sábado, agosto 03, 2013

Sinistro

Você me disse que ficaria por perto, lembro-me bem. Não foram as palavras que você não disse, mas seu olhar misterioso, aterrador, profundo, seu sorriso belo e sinistro. O dia é belo, quente, claro e de cores profundas. As árvores despem-se deixando a pele nua e as folhas caídas pelas calçadas. O telefone toca logo cedo e sua campainha arrasta consigo para longe o humor das cores. Silêncio. O azul do céu, antes profundo e alegre, agora possuí um aspecto patético, baço, ainda que não houvesse mudado em nada desde o instante anterior. Outro pecador se vai para aqueles que acreditam em pecado, mas para mim... para mim segue o silêncio. E penso nisso tudo enquanto ando e o sol arde, enquanto espero na estação rabiscando quieto o meu pesar sobre as páginas do caderno. Pesando o tempo enquanto o trem singra a planície entre os galpões e prédios ao deixar para trás as casas bucólicas. O amigo vai ficando distante enquanto o trem se afasta da estação. E quando menos espero você está aqui outra vez. Ou talvez eu seja apenas um cego incapaz de ver que você nunca saiu do meu lado.