terça-feira, julho 07, 2009

Esferográficas, grafites 2b e nostalgia

Fazia meses que não pegava em um lápis para escrever (e para ser sincero para desenhar também). Com essa história de computador para lá e para cá, greves universitárias e outras aberrações da vida moderna o pobre lápis ficou até empoeirado. Não era nada demais, nada sério, apenas umas anotações do que precisava ser feito ao logo do trabalho. O lápis conservara-se bem apontado, sinal do seu continuado desuso. E ele nem se lembrava mais como se parecia a sua letra que de tão garranchada que saíra pela abstinência, poderia bem ser a de outro. E o era.

Outros tempos, outros gostos, outros eus. Tempos analógicos. Lembrou-se das canetas e lapiseiras de que gostava de usar para escrever e para rebobinar as fitas k7 que ouvia o tempo todo enquanto escrevia. Gostos que mudaram ao longo do tempo, reflexo do ato de escrever, desenhar e da falta de um walkman. Gostara de seus cds, gostava de seus mp3, mas por melhores que fossem não eram a mesma coisa. Algo havia se perdido na tradução da tradução da tradução de alguma coisa que havia muito acompanhava a humanidade.

Pensou consigo mesmo e percebeu que o que sentia nesse exato momento era a mesma sensação que sua mãe sentira uma vez ao tentar lhe explicar sem muito sucesso porque sentira falta de escrever a bico de pena. Contou os minutos para sair do trabalho. Correu para o metrô e do metrô para casa. Foi para o quarto, subiu apressado num banquinho e tirou do armário o aparelho pouco menor que um tijolo pequeno. Arrepiado pelo frio e pela eletricidade, parou um instante para colocar uma camisa de flanela e, na falta de uma pilot de ponta fina, procurar uma bic. Sentou-se no chão de madeira , rebobinou uma fita, colocou os fones de que tanto gostava e, mais uma vez alheio ao mundo, escreveu pela tarde.

2 comentários:

  1. Nao podemos/devemos esquecer de onde viemos, nao? =] Saudades =*

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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