segunda-feira, março 03, 2008

Tudo Sobre Eu ou Você

Você pode falar sobre o que não compreende?
Sobre aquilo que está além da íris, oculto por camadas de pele, carne, ossos, sentimentos e pensamentos?
Ou cantar as gestas de uma existência que gostaria de significar algo além de sua mera essência?
Alguma vez você já fez algo tão significativo que o bem gerado a partir de suas ações redimisse a culpa de uma existência desperdiçada?

sábado, março 01, 2008

Equilíbrio, Razão e Sentimento

Amanhece mais uma vez. Acordo com os sons que chegam pela janela até o meu quarto onde o calor de um pequeno felino faz meus pés suarem. Ouço o barulho de pessoas caminhando na rua, indo de um lugar a outro sem propósito aparente, sem significado. Levando vidas acidentais de quem ninguém irá lembrar, vidas medíocres que se repetirão à exaustão até mesmo quando não forem mais humanas.

Um velho sentimento bate à porta, não tenho vontade de falar com ninguém ou comer, como ocorre tão freqüentemente em dias frios e chuvosos que também podem ser quentes e secos. Sinto raiva de mim, porque a explicação para a raiva não me escapa tão fácil quanto à explicação para aquilo que sinto. Às vezes a lógica é o cianureto dos sentimentos, às vezes o contrário.

Sigo a rotina. Levanto-me, me visto, me lavo e nem sei que dia é hoje. Mastigo um belo doce de goiaba caseiro (que é a sensação do momento para aqueles que ainda sentem o gosto) perseguindo algum sentimento com a vontade de quem se agarra à vida que lhe escapa. Eu faria inveja a uma anêmona se anêmonas sentissem inveja. Converso pouco e as minhas palavras se atiram vazias para as pessoas sem talvez passarem despercebidas.

E assim que tenho a oportunidade eu me sento e escrevo. Espremo todo o significado que tenho dentro de mim para uma folha de papel, me sufocando mais a cada palavra que escrevo com a minha inevitável dificuldade em equilibrar razão e sentimento. Meu corpo estremece e se curva com o esforço para o papel, as letras diminuem e se entortam. Subitamente o telefone toca e me interrompe com um grande susto. O coração pulsa rápido e com força, os pensamentos anuviam-se, a mão se recusa a obedecer e impõe ao papel os seus próprios pensamentos. O corpo trai, cede. Troco letras, troco palavras, nublo tudo com olhos que se fecham colocando o mundo que não entendo em uma perspectiva bizarra, o mundo cão que ensurdece e colapsa e então quando o vejo amanhece mais uma vez.