sexta-feira, agosto 27, 2004

Jogando dados com o diabo

Certa vez eu li um conto muito interessante sobre um irlandês muito sortudo que sempre ganhava as apostas que fazia. Diziam que ele seria capaz até de enganar três vezes o diabo. Até que um dia o diabo apareceu para comprovar a teoria...
Não vou contar o resto da história porque ela é muito boa, e em algum lugar no meu ser eu desejo não estragar o deleite das pessoas que eu gostaria que lessem-no um dia.
Há muitos anos, uma das minhas expressões mais conhecidas era “jogar dados com o diabo”. Acho que não preciso explicar muito a respeito até porque meus parcos leitores já a conhecem. Ainda assim explicarei, aliás, explicarei com uma frase que não é minha: “Life is cheap when the bounty is high;
So are you ready to die?“
Depois de muito tempo votei a tentação de jogar dados com o diabo. Imagino que se conversássemos seria algo mais ou menos assim:
_Boa noite jovem mancebo.
_Boa noite.
Um silêncio seguiria entre os moveis rústicos de madeira em um ambiente predominantemente marrom de um pub irlandês, quase com os tons da fase holandesa de Van Gohg, exceto pela iluminação um tanto mais calorosa e pelo cheiro forte de madeira.
Os olhares falariam por um longo tempo, o meu levemente audaz, desafiador. O dele, plácido.
_Não há necessidade de constrangimentos ou rivalidades aqui. Cedo ou tarde TODOS voltam.
Ele colocar-se-ia de lado e indicaria com a mão a passagem até uma mesa com pão de centeio, queijos vários, salame italiano, azeite extra-virgem e cerveja irlandesa.
_Você não esquece não é mesmo?
_No meu negócio, hospitalidade e memória são muito importantes, uma leve e agradável risada tornaria a frase reconfortante.
Comeríamos um pouco e enquanto ele retiraria do bolso um pequeno jogo de dados de marfim, que nos acompanhariam pela noite toda rolando pela mesa. Ao final, eu teria ganhado a maioria das partidas, então me levantaria e diria.
_Você nunca se cansa? Eu vinha aqui freqüentemente e nunca perdi, mesmo depois de todo esse tempo continuo ganhando.
_Vou lhe contar um segredo, mais cedo ou mais tarde TODOS perdem. Uns mais cedo, uns mais tarde. Alguns perdem na primeira rodada, outros nunca perdem. É tudo um lance de sorte.
Um instante de silêncio e ele diria ainda:
_Gosto de você, você é um bom cliente, uma companhia agradável, sabe das coisas, conhece as regras... Você não vem aqui para ganhar. Você vem aqui pelo jogo.
Um breve e caloroso abraço e ele abriria a porta para mim.
_Agasalhe-se bem, está frio lá fora.Abriria totalmente a porta e flocos de neve voariam para dentro, revelando um mundo azul lá fora.

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