Outrora alegre e abarrotada, a casa agora lutava contra o vazio, varrida por um vento intenso que fazia a pele arrepiar de frio e dissipava o calor das camas. O silêncio se deitava entre lençóis amarrotados e objetos largados ao acaso avisavam olhares desavisados da presença que agora não eram mais que uma lembrança. Um triste fim para dias tão festivos, ainda que tão humano quanto nascer, crescer e ser esquecido, se é que um lugar possa ser humano.
Mas talvez os lugares possam ser humanos e os animais, plantas e objetos também, uma vez que a grande maioria dos seres humanos consegue ser menos que humano a maior parte do tempo. Mais que isso, talvez eles aspirem à humanidade que esforçamo-nos por renegar. Talvez aquela casa tenha sido, entre suas paredes caiadas de branco, mais nobre a sua maneira do que seus visitantes, dando de abrigo e reconfortando viajantes diversos sem se importar com sua origem, destino ou destinação na vida.
Quem me dera eu fosse meio-casa. Vivesse sem me importar com quem entra e sai do âmago da minha vida e ser feliz por apenas servir em minha simples e humilde existência. Ser tão incapaz de ofender alguém como qualquer objeto ordinário e ainda assim poder reconfortar os incautos. Deixar que estes andassem descalços por entre os meus aposentos no contato mais íntimo que alguém pudesse ter sempre que quisesse. Ser forte o bastante para sobreviver às intempéries sem depender de outrem e quando não pudesse mais reconfortar a ninguém simplesmente ruísse.
E pensando nisso agora, quem me dera ser um pouco menos humano para poder desejar isso sem um tom de falsidade ou arrependimento.
Little, Big
Há 2 meses