segunda-feira, março 25, 2013

Manhã de Outono

Algumas cores voltaram e me fazem quase não triste. Alegre, aproveito a solidão de me encontrar à só, tão rara e oportuna que me faz respirar aliviado frente ao contraste da corriqueira e tortuosa solidão acompanhada. É outono, minha estação preferida, cujas cores mudam em segundos e revelam centenas de matizes e nuances nas peles dos velhos, na cesta de cebolas e na xícara de café. Enquanto isso continuo a narrar trechos desconexos de sabe-se lá o que. Seria isso a vida? Tento me desvincilhar de minhas tentativas frustradas de escapar ao esquecimento ou ao abandono. É verdade que freqüentemente sou eu próprio a fonte do meu ostracismo. Meus amigos me esquecem ou se revoltam e, por mais sensível que eu seja, nunca fui capaz de não me perder entre tudo o que vejo e o que deixo de ver. Sou muitas vezes incapaz de distinguir nas pessoas a afeição real e a necessidade do outro para a autoafirmação egocêntrica de si mesmo. Chame-me de hipócrita, crucifique-me se quiser. Sinto falta de poucas pessoas, mas sinto essa falta como sentiria a falta do ar, do sangue ou de meus ossos. E não me envergonho mais em dizer que não raro me envergonho de ser... Mas eu falava das cores do outono que se revelaram paranóicas pela nesga de sol entre as nuvens agora fechadas.