quinta-feira, setembro 30, 2004

Procuro enfermeira: pago em espécie.

Como é ruim ficar doente. Não falo isso por todos os motivos óbvios. Claro que todos os motivos diretos são muito chatos, as febres, as dores, as limitações... sem falar no prejuízo, mas cada vez que fico doente tenho a impressão de que atropelei um cigano. Observem o meu caso: Há algum tempo em um passado longínquo eu fiz um curso de massagem onde fui instruído e agraciado com a dádiva de ajudar as pessoas. Mas havia nesse mesmo curso uma senhora meio estranha que sentava na frente da sala e que me atirava olhares horripilantes cada vez que eu ganhava um elogio dos meus professores. Eu me empenhava bastante e como era o aluno mais jovem, era inevitavelmente notado em meio a uma sala de aula composta por senhoras em média 30 anos mais velhas que eu. Entre outras coisas, isso fazia com que eu ganhasse massagens dos meus professores a cada vez que eles necessitavam de um modelo. À margem de minha apreciável condição, esta estranha figura que usava um par de meias vertiginosamente listradas, carregava sempre um baralho só com cartas de copas, um fole e um cesto de maçãs, rogou-me uma praga. Desde então, sempre que preciso de massagem passo maus bocados até a conjunção astral mais próxima se realize (Depois da palestra que assisti essa semana sobre os calendários lunar e solar na cultura japonesa tenho a impressão de que tem alguma coisa haver com isso também).
Mas vamos aos fatos recentes. No final de semana eu fui inocentemente ajudar a minha irmã mais velha que havia tirado a coluna do lugar, uma das pessoas que eventualmente consegue escapar a regra e me fazer massagem. Coloquei no lugar, tudo muito naturalmente, e na segunda feira à noite comecei a me sentir mal. Minha terça feira foi desprezível, desmerecendo qualquer comentário... Quarta feira logo cedo decidi dar fim ao meu estado miserável e ir a um hospital. Lá chegando fui atendido por uma médica absurdamente mal-humorada que fez pouco caso de eu ter passado a terça toda com febre e ainda quis me fazer sentir culpado por existir. Não obstante, ganhei ainda duas injeções na nádega esquerda, que hoje eu tenho a impressão que vai se destacar do meu corpo e cair dura no chão, e um “vai trabalhar vagabundo”. Para não dizerem que eu sou machista vou citar o comentário de uma das minhas amigas do trabalho sobre esta parte da história: “_ Desencana, o namorado dela dever ter dormido de calça jeans ontem”.
Moral da história, hoje estou melhor, mas não tenho um puto para comprar os remédios que ela mandou e a injeção de ontem está perdendo o efeito, o que significa que vou voltar a piorar até amanhã, ainda mais com esse tempo tosco que está fazendo aqui em Sampa. Com essa história toda estudei muito menos do que eu queria essa semana e estou me sentindo o último Dodô. A carência de estar doente sozinho é algo absolutamente insuportável. Odeio a sensação de vulnerabilidade e dependência, queria sumir da face da Terra.

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