Contemplo o vazio na ausência do som dos carros. Algumas pessoas vão passando devagar, atravessando a paisagem distante, caminhando daqui para ali, pequenas, tal qual formigas. Sentadas, duas moças dividem comigo o extenso tapete verde que a grama forma atrás do prédio da reitoria onde, ocasionalmente, erguem-se algumas árvores em direção ao céu. As cores vão mudando lentamente, as sombras vão tornando-se penumbras e a lua vai subindo para o azimute enquanto a luz mingua. Pouco a pouco o cenário vai mudando e eu tento capturar essa imagem em minha mente com a futilidade de quem constrói um castelo de areia disputando espaço com as ondas na ponta da praia. Enquanto isso, alguns carros trafegam já com as luzes acesas, os alunos vão chegando lentamente para o turno de aulas da noite e alguns pássaros cantam e brincam. O silêncio é arrebatador. Não o simples silêncio que se deita sobre este lugar mais calmo, mas o silêncio da ausência de vozes conhecidas, das gargalhadas esquecidas e das amizades ausentes. O sol de súbito faz um último esforço no final da abóbada celeste para tingir de amarelo o gramado refletindo-se nas nuvens. Não sei, não sei mais se é de amarelo ou laranja, nem sei se é no outono que estamos ou que dia é hoje. Hoje é só mais um dia qualquer, igual a todos os outros dias. Os dias são iguais há muito tempo e se eu não soubesse que estou aqui, já não saberia mais nada. As luzes dos prédios começam a pipocar entre as janelas dispersas e daqui a pouco a luz do dia terá partido completamente me deixando sem ter como escrever mais hoje. As letras irão embasando, ao papel se misturando e pouco a pouco o silêncio se fará completo.
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