quinta-feira, junho 24, 2004

O cheiro do enxofre

O Elfo estava curioso, não sabia dizer de onde surgira toda aquela zica e mau humor. Três dias antes havia viajado até uma floresta distante para visitar os antigos de seu povo. Era sábado, o sol já havia baixado revelando um céu estrelado e uma noite fria, tudo corria muito bem. Os anciões perplexos louvaram sua chegada e no exato momento de sua chegada, um burburinho correu o salão: “O filho de um dos patriarcas se encontra entre nós”. Todos estavam contentes com sua presença, durante toda a sua estadia fôra tratado como o filho de um rei.
As primeiras festividades correram calmamente até a meia noite, quando os ritos haviam sido cumpridos e os anciões satisfeitos voltavam para as suas casas. Então, o que deveria ser uma diversão foi na verdade o início de uma tortura, uma tortura que ele sabia estava fadada a começar, embora não soubesse sob qual forma viria. Havia sido alertado pelos oráculos horas antes que dentre diversas coisas boas se ergueria uma terrível. A carta que o alertara mostravam diversas espadas gotejantes de sangue, “Crueldade”, não era a primeira vez que a vira e a anterior não havia sido nada agradável, deixara marcas profundas sentidas pelo Elfo ainda nos dias de hoje. Falou mais uma vez aos anciões e juntou-se a dois primos distantes para iniciar uma caçada. Vestiram-se com suas armaduras e prepararam seus espíritos, o mais velho fôra na frente, abrindo o caminho com certa displicência característica, remanescente das bebidas rituais. O Elfo e o mais jovem seguiam atrás.
Chegaram então ao lugar, em meio ao frio, mato e neblina. Aproximaram-se da clareira onde jovens ninfas saldavam a diversos caçadores, eram tantas e tão belas que o Elfo ficou deslumbrado. Não conseguia recordar-se de uma festividade tão formidável na floresta de onde vinha, que embora tivesse apenas árvores de pedra, ele insistia em chamar floresta. Sem que ele soubesse sua sina começara. Colocou-se a observar as Ninfas e a conversar sem sorte com algumas delas, todas pareciam nutrir um certo fascínio e medo, havia uma tensão, todas queriam aproximar-se. A banda tocava entusiasticamente e a multidão entoava as canções com furor. Uma ninfa ousada de cabelos loiros aproximou-se. Inquiriu ao Elfo dizendo que uma outra ninfa queria conhecê-lo. Por um momento, a dúvida atravessou os olhos do elfo, que se pôs calmamente a conversar com a ninfa. Esta notou que o Elfo possuía um espírito nobre e explicou que a outra ninfa não poderia vir até ele, pois ajudava a organizar as festividades. Despediu-se com um beijo cobiçoso próximo aos seus lábios e logo sumiu na multidão carregando o recado. Poucos instantes após viera outra, uma ninfa anciã, portando um novo recado. A banda parara de tocar e o salão começara a esvaziar lentamente, em pouco tempo a vasta clareira seria inundada pelo raiar da aurora. O elfo procurara a ninfa que mandara os recados para conversar. Não ficou surpreso, embora ela fosse bonita certamente não era surpreendente, tinha os cabelos castanho-escuros e era pouco mais baixa que ele. A sensação se confirmou após alguns instantes, durante uma conversa truncada, atrapalhada pelos afazeres da ninfa. Foi então, enquanto conversava com a ninfa morena sob os olhares atentos da ninfa anciã, que era na verdade mãe da morena e da loira, que aparecera outra ninfa. O salão já estava praticamente vazio. Ela veio atravessando o salão a passos decididos parando no balcão, seu rosto estava a apenas cinco centímetros do rosto do Elfo. Possuía cabelos lisos, negros e era definitivamente a ninfa mais impressionante que vira durante toda à noite. Ela se manteve firme, obstinada, aguardando apenas um movimento do Elfo, o ar se tornou diferente. O Elfo teve um impulso e deu uma rápida olhada sobre seu ombro direito para a belíssima ninfa. Logo olhou rapidamente ao redor e teve a certeza de que se correspondesse seu olhar os poucos guerreiros que guardavam o local cairiam sobre ele para vingar a ofensa perpetrada a contra a ninfa morena. Praguejou mentalmente e continuou conversando com a ninfa morena. A bela ninfa abandonou o salão, caminho que o Elfo seguiria não muito tempo depois, tão vazio quanto entrara.

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