sexta-feira, setembro 25, 2009

Invisível

Deu calor, foi uma corrida que dei na rua, demorou a passar, horas e horas. Sinto o nariz cheio de ar e os ouvidos quase tapados. Os sons chegam abafados, submersos e tento segurar a chuva com um tremor interno. A sombra é fria e o sol arde enquanto me afogo em mim mesmo.

E enquanto isso, assisto às coisas e pessoas do outro lado do espelho d'água, numa outra vida em um outro lugar. Como se do alto do meu palco invisível, ao sentir a proximidade do clímax da minha tragédia, eu vivesse um meta-momento , um momento onde as coisas se invertessem e eu pudesse assistir a platéia. Enfadado de mim mesmo, cansado, repetitivo, nostálgico, agitado, desesperado, cansado, cansado, cansado...

A correnteza aumenta e quase me entrego, meio morto, abandonado ao acaso de ser uma sombra do homem, já quase sem forças para continuar. Tenho os bolsos vazios, um milhão de desejos e nenhuma moeda para o Caronte . E assim, a morte irá prevalecer e a vida também, com todas as suas lamentações as quais este lápis é o único confidente. O único capaz de realizar a materialidade e o significado intrínsecos destes fatos insignes. O único capaz de fazer algo à respeito e sobreviver.

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