sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Intelegophobos

Enquanto eu não termino o próximo conto que pretendo publicar (o que espero fazer ainda hoje), resolvi publicar uma observação sobre algo que tem se tornado comum. Comecei a reparar que algumas das pessoas com quem eu convivo indiretamente no trabalho começaram a fazer brincadeiras repetitivas e não muito inocentes sobre a minha inteligência. A princípio eu parei para pensar se não estava sendo metido, mas, salvo exceções, eu até evito admitir minha inteligência publicamente. Desde que me lembro, me sinto incomodado assumindo isso e nunca me agradou a possibilidade de estar sendo arrogante. Quer dizer, não é de hoje esse tipo de coisa acontece e não é um caso isolado, não é só aqui e agora ou eu não sentiria a necessidade recorrente de adotar um comportamento defensivo. Como eu sempre fui cuidadoso com isso, descartei a hipótese e depois de uma breve conversa ao telefone com o Hospitalário, cheguei à conclusão de que as pessoas se ofendem com a inteligência alheia. E eu que acreditava, como a Dríade, que só o Colégio era a sucursal do inferno... não estamos assim tão livres do darwinismo social. Eu já estava incorrendo no erro de acreditar que adolescência difícil não era justificativa para absolutamente nada, afinal todo mundo que eu conheço têm. Mas a Lica-chan me lembrou que a vida das pessoas com quem eu ando foi um inferno, porque também existem as pessoas que tornavam um inferno a nossa vida. Eu esqueci que nós fazíamos parte do “grupo dos excluídos”. Quer dizer, pelo visto, ainda fazemos. Tudo isso lembra muito Malcom X e Martin Luther King. E eu me pergunto: Algum dia deixaremos de ser xenófobos?

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Balanço

Se este carnaval teve algo de curioso não foi o próprio feriado, mas algumas reflexões que passaram pela a minha cabeça. Então, na contramão de todo mundo que resolve parar para balanço no ano novo eu decidi parar hoje. Creia-me como quiser, sou brasileiro e como todo bom filho desta pátria tenho o mal habito de começar as coisas depois do carnaval, mas se preferir, entenda isso como uma homenagem ao ano-novo chinês que começou a semana passada.

Depois de muito deliberar, ele concluiu que estava melhor do que há um ou dois anos, mesmo não tendo se tornado a pessoa que gostaria de ser. Acontece que na vida temos que fazer escolhas que nem sempre são felizes e não temos tempo para fazer tudo àquilo que queremos. Algumas destas escolhas fizeram com que ele perdesse parte de seu condicionamento físico. Outras, descobrir pelo 3 ou 4 ano seguido que nem sempre os nossos amigos estão ao nosso lado e nem sempre quem está ao nosso lado é nosso amigo. E outras ainda, o fizeram perceber que algumas vezes deixamos passar ocasiões que nunca se repetirão novamente e que para realmente ser alguém na vida tem que suar muito a camisa.
Que ano... Pensava ele deitado, observando o céu, sem se orgulhar do que havia descoberto. Na verdade nem acreditava ter descoberto algo, apenas havia provado tudo na pele.
Prostrado no gramado com a pele eriçada pelo toque leve do vento que trazia os primeiros sinais do outono vindouro, pensava ele como havia se tornado um homem muito mais cético do que jamais acreditou ser capaz. Indagava a si mesmo se ainda possuía alguma inocência e observava que algumas pessoas outrora tão grandiosas para ele eram nada mais que humanas, nem piores, nem melhores. O tempo em que todos seguiam juntos para o mesmo lado havia acabado. A lei hoje era bem clara: “Cada um por si e Deus contra todos”. Cada um escolhe um lugar que ache melhor para chegar (porque, como disse o poeta, “nesta vida a única certeza é a morte”) e todos seguem para a sua direção, cada um para um lado.
De fato, ele perdera a inocência, a vida para ele era cinza, sem mágica, sem elfos, sem Deuses, sem, sem, sem... Sem graça talvez, mas nem por isso menor do que a vida pode ser, ela só não era incrível. E eu lhes pergunto: faz alguma diferença? O mundo acabará amanhã por causa disso? Você deixará de pagar impostos por isso? O sol deixará de nascer amanhã? A lua e os astros interromperão os seus cursos? Não. Nada irá mudar. Nada. O que fazia lembrar a ele uma das grandes sacadas de ler Sandman em português. Nada, a única pessoa a quem o Sonho ama. E eu, assim como você leitor ocasional de Neil Gaiman, sabemos que esta sacada é uma mera coincidência, nada intencional, porque Nada não é um nome em português e nem um nome traduzido, mas sim uma daquelas felizes coincidências. A vida não é fantástica. Não se engane leitor, isto não é uma pergunta ou uma ironia, é uma afirmação, uma locução tão direta quanto a vinha do diabo.
E talvez aqui comecem as coisas “boas” sobre tudo o que ele aprendera. Lembrava-se olhando o crepúsculo o quão fantásticas podem ser as palavras que uns poucos homens conseguem colocar nas páginas de um livro. Sabia que fantásticos são os dias que gostaríamos de ter, fantásticos são os sonhos. O doce mundo dos sonhos. Ele aprendera a ser mais responsável e todas aquelas coisas chatas dos adultos, e assim, pela primeira vez se considerava: adulto. Logo seria um velho e depois uma lembrança, para só então se tornar esquecimento e neste curto percurso talvez alimentar a essa máquina que cria sonhos para as crianças. Pensava como é fabuloso que existam pessoas que ainda consigam acreditar e fantasiar, porque ele não mais conseguia. Havia se tornado seco, e ironicamente poderiam dizer ser isso obra de algum ser encantado que se alimenta do riso das pessoas, mas se é realmente ninguém sabe. Recordava o dia em que uma bela moça havia lhe dito que suas palavras eram amargas e desgostosas. Verdade. Mas apesar de não se orgulhar disso, também não deixava que isso o diminuísse. Existem pessoas que nascem prontas para voar, esse não era o seu caso. Ele, quando muito com alguma heresia, poderia afirmar que era um dos que nasceram cochos.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Quase Carnaval

Pois é, o Carnaval está aí na porta, dando as caras e eu vou ter um emocionante feriado trabalhando para variar. Não quero ser injusto, quase não tenho trabalhado em feriados desde que comecei a trabalhar como redator e até acho bom ter que trabalhar desta vez. É só que faz tempo que eu não viajo no carnaval ou faço alguma coisa diferente nesta época. Não por nada, eu nem gosto de carnaval, a idéia original era muito interessante, porém, hoje em dia não tem mais nada haver com o que era antigamente. Mas o carnaval já me rendeu ótimas viagens e queira ou não ele tem algo de que gosto bastante: é uma daquelas poucas ocasiões aonde as pessoas relaxam um pouco a guarda (para não descambar de vez e dizer que é praticamente época de acasalamento). Ultimamente situações assim têm feito falta, sair um pouco, conhecer gente, dar uns beijos, pegar uma praia ou mesmo um baile de carnaval. Tudo isso viria bem a calhar. Adoro a idéia dessas ocasiões onde não existem grandes barreiras sociais, quando não faz diferença alguma se o cara ao lado é seu chefe ou seu empregado. Eu acho que falta um pouco disso para as pessoas durante o resto do ano: relaxar, tocar o F0d4-#3. Eu não entendo porque precisa ser carnaval para que aquela garota que faz doce o ano todo desencane e viva durante alguns dias, para que aquele cara chato que nunca quer fazer nada saia e brinque um pouco. E sinceramente, não me importa o porquê. É diferente, deveria ser assim sempre. Se você ficar ponderando demais sobre tudo, o céu e as estrelas, você acaba deixando a vida passar, arruma rugas, gastrite, câncer no fígado ou qualquer outra coisa do gênero. Tem horas que não se ganha sem ariscar, e nem é preciso arriscar tanto, apenas não ficar tão na defensiva, viver um pouco mais seus instintos. Faz parte da natureza humana. Mas para a maioria das pessoas falta um pouco de coragem. Até entendo o porquê, estamos falamos das nossas vidas, aqui não tem save point, não tem como parar e voltar para o início. Ainda assim, as pessoas se entocam de mais e se esquecem de que existe vida lá fora.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Dias como estes

Às vezes você acorda pela manhã com uma sensação de bem estar. Tem a impressão de que é invencível, que pode fazer absolutamente qualquer coisa e que é capaz de conquistar o mundo. Sente-se alegre, capaz e bem-disposto, manobra resolvendo seus problemas da melhor forma possível, desempenhando suas tarefas com desenvoltura, força, agilidade e elegância. Tem dias que você é capaz de tudo. Você segue firme dia adentro, inabalável, confiante, uma fortaleza, nada pode pará-lo, nem um problema.
Ah... seria tão bom se o nosso bem dependesse única e exclusivamente de nós mesmos! O dia passa e damos o nosso melhor, mas nem sempre é o bastante, nem tudo depende de nós. Um dia a bateria tem que acabar, o elo tem que partir e os relógios atrasarem. Tem dias que o outro funcionário vai faltar, você vai ficar doente, seu bicho de estimação vai morrer. Paciência. Nem tudo depende de nós. Nem sempre as coisas têm que funcionar, nem sempre aquela garota incrível vai gostar de você, nem sempre o seu amigo vai querer, nem sempre o funcionário da repartição pública vai estar de bom humor. Acontece. Nem todos os dias são para ser coloridos, alegres e felizes e mesmo que você não saia da cama vai rolar uma dor nas costas, uma insônia. Às vezes o mundo lá fora tem que dar errado, talvez para nos ensinar humildade. No fim, o melhor que você pode fazer você fez e o que fazer mais? Talvez tomar um banho quente no final do dia, esquentar água para fazer um chá ou tomar um cálice daquele vinho especial que é só para você, respirar bem fundo... Porque os dias passam, mesmo quando eles se repetem bastante.

*Observações sobre o último texto.

Talvez eu não tenha me expressado muito bem no texto passado. A questão não é sobre as pessoas que passam pela nossa vida e vão embora ou sobre o isolamento que, por vezes, temos necessidade. É sobre quando ninguém mais agüenta andar enquanto você está a pleno fôlego. Quando você é capaz de ir além e não há quem possa ir contigo. É sobre escolher entre seguir sozinho ou deixar para trás os seus sonhos. Talvez seja sobre algo mais, talvez seja sobre ter nascido diferente e a sensação de solidão que resta de não encontrar ninguém parecido (e que nem por isso vai querer seguir com você). Às vezes temos sonhos muito simples, mas somos por demais complicados. É isso, ninguém prometeu que tínhamos que ser felizes vindo para cá, ninguém se quer perguntou se você queria. Mas a vida é a vida, ela não tem que ser justa.