sexta-feira, setembro 30, 2005

Perda de Tempo

2:02am, vagam pela casa eu e os espectros da noite. A luz vinda do quarto no final do corredor espalha pelo resto da casa uma tênue iluminação que tinge com tons de amarelo as cores azuladas da visão noturna. Sigo o corredor a passos calmos, alcanço o quarto com os cabelos molhados começando a formar cachos e, numa retrospectiva de falas perdidas por outrem ao longo do dia, penso quanto tempo perdemos ao longo da vida com preocupações fúteis e assuntos menores sem nunca se dar conta disso. Nesse momento roubo uma hora do meu sono já atrasado pela espera de um visitante ausente para redigir essas parcas linhas. Redijo-as para não perder o costume, redijo-as para cumprir uma promessa feita a mim mesmo, redijo como se esta fosse uma carta endereçada ao meu nome. Enfim, escrevo por motivos diversos, mas retornando ao assunto, perdemos tempo com muitas coisas que, de fato, não interessam. É isso, foi só uma constatação, não pretendo perder muito mais sono para explicar o que deve ou não interessar. O fato é que algumas das coisas que quero estão estagnadas a dias por conta das falsas prioridades a que a vida moderna nos impõe.

sábado, setembro 17, 2005

"Home is where your heart lies, they say."

Não sei quem pronunciou essa frase pela primeira vez, nem quem foram os primeiros a propagá-la, mas gosto de pensar, como decerto deve ser, que esta frase surgiu em meio àqueles homens bravios que singraram o azul desde o princípio das coisas. Pode ser apenas ilusão minha, mas essa é parte de minha natureza de pretenso contador de histórias e tecelão de sonhos. Assim, sonhem comigo. Sonhem porque é na ousadia dos homens que seguem em busca do lugar onde o céu toca o mar que mora a verdade. Sonhem porque embora só os sonhos possam ser assim tão belos, não é preciso fechar os olhos para viver pesadelos. Sejam grandes e audazes, mesmo que isso por vezes signifique arriscar o que lhes é mais caro, como tantos homens e mulheres o fizeram antes de nós. "Be bold - and mighty forces will come to your aid" - Basil King. Porque mesmo se estivermos à deriva, mesmo se tudo o mais der errado, o nosso lar continuará sendo o lugar aonde o nosso coração pertence.

terça-feira, setembro 06, 2005

Paradoxos

Tremeu diante do silêncio, pálido como um defunto em frente à tela azulada do computador. Era ali em seu quarto, mas poderia ser em qualquer necrotério aos sons dos pneus distantes atravessando as ruas molhadas pela chuva que passou. Chuva que também poderia ser ali, dentro de casa, dentro do quarto, debaixo de seus olhos e sobre o seu coração. Só compreende a solidão quem dela sofre. Porque só os solitários sabem o que é sentir o coração apertado, enrijecido pelo frio. Um frio que qualquer um poderia calar exceto eles mesmos. Ser só é como morar em uma casa sem paredes e ser açoitado pelo vento que devora as plantas e agride os corpos com pequenos fragmentos de areia. Desejou, ao menos uma vez na vida, compreender o segredo de não precisar de nada nem de ninguém. Por algum tempo talvez até o tenha compreendido, ou assim acreditava. O segredo das crianças com seus amigos imaginários, o segredo dos velhos que falam sozinhos. A noite avançava cada vez mais fria e ele amaldiçoava a expectativa e o sentimento desperto. Se ele transformara seu coração em pedra o que os outros tinham com isso? Não é o princípio de não sentir dor, o de não causá-la? Ao menos a si próprio... Deixem me então esquecer o que é o amor, porque não se sente falta de alguém a quem se desconhece ou de um lugar onde nunca se esteve.