terça-feira, setembro 23, 2008

Cadafalso

A cova aguarda.

Com rosnados e roncos ensurdecedores a rua trata os passantes rispidamente.

A cova aguarda.

Força um transe hipnótico em que ninguém vê ninguém, só ouve aos barulhos e respira o cheiro fétido da cidade, de suas velhas galerias, hidrocarbonetos e esgoto à vista de estabelecimentos pútridos.

A cova aguarda.

Em algum lugar do outro lado da cidade ela aguarda, sinistra, silenciosa, funesta. E eu aqui, em um lapso de consciência oriundo das mais misteriosas manifestações da vida, batatas e leveduras. Minhas batatas, minhas leveduras, outras vidas e a minha não-vida. Enquanto a minha vida... A cova aguarda pronta para me devorar a cada dia mais. Mas mal sabe ela que já me tem por inteiro! Que estou morto sabe lá desde quando e que se ainda existo é porque apenas ando e moribundo, mórbido, maltrapilho, habito a casca vazia de mim mesmo.

Ocasionalmente acordo e enxergo através de meus próprios olhos em um instante único de lucidez quando à noite a Lua envolve as minhas entranhas com carícias. Ou quando às vezes sinto um pálido raio de sol invernal o qual ao passar me retorna ao cadafalso, como agora que o lusco-fusco foi-se, o frio é implacável, as batatas jazem gélidas no prato e a consciência luta contra a imobilidade.

O copo rapidamente seca enquanto rabisco as últimas linhas entre goles. O corpo reluta.

A cova aguarda seu momento triunfal.

E eu espero pelo último frio do inverno.

quarta-feira, julho 16, 2008

Bons Tempos

Eu disse a ela que queria voltar a escrever, mas que não consigo. Ela me disse que é porque eu estou deprimido. Antigamente quando eu estava deprimido conseguia escrever e escrevia muito. Hoje não consigo escrever muito quando estou deprimido e nem quando eu não estou.

Ela me disse que eu precisava fazer aquilo que dizia para ela: “Você precisa criar o hábito”. E eu disse que antigamente eu tinha hábitos quando eu estava deprimido. Hoje não tenho hábitos quando estou deprimido e nem quando não estou.

O único hábito que eu não perdi foi o de reclamar que não consigo mais escrever, pareço uma daquelas velhas mal-comidas que olham tudo da janela para praguejar depois o dia inteiro. Só que velhas mal-comidas são mal-comidas e eu sou bem-comido quando estou deprimido e quando não estou também.

Mas se tem uma coisa que não mudou nem um pouco é que antigamente eu não sabia terminar os meus textos quando estava deprimido e hoje não sei terminar os meus textos quando estou deprimido e nem quando não estou.

terça-feira, maio 27, 2008

Incertezas

E o que se faz da tristeza implacável que se abate sobre o peito e abraça-nos com tão extrema fúria, calor e paixão que o ar nos falta longamente, fazendo-nos por vezes duvidar da consciência que ainda nos resta. O cansaço segue e o silêncio observa enquanto a cabeça repete as palavras alheias e o remorso de escolhas incertas rói a carne lentamente.

segunda-feira, março 03, 2008

Tudo Sobre Eu ou Você

Você pode falar sobre o que não compreende?
Sobre aquilo que está além da íris, oculto por camadas de pele, carne, ossos, sentimentos e pensamentos?
Ou cantar as gestas de uma existência que gostaria de significar algo além de sua mera essência?
Alguma vez você já fez algo tão significativo que o bem gerado a partir de suas ações redimisse a culpa de uma existência desperdiçada?

sábado, março 01, 2008

Equilíbrio, Razão e Sentimento

Amanhece mais uma vez. Acordo com os sons que chegam pela janela até o meu quarto onde o calor de um pequeno felino faz meus pés suarem. Ouço o barulho de pessoas caminhando na rua, indo de um lugar a outro sem propósito aparente, sem significado. Levando vidas acidentais de quem ninguém irá lembrar, vidas medíocres que se repetirão à exaustão até mesmo quando não forem mais humanas.

Um velho sentimento bate à porta, não tenho vontade de falar com ninguém ou comer, como ocorre tão freqüentemente em dias frios e chuvosos que também podem ser quentes e secos. Sinto raiva de mim, porque a explicação para a raiva não me escapa tão fácil quanto à explicação para aquilo que sinto. Às vezes a lógica é o cianureto dos sentimentos, às vezes o contrário.

Sigo a rotina. Levanto-me, me visto, me lavo e nem sei que dia é hoje. Mastigo um belo doce de goiaba caseiro (que é a sensação do momento para aqueles que ainda sentem o gosto) perseguindo algum sentimento com a vontade de quem se agarra à vida que lhe escapa. Eu faria inveja a uma anêmona se anêmonas sentissem inveja. Converso pouco e as minhas palavras se atiram vazias para as pessoas sem talvez passarem despercebidas.

E assim que tenho a oportunidade eu me sento e escrevo. Espremo todo o significado que tenho dentro de mim para uma folha de papel, me sufocando mais a cada palavra que escrevo com a minha inevitável dificuldade em equilibrar razão e sentimento. Meu corpo estremece e se curva com o esforço para o papel, as letras diminuem e se entortam. Subitamente o telefone toca e me interrompe com um grande susto. O coração pulsa rápido e com força, os pensamentos anuviam-se, a mão se recusa a obedecer e impõe ao papel os seus próprios pensamentos. O corpo trai, cede. Troco letras, troco palavras, nublo tudo com olhos que se fecham colocando o mundo que não entendo em uma perspectiva bizarra, o mundo cão que ensurdece e colapsa e então quando o vejo amanhece mais uma vez.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Mooo??? A primeira estampa do ano

Mooo??? - Threadless, Best T-shirts Ever

Nos próximos dias abrirá para votação, entrem e confiram.
Estou ansioso pelos votos e comentários!

[]'s!