terça-feira, junho 05, 2012

Vagas

O vento e a chuva castigam a janela aborrecendo as pessoas, mas não a mim. Chegaram ontem, de sobressalto, pulsando vida que recebo com a alegria velada de quem vê no outro o reflexo de uma paisagem muito mais interna. Era como aguardar um amigo que está a anos-luz de distância. E que quando chega não fala, ficamos apenas calados, sentados na varanda e isso nos basta. Eu sonhei que era assim que eu encontrava um casal de velhos amigos e contava a eles um sonho que tive (com eles) sem evitar falar em versos com éfes e éles . Era natural, sem esforço, ao mesmo tempo em que  eu era um garoto na estrada querendo aprender sobre garotas e uma rapaz sendo cortejado num bar. E o bar era uma piscina, que era um lago, que pendia sobre o garoto na estrada e arrebentava mar. Eu deixava os meus amigos em seu ninho-castelo de portas abertas e paredes grossas cheias de espinhos. Eu seguia a estrada de pé sobre uma parelha de cavalos. Eu abraçava a garota pela cintura e me despedia como quem sabe que parte por conta de alguma inadequabilidade, que me carrega sobre as vagas para algum outro lugar. Então acordo à deriva, feliz por ter trocado o toque do meu alarme, mesmo que esse estivesse alto demais. O outro me deprimia. E me inclino para fotografar a janela do ônibus, toda molhada, sem me importar para onde este me leva ou quanto tempo levará para chegar.