Deitado na varanda à sombra dos arbustos repousava em uma rede um homem admoestado pelo sono insistente. O tempo quente das tardes de verão deixava tudo vagaroso. A brisa às vezes acariciava o corpo, refrescava e balançava a rede. O cheiro de frutas invadia a casa vindo do pomar, os gatos dormiam sob o sol, tudo compunha um quadro. Do seu lado esquerdo, em uma pequena mesa redonda, branca, repousava um copo de limonada com gelo e um livro, “A queda que as mulheres têm para os tolos”, uma excelente tradução de um autor francês desconhecido feita pelo senhor Machado de Assis. Uma cigarra chiava ao longe fazendo lembrar o cheiro de mato dos dias de infância e o riso dos primos. O sol escapava por minúsculos espaços entre as folhas das árvores para furar a sombra, lamber-lhe o colo e iluminar a pequena pinta que residia só entre a sobrancelha e o olho. Espreguiçou-se e virou de lado expondo o torso nu, o sono vinha gostoso e os sonhos, doces como néctar, regados num desejo de ouvir Djavan. Ah... vontade de poesia que rola no corpo, na sensação de toque leve na pele e no cheiro de calêndula. Dentes de Leão voando pelo ar, escalando o céu claro até as nuvens brancas que dançam no cerúleo refletidas na íris e na pupila dilatada, pegadia, perdida.
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