Eu queria escrever algo, mas está difícil. Rabisco meia dúzia de textos, começo duas, três vezes cada um e nenhum me agrada. Apago tudo e volto para a prancheta. Eu queria escrever, mas tem faltado tempo, tantas coisas no trabalho, na cabeça, tanto o que fazer, resolver, pensar, acaba não saindo nada, fica tudo lá, preso misturado, tudo errado: girafas com trombas, tigres púrpura, rosas de vidro, prédios de taipa, pessoas de chocolate, asfalto com pimenta. Eu queria escrever sobre como está difícil esvaziar a mente e simplesmente relaxar, eu só queria pensar um pouco, mas quando paro as coisas continuam, rodam ao meu redor, não fluem. Não é só comigo, é com todo mundo. Todo mundo tem que trabalhar, pagar as contas, cuidar da namorada ou de arranjar uma, levar o cachorro no veterinário, ir ao médico, fazer isso, aquilo, aquele outro... O tempo passa e não temos tempo para nós mesmos. Há quanto tempo eu não leio um livro inteiro? Quantas vezes eu realmente consegui me divertir esse ano? Quantas vezes eu não tive horário para voltar? Tento encontrar um ou dois amigos, combinar um cinema, um jogo, um churrasco, uma cerveja. Nunca dá, não tenho tempo, não tenho dinheiro, fulano também não, a garota vai viajar, a moto vai para revisão, o namorado está doente, tenho aula, tenho que estudar, minha mina não quer, Tsunami, vacinação das borboletas, greve dos asnos cegos do Himalaia, estiagem no Nepal, blá, blá, blá... Nunca dá, e quando dá é sempre um estresse, todo mundo quer relaxar, as coisas saem um pouco do eixo, não foi como previsto, discussões, brigas, boxe. Há um tempo, um grupo de amigos que havia se quebrado voltou a se encontrar, motivo: Um deles tentara suicídio. Então houve uma comoção e todos os resolveram se unir para que ninguém mais se matasse. Ninguém mais se matar? Legal, quem precisa ver os amigos porque gosta deles não é? Eles entendem... morrem virando vidros de remédio, mas entendem. E assim se formam os grupos na sociedade, objetivos em comum! Suicídio coletivo, esporte, religião, motos, comida... E prioridades? Para que? Só para justificar o próprio livre-arbítrio, mas o outro... que se foda.
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