A água corria por entre as telhas e gotejava no forro velho carregado de cupins. Além do barulho, arrastava o pó de anos e descia escorrendo pelas paredes marcando-as com tons amarelados e marrons. Havia passado das sete horas há não muito tempo e a chuva que durara a noite toda não havia cedido um milímetro sequer. O assoalho trepidava com os ônibus a passar pela rua e o sono já se debatia tentando abandonar o corpo. Como era de praxe, ele mexera-se muito durante a noite e os pés frios tentavam insistentemente encontrar alguma parte do cobertor para esquentarem-se sem chutar de forma estúpida a gata para fora da cama. Poucos dias haviam se passado desde que fora demitido, mas o tempo já havia começado a jogar seus jogos e ele não fazia idéia de que dia era aquele. Tateou o criado mudo acordando irritado com as goteiras que o lembravam das contas para vencer e praguejou algo contra o mundo. Encontrara apenas a caixa vazia do antidepressivo que havia acabado meses atrás quando teve que optar entre as contas que podia pagar. Péssima idéia, pensava ele agora.
Breaking the Silence
Há uma semana
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