sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Reflexões Sobre a Natureza Envasada

Era uma tarde quente e úmida de final de ano no “agreste universitário”. Não bastasse o calor abrasador, eu sentia uma bela de uma fome numa época em que não é aconselhável sentir fome depois que o bandejão já fechou.

Saio para tentar um lanche e procuro incessantemente algum lugar que esteja aberto. Corro para lá, corro para cá e com um pouco de sorte encontro uma cantina fechando antes de considerar a caça uma opção mais viável. Dou uma olhada (bem) rápida entre as diversas (leia-se: duas) opções do menu e agradeço por não existirem cantinas estatais. Escolho o croissant de quatro queijos com o medo e a certeza de descobrir que os quatro queijos inclusos são o queijo ralado, o queijo fatiado, o queijo em pedaços e o queijo em filetes. E para completar peço um suco de laranja de lata.

A senhora dona da cantina me atende com tamanha boa vontade que me sinto culpado por sentir fome. Alguma coisa me diz que ela não sabe que não é funcionária pública, provavelmente a mesma coisa que me diz que ela não vai acreditar se eu a disser. Pego a comida, procuro por uma mesa na sombra, sento, como e num ímpeto de curiosidade leio (sic):

“Ingredientes: Água, suco concentrado de laranja, açúcar, antioxidante ácido ascórbico e aroma natural de laranja. Pasteurizado. Não contém glúten.”

A grande laranja desenhada no rótulo me observa desconfiada. Releio tudo assustado e confuso. O aroma natural de laranja não deveria ser parte integral do suco concentrado de laranja? Se este suco tem aroma natural de laranja quer dizer que outros sucos naturais de laranja podem ter aroma artificial?

Desconfiança é assim, depois que nós encontramos um motivo qualquer para duvidar de algo tudo o mais se torna inquietante. Até quando leio que: “Esta lata contém em média o suco de 5 laranjas” fico me perguntando porque não encontrei a palavra “naturais” após “laranjas”. Será que a única coisa natural do meu suco é o aroma?

Acho que esse é mais um daqueles mistérios como a água mineral natural gaseificada, que em 90% dos casos esconde em algum canto da embalagem uma menção sorrateira em uma fonte pequena e borrada com os dizeres: “gaseificada artificialmente”. Foi-se o tempo em que quando alguém somava uma coisa artificial a uma coisa natural esta pessoa tinha a decência de chamar o subproduto de artificial também. Devo então supor que o meu computador também é natural, já que é feito de silício, ouro, alumínio e outros materiais encontrados na natureza?

2 comentários:

  1. Tudo é natuaral hoje em dia, né?
    E eu que achava que era naturalista quando criança porque só comia o que era plantado na comunidade...
    Aquelas alfaces deviam ser mesmo artificiais de tão verdinhas.
    poxa, menino, gosto tanto dos seus textos, você deveria escrever mais.
    Beijos.

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  2. Ainda me lembro do dia que eu descobri que um chá enlatado não continha chá nos ingredientes. O que será que era aquilo, então?
    Então decidi que qualquer coisa na água fervente é chá. Logo criei chás novos: chá de frango, chá de casca de banana, chá de parafusos, chá de panela (com panela de verdade).
    Todos tão naturais quanto o "saudável" chá que bebi.

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