternidade.  Mas, sobre tudo, a pior sensação de todas é a de tempo perdido, como quando você é obrigado a fazer uma coisa no lugar de outra, ou quando você passa um dia inteiro à espera de algo ou alguém. A sensação de tempo perdido tem a capacidade mística de reunir a frustração ao tédio, indo rapidamente ao encontro de algum momento assustadoramente entediante para coroar seu reinado de absoluto terror e desespero em nossa mente. É como se qualquer momento repentinamente se tornasse 6:00 am de Segunda-feira, em uma semana sem sábados nem domingos. É quase o eterno despertar.

quarta-feira, julho 21, 2004

Agradecimentos

Queria agradecer a todos aqueles que de uma forma ou de outra entraram em contato comigo ontem, seja por e-mail, telefone, orkut ou pessoalmente e que tornaram o meu dia especial. Agora, para comemorar o final do meu inferno astral, só falta a balada na sexta feira no Lone Star...Ps.: Desculpem o post breve, mas alguns dos efeitos colaterais do meu inferno astral ainda estão em vigor (o branco e o excesso de trabalho).

quinta-feira, julho 15, 2004

O tráfico de karma no Orkut.

Agora vem a parte pesada da coisa, serei breve e já estou ciente de que haverá retaliação. Possivelmente meu corpo possa ser encontrado em algum lugar obscuro nas próximas horas.

O tráfico de karma no Orkut.
É verdade! Senhoras e senhores é a mais pura verdade! Membros respeitosos da comunidade Orkutiana iniciaram uma série de ameaças a outros membros desta com intenções que claramente ferem a constituição de nossa República! Sim, devo dizer que me prostrei chocado ao ouvira um membro da supracitada comunidade proferir uma ameaça a minha integridade física e psicológica ao descobrir os karmas que eu escolhi para determinados membros. Não obstante assisti a cena se repetir algumas vezes não apenas comigo, mas com outras pessoas. Registro indignado a minha denúncia! E peço aos senhores leitores que se unam a mim na defesa do direito de expressão, da liberdade de imprensa e da personalidade e opiniões próprias! Diga não a chaverização das pessoas! E tenho dito!

O Iluminatti mineiro...

Denúncia
Resolvi comentar duas coisas que perigosas hoje. Não sei, acho que acordei meio fleumático e isso me empolgou a falar. Sigamos então por ordem de periculosidade (e em posts distintos devido a essa caca de servidor de comentários que eu ainda não troquei!).

O Iluminatti mineiro...
Não sei se vocês já notaram a existência do Iluminatti mineiro, parei para pensar à respeito à quinze dias. Na ocasião, estava eu sonolento esperando o ônibus da empresa na porta do metrô quando ouço um papo mais ou menos assim:
_Você já comeu pão de queijo dele?
_Não, só esfiha
_Como você teve coragem?
_Ah! Não pega nada.
_Nunca te fez mal?
_Não.
_Puxa, corajoso...
_Bom, teve uma vez que eu fiquei intestinalmente debilitado, mas acho que nem foi por isso.
_Sei, sei... (contendo o riso)
Foi então que eu notei que a conversa se tratava sobre um daqueles caras que ficam logo cedo na porta do metrô vendendo café, mais precisamente os que só vendem café e pão de queijo.
_Eles devem ter um patrão em comum.
_Por que?
_Todos eles trazem os pães de queijo em Tupperware transparentes e idênticas, e os pães têm exatamente a mesma aparência.
_Podes crer! E tem em todo o lugar, na porta de cada metrô, os caras vendem e vão embora todos os dias quando acaba, geralmente de bicicleta.
Embora eu deva confessar que a conversa foi escrita com seu vocabulário levemente enriquecido, foi isso realmente. Nos dias seguintes iniciei uma observação mais atenta que até agora, só tem me confirmado o fato. Portanto, não estranhem se eu de repente desaparecer. Interessados no fato, os Red Dragons pretendem realizar uma reunião para investigar o possível tráfico de outros produtos mineiros legítimos, como Salineira e queijo meia cura, por esse Iluminatti em breve.

terça-feira, julho 13, 2004

Primeiros Erros – Kiko Zambianchi

Primeiros Erros – Kiko Zambianchi

Meu caminho é cada manhã,
Não procure saber onde estou,
Meu destino não é de ninguém
E eu não deixo meus passos no chão.
Se você não entende, não vê,
Se não me vê,não entende,
Não procure saber onde estou
Se o meu jeito te surpreende.
Se o meu corpo virasse sol,
Minha mente virasse sol,
Mas só chove e chove,
Chove e chove.

Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros,
Meu corpo viraria sol,
Minha mente viraria sol,
Mas só chove e chove,
Chove e chove.

Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros,
Meu corpo viraria sol,
Minha mente viraria sol,
Mas só chove e chove,
Chove e chove.

Meu corpo viraria sol,
Minha mente viraria sol,
Mas só chove e chove,
Chove e chove.
Meu corpo viraria sol,
Minha mente viraria sol,
Mas só chove e chove,
Chove e chove.

segunda-feira, julho 12, 2004

Montanha Russa

A excitação começa e você entra na fila. A fila é grande, cheia de pessoas de todos os tipos. Logo você vai se aproximando do brinquedo e, como uma formiga, fica sob sua sombra que se estende em direção ao infinito. As possibilidades são enormes, o medo toma conta. Você pensa em voltar, mas está no meio da fila e apesar das batidas fortes dentro do peito e do medo de cair de novo, você pensa: que mal há? Então sobe abordo do carrinho e se deixa levar. O carrinho dá um tranco e sobe lentamente engatado por uma corrente, os primeiros momentos são sempre carregados de tensão. O carrinho chega ao topo ao mesmo tempo em que o ar do seu pulmão acaba, e o temor dança friamente em seu estomago em um momento que parece durar para sempre, exatamente por ser um instante tão pequeno, exatamente por acabar tão depressa. Então, ao se dar conta, você já está descendo vertiginosamente e no segundo em que o carro termina a primeira curva você quer mais, você quer que aquele momento não termine e ele acaba por passar mais e mais rápido. Quando o carrinho estaciona no final da plataforma você quer subir de novo, extasiado, mas contempla a grande fila oculta na sombra e que como você, não quer que a alegria acabe.
Este feriado foi incrível, um dos melhores e mais divertidos dos últimos tempos. Aliás, devo agradecer a Fada que vem me apresentando pessoas incríveis, fabulosamente inteligentes, boas e extremamente virtuosas! Fada, como você conseguiu passar tanto tempo longe dos seus amigos? Eles são pessoas excepcionais, únicas!
Uma das melhores coisas foi a naturalidade com que se sucederam os acontecimentos, quando vi estava fazendo coisas que eu planejei há anos sem nunca concretizar, coisas que sempre desejei, que sempre fizeram parte de mim. Um das coisas mais tristes que podem acontecer a alguém é se anular diante de outras pessoas. Às vezes isso acontece sem que nos demos conta. Eu reencontrei coisas e conheci pessoas que agora fazem parte da minha alma. Claro que as pessoas diferentes também fazem parte e isso dá certo gosto ao mundo, o ser humano necessita do contraste. Neste final de semana eu me peguei fazendo um pouco de tudo aquilo que mais gosto e de forma natural, sem ter que lutar com ninguém para conseguir isso. Foi tudo crescendo e ficando cada vez melhor, mais divertido. No final eu me senti como a criança que sobe a montanha russa e, quando o carro chega no final, quer ir novamente. (Mas até o final de semana que vem vou ter que enfrentar a fila!).

quinta-feira, julho 08, 2004

Em branco e desespero!

Passa uma semana inteirinha e eu não consegui postar nada!
Estou desapontado comigo mesmo, tive uma série de idéias do tipo zapping e mais nada. E para ajudar, estou novamente com problemas no sistema de comentários! Bill, o seu sistema de comentários é bom? Acho que vou colocá-lo... O sistema não fornecer grandes novidades não é um problema, agora, limitar o numero de comentários é muita sacanagem. Espero que no final de semana o branco vá embora e meus comentários possam fluir livremente. Afinal "The comments must flow"...

sexta-feira, julho 02, 2004

Quando tudo o mais der errado...

Já que não consegui produzir um texto legal sobre o meu inferno astral (a tentativa frustrada deu no texto “O cheiro do enxofre” que teria uma segunda parte mais cômica), resolvi aproveitar meu inferno astral para contar uma velha história.

Não consigo me lembrar quando ou onde a idéia surgira, lembro-me apenas que ela me ocorreu pela primeira vez enquanto eu assistia a um filme, provavelmente em companhia do Velho Bukowsky. Aliás, diga-se de passagem, costumo ter grandes insights quando assisto alguma coisa com o Buck, é uma pena que com o passar dos anos estes programas tenham se tornado bastante escassos, para não dizer raros, já que a última vez que assistimos a um filme juntos foi começo do ano passado. Não me lembro há que filme assistíamos naquela ocasião, lembro apenas que era sobre assassinos, um dos nossos temas preferidos, e que o mesmo havia sido produzido ou dirigido pelo Tarantino. O fato é que o Tarantino sempre dá um jeitinho de aparecer em alguma cena de seus filmes e nesse não havia sido diferente. O filme já estava no final, os protagonistas haviam fugido para o México e então, de repente, ao entrarem no bar do hotel... Lá estava o Tarantino, apenas para contar uma piada tosca e ser assassinado, tudo em menos de 2 minutos.
Eu queria de ter a habilidade do Sr. Graciliano Ramos para descrever como uma idéia surge na cabeça de uma pessoa. Foi tudo em um instante, como em um show de mágica, você olha a cartola e não há nada dentro, você olha de novo e... Voilá, eis um belo coelho branco. E o meu coelho branco era bem grande, com paredes caiadas que contrastavam com o avermelhado da terra entre canyons e um sol raiante. Um puteiro no México.
Não me perguntem o porquê deste estranho desejo. Existem pessoas que desejam ser jogador de futebol, existem pessoas que desejam assistir novelas, existem pessoas que vão ao baile funk, que assistem briga de galo, que fazem a farra do boi, que comem quiabo, tem até quem ame a Sabrina e que, principalmente, fazem de uma bobagem qualquer a motivação de suas vidas. Porque então seria absurdo pensar em um puteiro mexicano? Fico imaginando ele lá, no meio do deserto sob aquele sol todo, ao lado de um pequeno alambique e uma plantação de mezcal (um tipo de agave da qual se destila tequila)... Sim, que espécie de puteiro mexicano seria o meu se não tivesse sua própria tequila entre dúzias de outras. Também haveria de ter uma dançarina estupenda dançando com uma cobra Albina (e eu ainda nem assisti “From Dusk till Dawn”). E para completar, uma piscina e algumas mesinhas com guarda-sol para beber com os amigos, caso algum tenha coragem de me visitar um dia. Os devaneios posteriores incluíram também uma Jacuzzi ao lado da piscina e um quarto para o meu amigo Pinóquio, que um dia vai se cansar da política e acabará se decidindo por me fazer uma visita permanente. Agora, perplexos, vocês podem me perguntar: Mas que tipo de pessoa tem por objetivo de vida um puteiro na puta-que-o-pariu do México? E eu lhes respondo: Eu nunca disse que esse era o meu objetivo de vida... Se vocês têm alguma dúvida sobre isso, basta reler o título.

sexta-feira, junho 25, 2004

Sexta-feira, está virando um dia de posts estranhos…

Convenci-me que meu último post foi muito chato e acho que não vou colocar a seqüência. Estou nutrindo um período muito estranho, com direito a exclusão, hormônios, cheiro de morango, saque e loucura para variar um pouco. Loucura minha grande companheira... Vou contar uma historinha, quando eu era pequeno vivia com um dicionário de espanhol debaixo do braço, a fim de aprender a língua. Eu me orgulhava muito da minha ascendência hispânica e queria muito aprender a língua e os costumes. Acho que todo mundo passa por uns insights assim de vez em quando. Até que um certo dia o dicionário levou “misteriosamente” um sumiço, isso e mais algumas outras coisas me fizeram desanimar. Um certo comentário do Sr. Buck me fez repensar a questão há algum tempo, mas não havia sido suficiente para me convencer a voltar atrás (e olha que o motivo envolvia a Elizabeth Hurley, mais do que suficiente para aprender qualquer coisa). Então, ontem eu estava ouvindo algumas músicas que baixei quando uma música em especial me chamou a atenção (surpreendentemente, não colocarei a letra por enquanto... será que alguém arrisca um chute e adivinha qual é?). Após ouvi-la umas cinco vezes seguidas, acho que ela fez com que eu recuperasse a vontade de aprender espanhol (mas vai ter que entrar na fila, depois do japonês e disputar a vez com o francês). Creio que isso se deu pelos seus ares, estes, me fazem lembrar do meu “plano de contingência”, mas esta é outra longa história que ficará para um dos próximos posts.

quinta-feira, junho 24, 2004

O cheiro do enxofre

O Elfo estava curioso, não sabia dizer de onde surgira toda aquela zica e mau humor. Três dias antes havia viajado até uma floresta distante para visitar os antigos de seu povo. Era sábado, o sol já havia baixado revelando um céu estrelado e uma noite fria, tudo corria muito bem. Os anciões perplexos louvaram sua chegada e no exato momento de sua chegada, um burburinho correu o salão: “O filho de um dos patriarcas se encontra entre nós”. Todos estavam contentes com sua presença, durante toda a sua estadia fôra tratado como o filho de um rei.
As primeiras festividades correram calmamente até a meia noite, quando os ritos haviam sido cumpridos e os anciões satisfeitos voltavam para as suas casas. Então, o que deveria ser uma diversão foi na verdade o início de uma tortura, uma tortura que ele sabia estava fadada a começar, embora não soubesse sob qual forma viria. Havia sido alertado pelos oráculos horas antes que dentre diversas coisas boas se ergueria uma terrível. A carta que o alertara mostravam diversas espadas gotejantes de sangue, “Crueldade”, não era a primeira vez que a vira e a anterior não havia sido nada agradável, deixara marcas profundas sentidas pelo Elfo ainda nos dias de hoje. Falou mais uma vez aos anciões e juntou-se a dois primos distantes para iniciar uma caçada. Vestiram-se com suas armaduras e prepararam seus espíritos, o mais velho fôra na frente, abrindo o caminho com certa displicência característica, remanescente das bebidas rituais. O Elfo e o mais jovem seguiam atrás.
Chegaram então ao lugar, em meio ao frio, mato e neblina. Aproximaram-se da clareira onde jovens ninfas saldavam a diversos caçadores, eram tantas e tão belas que o Elfo ficou deslumbrado. Não conseguia recordar-se de uma festividade tão formidável na floresta de onde vinha, que embora tivesse apenas árvores de pedra, ele insistia em chamar floresta. Sem que ele soubesse sua sina começara. Colocou-se a observar as Ninfas e a conversar sem sorte com algumas delas, todas pareciam nutrir um certo fascínio e medo, havia uma tensão, todas queriam aproximar-se. A banda tocava entusiasticamente e a multidão entoava as canções com furor. Uma ninfa ousada de cabelos loiros aproximou-se. Inquiriu ao Elfo dizendo que uma outra ninfa queria conhecê-lo. Por um momento, a dúvida atravessou os olhos do elfo, que se pôs calmamente a conversar com a ninfa. Esta notou que o Elfo possuía um espírito nobre e explicou que a outra ninfa não poderia vir até ele, pois ajudava a organizar as festividades. Despediu-se com um beijo cobiçoso próximo aos seus lábios e logo sumiu na multidão carregando o recado. Poucos instantes após viera outra, uma ninfa anciã, portando um novo recado. A banda parara de tocar e o salão começara a esvaziar lentamente, em pouco tempo a vasta clareira seria inundada pelo raiar da aurora. O elfo procurara a ninfa que mandara os recados para conversar. Não ficou surpreso, embora ela fosse bonita certamente não era surpreendente, tinha os cabelos castanho-escuros e era pouco mais baixa que ele. A sensação se confirmou após alguns instantes, durante uma conversa truncada, atrapalhada pelos afazeres da ninfa. Foi então, enquanto conversava com a ninfa morena sob os olhares atentos da ninfa anciã, que era na verdade mãe da morena e da loira, que aparecera outra ninfa. O salão já estava praticamente vazio. Ela veio atravessando o salão a passos decididos parando no balcão, seu rosto estava a apenas cinco centímetros do rosto do Elfo. Possuía cabelos lisos, negros e era definitivamente a ninfa mais impressionante que vira durante toda à noite. Ela se manteve firme, obstinada, aguardando apenas um movimento do Elfo, o ar se tornou diferente. O Elfo teve um impulso e deu uma rápida olhada sobre seu ombro direito para a belíssima ninfa. Logo olhou rapidamente ao redor e teve a certeza de que se correspondesse seu olhar os poucos guerreiros que guardavam o local cairiam sobre ele para vingar a ofensa perpetrada a contra a ninfa morena. Praguejou mentalmente e continuou conversando com a ninfa morena. A bela ninfa abandonou o salão, caminho que o Elfo seguiria não muito tempo depois, tão vazio quanto entrara.