terça-feira, maio 12, 2015

Tantálio

Tinha olhos, mas não podia ver. Cego por uma presença invisível, de gosto doce e cheiro acre, agarrada a carótida e atada a língua em palavras não ditas, que esticava suas garras longas e jorrava tédio garganta abaixo. Convulsionando em meio a apoplexia, a tinta escorria sobre o papel como que por milagre, sangrando de poros há muito esquecidos. Uma arte contraditória que pulsa da morte do ser e do ser da morte. Morte, morte, morte. 9 vezes morte ou quem sabe mais. Comiserava-se e velava-se em meio a um silêncio brutal de palavras vazias. Uma ladainha contínua, vinda de todos os lugares. Um balbuciar insensato a brotar de múltiplas bocas plenas de inutilidades. Gritou para si mesmo de um canto escuro da mente e esperou o eco que nunca vinha quebrar a inercia de uma existência insípida.