domingo, dezembro 31, 2006

5 Minutos de Solidão

Talvez, muito provavelmente o último relato desse ano.

Para quem sempre sofreu de solidão, esse ano me descobri terrivelmente viciado nela. E uma inexorável verdade. Solidão vicia. Quem aprende a apreciar o silêncio adquire um vício muito difícil de largar.

Eu sempre afirmei que nós humanos somos criaturas sociais, mas a coletividade não faz sentido algum sem a singularidade. A coletividade só faz sentido quando cada uma das suas entidades singulares possui algo para trocar. É dessa troca que a coletividade se enriquece, de outro modo, a coletividade se torna apenas uma singularidade de muitos que com o tempo passam a depender uns dos outros para mal e porcamente conseguir ser um só.

A solidão é necessária para o nosso desenvolvimento. Sem ela somos incapazes de realizar atividades como a reflexão, por exemplo. Somente quando estamos a só podemos refletir sobre toda a experiência adquirida, entre outras coisas, da troca com a coletividade.

A solidão é o verdadeiro momento onde criamos coisas novas, é por isso que o início da criação é em geral atribuído a apenas um Deus.

A solidão é aquilo que, por contraste, nos permite atribuir valor a todas as coletividades, a todas as particularidades, a todas as diferenças; talvez não vivêssemos em um mundo com tantas guerras se aprendêssemos a ser mais sozinhos.

É através dos momentos de solidão que o homem aprende a aceitar melhor a si mesmo, aprende a importância de partilhar e de ter com quem partilhar. É assim que o homem pode aprende a importância do outro, aquele que para ser, por princípio, não é igual a você.

O homem tem muito que aprender sobre ser sozinho antes de aprender a conviver em sociedade. Isso é independência, respeito e responsabilidade. É por isso que para esse novo ano que começa eu desejo a mim e a todos os homens que tenham um pouco mais de solidão.

[]’s e um feliz 2007!

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Papai Noel é Mulher, Tem 45 Anos e uma Peixeira

Depois da última facada que os dePUTAdos desferiram no povo tinha quem houvesse desacreditado em papai-noel e em justiça poética. Proposital ou não, a vingança veio com ares de presente de natal, por isso eu reafirmo:
Papai Noel é mulher, tem 45 anos e uma peixeira.

Como disse o poeta: “Declare guerra a quem finge te amar”. Se a moda pega, pouca gente iria achar ruim.

Ps.: "Mamãe Noel" afirma que foi pelo reajuste.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Tabacaria (poema)

Tem dias que não dá para dizer como a gente se sente. pelo menos não tão bem quanto outros.

Tabacaria - Álvaro de Campos

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas —
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas —,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma sem
Porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates coma mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê —
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como
Tabuletas
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Folha Online: Blogueiros riem por último e invadem "show business" - 11/04/2006

Essa é uma matéria interessante, sobre o poder de comunicação dos blogs: Folha Online: Blogueiros riem por último e invadem "show business" - 11/04/2006.

Eu só discordo da parte que diz que os blogs devem cair frente ao podcast e ao videocast. É o mesmo que dizer que as pessoas deixaram de ler quando criaram o rádio e, posteriormente, a televisão. Sem contar que os blogs são extremamente compatíveis com os outros dois formatos.

E você? O que acha?

You are the Sun


You are The Sun


Happiness, Content, Joy.


The meanings for the Sun are fairly simple and consistent.


Young, healthy, new, fresh. The brain is working, things that were muddled come clear, everything falls into place, and everything seems to go your way.


The Sun is ruled by the Sun, of course. This is the light that comes after the long dark night, Apollo to the Moon's Diana. A positive card, it promises you your day in the sun. Glory, gain, triumph, pleasure, truth, success. As the moon symbolized inspiration from the unconscious, from dreams, this card symbolizes discoveries made fully consciousness and wide awake. You have an understanding and enjoyment of science and math, beautifully constructed music, carefully reasoned philosophy. It is a card of intellect, clarity of mind, and feelings of youthful energy.


What Tarot Card are You?
Take the Test to Find Out.

quinta-feira, novembro 30, 2006

sexta-feira, novembro 24, 2006

Já deu sua cambalhota hoje?

Cambalhota
Substantivo feminino;

1 - volta que se dá com o corpo de cabeça para baixo;
2 - reviravolta;
3 - trambolhão;
4 - tombo;

Mais do que uma simples pirueta, a cambalhota é uma comemoração, pode mostrar alegria e arrancar risos, pode deixar alguém muito feliz, mesmo que esse alguém seja só você.

Venha você também dar risadas e fazer os outros rirem. É por uma boa causa e você ainda pode aproveitar para descontrair com os seus camaradas de trabalho e rir de você mesmo, uma das melhores coisas que você pode fazer por você!

Aproveite e guarde esse momento para posteridade! Nossas amigas Juliana e Michele (batista.juliana@gmail.com) estão fazendo um trabalho de marketing viral para a faculdade e hoje é o último dia em que elas estarão filmando cambalhotas. Participe! De quebra você também pode se tornar uma estrela!


Veja esses depoimentos de gente muito famosa!


Mikail Barishnicov: “A Cambalhota é o ato de expressão perfeito!”

Valderrama: “No começo o difícil era não me embolar no meu cabelo, depois peguei o jeito.”

Marcus Valério: “Cambalhota? Claro! É o que eu mais dou com os deputados!”

Pablo: “Foi legal! Gostei!”

Michael Moore: “Eu dou várias, mas gosto mais de ver as do meu amigo Bush.”

Bush: “Ca-ca-m-balota? Sorry, No Compreendo...”

Fábio: “Ehhhhhh mano... Sohhhhh!”

Silvio Santos: “Aai-hi-hi... Não perca! Hoje na seção das dez, o filme ‘cambalhotas’, eu assisti e é muito bom! E amanhã, não perca a estréia o programa ‘Cambalhotando’!”

quinta-feira, novembro 16, 2006

Fim de Tarde

Ele saiu bem diferente de como eu o imaginei, ficou legal, então vou publicar e acho que vou tentar escrever outro seguindo a idéia original. Até lá, divirtam-se:

***

Fim de Tarde


A sensação de estar mentalmente distante do lugar onde se está fisicamente é uma velha-conhecida. Onde eu estava, de verdade, não sei? Onde estava? Parado no metrô.

A bela garota passava em um vestido bordô. Combinando desde as unhas até o sapato com os mais deliciosos tons de vermelho. Seus cachos perfeitamente castanhos destacavam os fones brancos do iPod e emolduravam o rosto pálido onde brilhavam olhos do mais puro azul-turquesa.

Ela se senta e eu assisto como um garoto na multidão. A curiosidade me devora. Quero saber o que ela está escutando enquanto sorri e batuca animadamente com as unhas na superfície do iPod. Seu sorriso é gracioso, um daqueles sorrisos que se dá quando ninguém está olhando, ou quando se está distraído demais para pensar nisso. Em deleite eu observo.

Mas no mundo real o telefone toca, borra a imagem e revela o escritório. Todo mundo ao redor olha enquanto brigo com a pequena concha cinzenta para silenciar o seu toque. Converso rapidamente e me dirijo para o recinto mais branco e diminuto que alguém ousou chamar de copa. na seqüência desligo o telefone e volto a minha mesa para me concentrar.

Só que alguém ralha com alguém, alguém contra argumenta e outro alguém cantarola do outro lado da sala. Eu respiro fundo, finjo ignorar tudo enquanto ar gélido me açoita saindo do maldito ar-condicionado. É tão difícil voltar a me concentrar! O relógio do computador ainda errado assiste a tudo e o do celular denuncia: falta dez minutos para o final do expediente. Fico indeciso se salvo ou não o arquivo e me lembro da pasta com dezenas de textos inacabados que apaguei recentemente.

Visto a minha jaqueta vermelha, desligo o computador e atravesso a sala tentando não levantar suspeitas ou revelar a minha felicidade. Passo o cartão no relógio de ponto que apita com o elevador. Corro para a porta quase inutilmente e alguém segura o elevador pouco antes que fechasse.

Agradeço automaticamente antes de erguer os olhos do chão e ver o rosto conhecido cujo sorriso eu só imaginei em sonhos. Abro meus lábios assustado em um reflexo sem, no entanto, emitir som e, enquanto a porta do elevador se fecha, ela diz: “Era Modern Love, do Bowie”.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Um Dia Arrastado

Desde que o meu computador de trabalho resolveu entrar em horário de verão eu tenho tudo menos um relógio no computador, o que só contribui para o meu tédio em acreditar que é uma hora quando é outra.

Fiquei pensando: Se eu pudesse estar em algum lugar outro que não este onde estou agora, eu poderia estar em um texto? Essa idéia causa certa estranheza, mas não a mim que busco ser tão sincero para com as minhas palavras. Eu sinto isso, estou sentindo agora de forma muito real. Afinal, quem nunca sonhou estar em um quadro ou uma foto? Ou ainda em qualquer lugar que não fosse a sua própria realidade?

Esse talvez seja um dos aspectos do sonho que nos fazem seguir em frente: A esperança. Esperança de um dia fugir a uma realidade insípida, inerte, inodora.

Mas para mim a pergunta ainda permanece: Será que são mesmo as pessoas que contaminam com a sua amargura os meus sonhos ou sou apenas eu quem não se permite ir atrás dos próprios sonhos?

quinta-feira, outubro 26, 2006

Maybe I Have Found Something Blue

Eu estava lá, cercado por zilhões de letras, trilhões de palavras, milhões de frases e milhares de páginas em forma de livros. Talvez muito mais que isso, impossível contar. Ao cair da noite eu procurava algo perdido há realmente muito tempo, tanto tempo que eu não esperava mais encontrar, mas eu procurava. Aquela livraria é um lugar estranho para mim por diversos motivos, alguns muito bons, alguns ruins, mas sempre me pego voltando para lá. E lá estava eu, quando inesperadamente eu ouvi. Estava lá.

Não dá para explicar em palavras o que estava acontecendo, eu tive que sair de onde estava e ir direto para onde a música tocava. Entrei no café da livraria e não quis olhar diretamente para a banda naquele primeiro momento, bastava ouvir, era uma sensação tão boa que eu só precisava estar ali. Particularidades da música e da sensação que me provoca, sinto que de uma certa maneira isso me liga profundamente aos seus criadores. Procurei uma mesa e achei uma de canto, muito escondida e longe do palco, uma das únicas duas mesas que restavam vagas. Pedi um chá e rabisquei um pouco enquanto a lapiseira reclamava.

Foi um show curto, mas delicioso. Quando o som acabou eu paguei a conta com alguns trocados e me aproximei do palco. Ela era linda.

A beleza tem dessas coisas, uma pessoa não é só bela pela sua aparência, ela é bela pela sua alma, pela forma como trata as pessoas, como sorri quando responde com simplicidade a aquela pergunta óbvia que só você não havia percebido (quantas vezes será que ela já não fez isso?). Pois é, ela era linda, simpática como poucas vezes eu esperei que um artista o fosse.

Foi uma conversa breve, fiquei um pouco tímido (de verdade), acho que tive medo de ser meio clichê, ou de parecer um doido varrido. Foi uma conversa divertida, me fez sentir bem. Quando terminou senti que eu havia saído meio fugido (timidez novamente?). Arrependi-me por não ter agradecido.

Agora noite vai avançando e talvez ainda vá longe. A inspiração que ela me deu lentamente começou a forjar um novo quadro. Talvez o primeiro quadro que eu consiga terminar de pintar em um longo ano.


ps.: http://www.myspace.com/bluebellmusic

quarta-feira, outubro 25, 2006

Páginas Rasgadas

Quero rasgar as páginas em que está escrita a minha história, para com a tinta a sangrar de milhões de letras erradas talvez eu possa começar uma nova história. Quanto mais eu vivo mais me convenço de que o mundo como o entendemos é baseado nas visões, desejos, escolhas e valores que damos as coisas. É isto o que é o mundo, o que fazemos dele. E eu me pergunto, o que fiz do meu mundo? Um mundo de tubos e tubos de tintas que venceram há anos. Um mundo escrito em páginas em branco. Um mundo onde nada sobreviverá a história. Um mundo de penas quebradas, pessoas distantes, pincéis sem pêlos, violões sem cordas, livros empoeirados e frias paixões...

A noite, quando acordo antes da hora pergunto a mim mesmo o que acontecera ao homem simples e pobre que vivera no século XIV? Cuja existência esvaeceu, cuja história apodreceu para fertilizar a de outros que vieram depois, que as páginas de milhares de livros não contam, cuja memória se apagou. Pergunto sobre tudo o que o amanhã me reserva? Pergunto o que eu faço a mim com justificativas vazias, promessas inócuas e expectativas falsas.



Queen - Spread Your Wings
Words and music by John Deacon

Sammy was low
Just watching the show
Over and over again
Knew it was time
He'd made up his mind
To leave his dead life behind
His boss said to him
'Boy you'd better begin
To get those crazy notions right out of your head
Sammy who do you think that you are?
You should've been sweeping up the Emerald bar'

Spread your wings and fly away
Fly away far away
Spread your little wings and fly away
Fly away far away
Pull yourself together
'Cos you know you should do better
That's because you're a free man

He spends his evenings alone in his hotel room
Keeping his thoughts to himself he'd be leaving soon
Wishing he was miles and miles away
Nothing in this world nothing would make him stay

Since he was small
Had no luck at all
Nothing came easy to him
Now it was time
He'd made up his mind
'This could be my last chance'

His boss said to him 'now listen boy
You're always dreaming
You've got no real ambition you won't get very far
Sammy boy don't you know who you are?
Why can't you be happy at the Emerald bar?'

So honey
Spread your wings and fly away
Fly away far away
Spread your little wings and fly away
Fly away far away
Pull yourself together
'Cos you know you should do better
That's because you're a free man
Come on honey
FLY WITH ME!

segunda-feira, outubro 09, 2006

Pensamentos rápidos sobre o ego

Já me disseram que eu sou a única pessoa que lê essas coisas, mas ainda assim eu juro que fico com raiva quando entro em um site que não tem um link do tipo “o que é isso?”.

Tudo bem, dizer o óbvio é algo bobo, mas às vezes, algo que é óbvio para mim, não o é para você e vice-e-versa. Talvez seja por isso que muitos sites não tem uma seção desse tipo. É algo irritante quando alguém não entende sobre o que estamos falando e dói no ego pensar: “Como posso eu não estar sendo entendido?”. Na cabeça de quem fala parece sempre habitar um serzinho arrogante que não lida bem com essa idéia.

Mas fazer sites, escrever e tantas outras coisas que possuem uma expressão artística, que tentam comunicar algo, padecem do mesmo mal. Antes de haver a arte deve haver o artista, e antes do artista o ego. Isso não é exatamente uma coisa bonitinha porque não é para ser assim, é algo que é simplesmente e, talvez, se pudesse ser diferente, alguém já teria descoberto depois de tanto tempo de humanidade.

terça-feira, setembro 19, 2006

Peixeiro

Estava atrasado novamente e pensou enquanto acendia a outro cigarro.

“Por quanto tempo mais meu chefe agüentará isso?”

O trago iluminou o quarto e as cobertas das quais se quer havia saído ainda.

“Quanto tempo mais eu tenho até ser mandado embora? Todo mundo sabe que limpar peixes está mais para um trabalho insalubre que para qualquer outra coisa, mas ninguém se importa. Tem aquele cheiro, óbvio, que depois de dois dias impregna tudo, aquela sujeira que nunca mais sairá de você e têm os espinhos, ah sim, os espinhos... Eles te pegam de jeito quando os seus dedos já enrugaram de passar tanto tempo naquele caldo misto água, sangue, tripas, gelo e suor. Os espinhos são normalmente bem incômodos para as pessoas que os sentem, mas uma das vantagens de abandonar a medicação por falta de dinheiro é que o seu limiar a dor aumenta, que na verdade é como se nada disso importasse muito realmente.”

Apagou o cigarro no cinzeiro, mas não antes de acender outro. Odiava o gosto daquilo, mas que se dane, quem se importa. Colocou o novo cigarro no cinzeiro e saiu da cama. Caminhou pelo apartamento minúsculo procurando alguma peça de roupa limpa, juntou uma calça e uma camisa que cheiravam menos a peixe e as vestiu. Ignorou o café, a geladeira havia quebrado há uma semana e o leite já havia passado dessa para melhor há tempos. Comeu um saco de “Porquitos” que comprara no dia anterior e ao sair para o “trabalho”, batendo a porta com força derrubou da parede da sala o diploma da faculdade de direito espatifando a moldura em milhares de cacos que ainda ficariam ali por muitos dias.


***

Eu nunca entendi direito por que as pessoas continuam fazendo coisas que lhes fazem mal.

segunda-feira, setembro 18, 2006

quinta-feira, agosto 17, 2006

Você não sabe...

Quão distante eu quero estar;
quão distante estou daqui.
Quantas rosas quero dar;
quantas flores já colhi.
Quantas folhas já rasguei;
quantos livros eu já li.
Quantas vezes fiz chorar;
quantos nomes já esqueci.
Quantos rostos já pintei;
quantos versos já escrevi.
Quando a noite vai chegar;
quando a noite vai partir.
Quando a lua vai nascer;
quais estrelas vão surgir.
Quantas delas há no céu;
Elas vão sempre existir?
Ou quantos beijos dar-te-ei,
logo assim que eu te vir.


by Juca Lopes

quinta-feira, julho 27, 2006

Fim de Férias

As férias da faculdade estão acabando e com elas vão o meu animo que custou a voltar e não voltou muito. Ando muito chateado por faltar tempo para fazer absolutamente tudo. O último semestre foi péssimo para a faculdade e de modo geral péssimo para a minha vida, não sei o que houve, mas eu consegui passar seis meses totalmente ou quase totalmente distante de praticamente todas as minha atividades normais. Nem para escrever eu tenho conseguido tempo e quando tento escrever não sai nada que presta. Ando deprimido.

***

Era inverno, mas bem que poderia ser verão. As pessoas caminhavam na rua usando roupas leves e a únicas duas coisas que faziam ponderar a estação eram os agasalhos para o ar condicionado dos escritórios (e para a noite) e a falta de chuva. A última semana de férias passava tão depressa quanto as pessoas na rua em frente ao prédio.

Uma moça de blusa verde-água e cabelos pretos virou a esquina e passou apressada em meio à multidão. Um rapaz bem alto e magro vestindo uma calça social marrom e uma camisa bege claro vinha no mesmo sentido enxugando a testa com um lenço. Um senhor de idade passava devagar por ali, um cão vadio também, coisa rara nessas paragens. Centenas de rostos surgiam para desaparecerem instantes depois na entrada de um prédio, virando uma esquina ou no meio do povo na distância. Sempre rápido, muito rápido.

Meus olhos ardiam cansados e eu imaginava o que se passava por trás de cada rosto que via ou que rumo poderia tomar a vida se eu saudasse a qualquer um daqueles rostos. Quem sabe o que poderia conhecer, quem sabe o que poderia aprender, quem sabe que lugares visitaria. Num instante dois ou três pessoas ali poderiam ter se tornado amigas, destinos poderiam ser traçados. Coisas novas poderiam acontecer. Simplesmente virei o resto e voltei para dentro do prédio, para aquele lugar estéril chamado escritório.

terça-feira, julho 11, 2006

Lave-me

Isso é para me lembrar de escrever mais, um dia talvez eu chegue aqui e veja o blog coberto de pó e escrito Lave-me bem grande como nos carros sujos. Se eu demorar muito, talvez encontre no pó bem mais do que lave-me.
Enquanto eu não termino nenhum dos textos em que estou trabalhando resolvi publicar este link para passar o tempo. Dá para ficar bobo...

terça-feira, maio 30, 2006

Falta 5 para a prova! Falta 5 para a prova!

Nem sabia se era mesmo verdade, mas se ocupava em pensar que sim.
Falta 5 para a prova! Esperava inquieto, ruminando o tempo, tenso, porém calmo. Era aquela calma e tensão, velhas conhecidas, que precedem as fortes emoções. Sob o tiquetaquear do relógio, pensava que não passar naquela prova logo de primeira seria o mesmo que atestar sua inaptidão para a coisa. E pensava: “Que besteira, precisar de um papel para provar aptidão em uma coisa qualquer, como se papel provasse qualquer coisa”. Pensava, pensava, pensava... Milhares de coisas e pensamentos tortos lhe passavam pela cabeça, porque isso é só o que se pensa nessas horas. Tortuosidades, coisas que, se não são as únicas, são umas das poucas que nos ocupam.
5 minutos se passaram e mais 5 depois, carregando de 5 em 5 o ponteiro, mas em momento algum faltara 5 minutos ou menos para a dita cuja. Ele sabia disso perfeitamente, mas não queria acreditar, não havia sequer olhado para o relógio desde que adentrara a sala. Profilaxia mental, evitava pensar mais merda. Pelo menos achava que era disso que se tratava... Daquela avalanche de sensações vazias decorrentes de um dia-a-dia de cão, onde tudo possuía aquele brilho vítreo, aquela consistência de sonho e ausência de perspectiva. Um dia, talvez, ele acordaria e veria que tudo até ali não passava de um interlúdio para outra coisa. Talvez não.
Corremos tanto, o dia todo, todos os dias, atrás de tudo e de todos... No fim, não somos mais do que cães correndo atrás do próprio rabo. Uma verdadeira lástima, se é que existem outras coisas além de lástimas na vida de quem corre atrás do nada. Somos deprimentemente vazios. Até nisso.

quarta-feira, maio 17, 2006

Putzgrila #2

Olá pessoas,

Eu queria convidar vocês para o lançamento do fanzine Putzgrila #2. O fanzine foi produzido pelos alunos do um curso de Roteiro e Pesquisa de História em Quadrinhos, ministrado no ano passado pela Gibiteca Henfil no Centro Cultural São Paulo por 4 das maiores autoridades em arte seqüencial do país (o cartunista Jal, o editor Gualberto Costa, a Dra. Sonia Bibe Luyten, professora de História em Quadrinhos na ECA e o Prof. Dr. Valdomiro Vergueiro, coordenador do Núcleo de Pesquisas de História em Quadrinhos da ECA ). Está na segunda edição, que esperamos, supere o sucesso da primeira, premiada com o trofel Angelo Agostini, o oscar dos quadrinhos brasileiros e será lançado esta semana como parte dos eventos da Virada Cultural (os detalhes estão no final do texto).

E o que tudo isso tem a ver com vcs? Bom, talvez vcs gostem de quadrinhos (talvez não), talvez vcs já estejam planejando ir a virada cultural (talvez tenham mais o que fazer). Ou ainda talvez vcs queiram ler o meu debute no mundo da arte seqüencial, que não foi dos mais incríveis ou memoráveis, mas está lá em algum lugar no meio da revista. Se nenhum desses motivos for bom o bastante, vocês podem aproveitar para tirar uma com a minha cara depois, perguntar porque eu não durmo antes de escrever essas coisas (ou de desenhar essas coisas) ;) Enfim... é melhor que terminar esse texto por aqui antes que eu me arrependa:

Dia: 20 de maio de 2006, sábado
Workshop: Jam Session de Quadrinhos e Caricaturas e Lançamento do fanzine Putzgrila nº 2, da Gibiteca Henfil
Durante o lançamento do Fanzine Putzgrila nº 2 serão criadas histórias em
quadrinhos e feitas caricaturas, sob a coordenação da equipe de criação do
fanzine, com a participação do público e de artistas convidados. O material
produzido ficará exposto no mezanino da Gibiteca até 31/05.
Coordenação: Eduardo Mendes de Oliveira, Harriot Roxo Júnior, Renan Baliego
Heitzmann e Alberto Pessoa. Artistas Convidados: Eloar Guazzelli, Alexandre
Nagado, Rodolfo Zalla, Rafael Coutinho, Fábio Cobiaco, Sam Hart, Sandro
Castelli, Osvaldo Pavanelli.
Faixa etária: acima de 12 anos
Horário: das 18h às 21h
Local: Gibiteca Henfil.


Dia: 21 de maio de 2006, domingo
Workshop: Jam Session de Quadrinhos e Caricaturas
Serão criadas histórias em quadrinhos e feitas caricaturas, sob a
coordenação da equipe de criação do fanzine PutzGrila, com a participação do
público. O material produzido ficará exposto no mezanino da Gibiteca até
31/05.
Coordenação: Carlos Eduardo Silva Simões, Daniela Beleze Karasawa, Ingrid
Santos Marastoni e André Liberal.
Faixa etária: acima de 12 anos
Horário: das 10h às 13h
Local: Galeria Olido.


Ps.: Embora eu queira muito estar nos dois eventos, o mais provável é que eu só vá ao primeiro, culpa dos meus queridos professores de faculdade...

sexta-feira, maio 05, 2006

Vinte minutos para a meia-noite

O relógio marca exatamente 23:40 e contrariado decido que tenho apenas 10 minutos para escrever. Preciso estar na cama antes da meia-noite, estou mega gripado e depois de passar mal o dia inteiro não consegui se quer ir para a faculdade. Assim, 10 minutos é tudo que tenho, muito menos do que gostaria, muito mais do que posso me dar ao luxo agora. Perco alguns minutos esboçando um parágrafo com o tempo que gasto no meu dia para apagá-lo em seguida. Basta saber que passo em torno de 4 horas viajando de um lado ao outro da cidade e que durmo por volta de 6 horas por noite quando estou com sorte, o resto é trabalho, trabalho, trabalho, estudo, estudo, estudo. Uma qualidade de vida digna da primeira revolução industrial, lá no século XVIII. Mas não é por isso que vocês voltam aqui. A realidade está na vida, no dia-a-dia, nos jornais, no trânsito dessa cidade maldita. Vocês voltam aqui por causa dos sonhos, porque de pesadelos já basta a vida. Pois bem, já passaram 11 minutos e vocês não leram sobre nenhum sonho hoje. Infelizmente preciso mesmo dormir para acordar amanhã, antes das 7:00 em um estado minimamente razoável. Mas sobre os sonhos eu tenho duas coisas a dizer. A primeira é que andei pensando e depois de dois anos escrevendo só neste blog eu descobri sobre o que escrever aqui, sobre sonhos é óbvio. Eu sei, eu sei... estava na cara, mas ainda assim poiesis tem dessas coisas. Criar nem sempre é tão fácil quanto a gente pensa. A segunda, é que falando em sonhos, no último post eu prometi novidades... Pois bem, o nome da novidade é Xubaba Variedades. Lá, eu digo que Xubaba é uma coletânea de notícias divertidas, atualidades, música, cultura inútil, entretenimento e bizarrice em geral, mas a verdade é que eu ainda não sei bem para que serve... rs. Só espero descobrir em menos de dois anos...

Ps.: Visitem o Xubaba Variedades, tenho certeza de que irão gostar. Ainda é uma versão Beta, então, sintam-se a vontade para criticar e também para linkar em seus blogs.
Ps2.: E não se preocupem, não vou abandonar o Life is But a Dream, (principalmente agora que descobri para que serve) a idéia é que as atualizações sejam mais freqüentes. Fiquem ligados ;)
Ps3.: E para os curiosos, o post foi escrito em 27 minutos. Agora ainda falta revisar e publicar...

quarta-feira, abril 12, 2006

Idéias Vadias

Pareço um louco no meu trabalho, ou ao menos assim deve achar o povo que trabalha comigo. Apesar de ser redator, como o meu trabalho é focado em textos realmente pequenos (+/- 140 caracteres), eles devem estranhar o tanto que eu escrevo. Sei que parece inconsistente o que eu vou dizer, porque tenho atualizado muito pouco a este blog (aguardem surpresas), mas eu realmente escrevo muito e o tempo todo. Aliás, feito um louco.

Eu sou daqueles que tecla com vontade, não fico martelando o teclado, mas digito com gosto, como se eu estivesse matando a fome, e, de certo modo, estou mesmo. Sou uma pessoa de reações fortes... Eu também me empolgo quando ouço música, outro hábito que cultivo na empresa.

Ouvir música para mim é algo tão intenso, tão intimo que por vezes exige que eu me controle para não deixar me envolver demais. Às vezes vejo as pessoas ouvindo música e fico me perguntando se elas sentem como eu sinto sobre a música. Se elas sentem a música envolver, se sentem aquele gosto forte na boca e a eletricidade percorre o corpo, como com quem estamos intima, elétrica e gravitacionalmente ligados.

Não sei se vocês já sentiram isso (se não sentiram, tenham os meus mais sinceros e profundos lamentos), quando ao se aproximar da garota de lábios carmim (ou do cara de cabelos curtinhos) os olhos de ambos se caçam em uma dança desesperada, incansável, frenética. Olhos nos olhos o circuito se fecha. Faz notar-se a gravidade que sempre esteve ali, segurando com força e impossível de ignorar. Arrastando e aproximando devagar, sem parar, mais e mais. Você orbita e o cheiro dela invade... Tateia cada poro e envolve com intimidade. Assusta, provoca e faz os pelos da nuca ouriçar... Calafrios. O mundo escapa ao seu redor... Vertigem... Surge a eletricidade. O ar rarefaz e seca. Fagulhas estalam violentas. Você ofega... e é difícil resistir...
É assim que eu ouço música: devorando e sendo devorado, a música me invade a alma e a minha alma invade a música. Naquele momento perfeito somos um só.

Um dia desses algum político ainda há de proibir a intimidade com a aprovação das massas... Dirá: “A partir de hoje está banida a intimidade desta digníssima república, toques, escritos, musicas, falas, pensamentos e tudo o mais”. Militantes já abundam, remoendo seus pequenos rancores rançosos e alistando outros a cada dia. Sei lá, já nem me lembro do que eu falava ou onde queria chegar... é tarde, melhor desligar o som, deixar de lado meus devaneios e voltar para casa.

terça-feira, abril 04, 2006

Trair e Coçar

Esqueci de contar que no último dia 24 fui assistir “Trair e Coçar é só Começar” no Teatro Sérgio Cardoso. A peça, que figura entre as de maior sucesso no teatro nacional esteve em cartaz até o último dia 26, em curta temporada, comemorando 20 anos de estrada. Confesso que até esperava um pouco mais por causa da fama, mas foi uma excelente opção para alegrar a noite (somado a uma ceia rápida e agradável na cantina Ce Que Sabe, em frente ao teatro). A história traz situações bem cômicas. Além disso, uma das coisas que tornou a peça interessante ao longo do tempo é o roteiro visivelmente escrito nos anos 80. Celulares, computadores... Não. Nada disso. Os encontros e desencontros dos personagens surgem de conversas truncadas, muitas vezes ouvidas as escondidas e apimentadas pelas confusões de Olímpia, uma empregada atrapalhadíssima. Infelizmente já saiu de cartaz, mas se você gosta de teatro, fica aí a dica de uma peça imperdível que já entrou quatro vezes para o Guinness Book como a longa temporada ininterrupta do teatro nacional.

quinta-feira, março 23, 2006

Para começar o dia de bom humor

Olá pessoas,

Aqui vai um linkzinho para deixar todo mundo de bom humor: Star Wars with bunnies. Duvido que alguém não tenha assistido o original, mas não custa avisar: O conteúdo é spoiler.
Não deixando de citar da fonte, aqui vc encontra diversos outros filmes with bunnies: Angry Alien Productions.

Divirtam-se

sexta-feira, março 17, 2006

Somniculus

Ônibus. No ônibus. Movimento. O calor é degradante, a viagem lenta. Viagem, literalmente. O Shin’in, ex-imperador Sutoku, levanta-se e dá lugar a uma moça. Propicia-me a conversa mais agradável que eu já tive com estranhos dentro de um ônibus em toda a minha vida. Do lado de fora, os carneiros atravessam a paulista na faixa, pulando o canteiro central. Ela me pergunta o que estou lendo, eu mostro. Ela diz ser dona de uma empresa de artigos de bambu. Take era o nome, acho. Mais algumas palavras e me despeço, levanto, passo a catraca e percebo que não estou bem aonde eu pensava. Faltam três ou quatro pontos até o meu, mas fiquei com medo de perdê-lo, a conversa estava realmente boa. Desço do ônibus no meu ponto habitual e noto que o vento balançando a cerca viva de uma casa lembra as algas do fundo de um aquário, ou isso foi depois? Depois eu acho, antes eu atravessei a faixa da Faria Lima, antes ainda a da Cidade Jardim. Os carneiros estavam lá, eu me lembro. Pulavam alegremente e não pisavam nas rachaduras do chão de concreto. Distorções espaço-temporais, fotofobia. Meu estado é realmente deplorável. Paro em um café e peço um chá, odeio beber café, preciso de cafeína. Pago ao homem que me atendeu realmente confuso e quase esqueço o troco com medo de perder o meu próximo ônibus. Saio em tempo de vê-lo chegar a toda velocidade. Não, não era ele, agora estou confundindo cores também. Entro em outro ônibus evitando pisar nos degraus com cogumelos, bebo chá mate e acordo um pouco. Sento-me, mas ainda tenho a sensação de que os objetos são feitos de diversos planos sobrepostos, sem a profundidade que enxergamos. Um mundo composto por diversos planos que, quando viramos rapidamente a cabeça, conseguimos ver saírem de registro. Lentamente as coisas voltam ao normal, acho que acordei um pouco. A cabeça pesa, mas agora está tudo bem, noto que estou muito atrasado. Respiro fundo, me recomponho assistindo a um senhor de aparência circunspeta que trava uma guerra contra a sua pasta. E quando me viro para a moça ao meu lado uma carpa gigante me saúda do lado de fora do ônibus, flutuando em frente à cerca viva de algas do restaurante mais próximo, aonde os carneiros tomam um brunch. Preciso dormir.

sábado, março 04, 2006

Cada coisa que a gente encontra...

O computador é realmente uma arma... Quando você menos espera percebe que acabara de apontá-lo para o exato ponto médio entre os seus olhos e BANG! São 01:33 e você é uma criatura balbuciante em frente a uma tela com um brilho azulado. Geralmente é nessa hora que você acaba encontrando coisas que, por falta de memória produtiva acordada alocada em seu subconsciente, você não consegue interpretar. Então você se dirige ao seu blog com a esperança de que alguém o leia e publique uma resposta que explique por que você resolveu publicar esse link a essa hora:
Larry Poter

É lógico que o tiro pode sair pela culatra e ninguém comentar, mas é um modo bastante eficiente de tentar não pensar e ir dormir logo de uma vez...

Ps.: Feliz aniversário Dríade! Tão logo eu reinicie o meu cérebro tento ligar novamente para te dar parabéns de forma minimamente aceitável. ;)

sábado, fevereiro 25, 2006

The Mechanical Contrivium: Juca

Ten Top Trivia Tips about Juca!

  1. The difference between Juca and a village is that Juca does not have a church.
  2. 68 percent of all UFO sightings are by Juca.
  3. Olympic badminton rules say that Juca must have exactly fourteen feathers.
  4. Juca became extinct in England in 1486.
  5. Juca can be seen from space.
  6. Pound for pound, hamburgers cost more than Juca.
  7. Originally, Juca could not fly.
  8. If you lick Juca ten times, you will consume one calorie.
  9. Neil Armstrong first stepped on Juca with his left foot.
  10. A lump of Juca the size of a matchbox can be flattened into a sheet the size of a tennis court.
I am interested in - do tell me about

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Um 2006 menos chato?

Essa é para alegrar o carnaval crianças, divirtam-se lendo, bom feriado, muito rock e muita breja!*


2006, o ano candidato ao título de mais chato da última década, parece ter sofrido um duro golpe em seu status com a divulgação de que a Copa do Mundo de Futebol possa ser cancelada devido ao aumento do número de casos da gripe aviária na Europa. Assim, a expectativa de que o ano de 2006 venha a se tornar um ano inócuo ou minimamente interessante aumentara cerca de 50%. Restam agora apenas as eleições como segundo pólo potencialmente entediante e o anseio por dias melhores. Até lá evitem uma infecção cerebral aguda mantendo seus televisores desligados ou a uma distância segura dos canais de esporte e TV aberta.
Antecipando qualquer probabilidade de que o governo alemão arrisque suas chances contra a grande possibilidade de iniciar uma pandemia realizando a copa, grupos intelectuais têm se mobilizado para criar um fundo com o intuito de presentear os candidatos à presidência com viagens para a copa e desse modo salvar pelo menos o segundo semestre.

Mais informações em:

Josias de Souza nos Bastidores do Poder
“uma ameaça ronda a copa”
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2006-02-19_2006-02-25.html


Folha Online
“Alemanha já tem 103 aves mortas por gripe aviária”
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u92822.shtml



* Ou lasse caso você lendo seja Hare... ;)

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Comia, comia e comia

Tive um sonho. Sonhei que eu repentinamente começava a viver muito, muito infeliz. A infelicidade era tanta que eu não era capaz de sentir prazer com nada. Então, em uma tentativa desesperada de obter alguma felicidade, eu começava a comer sem parar. Tudo aquilo que eu fazia, fazia comendo: se eu estava ao computador, comia; se eu andava, comia; se eu dormia, estava abraçado a um pacote de bolachas ou qualquer outra coisa comestível que se espalhava pela cama a minha volta. E a cada vez que eu passava por um espelho via meu reflexo cada vez mais gordo.
Dado momento, cada vez mais espantado ao ser surpreendido pelo meu reflexo parei e continuei observar um espelho. E para a minha surpresa comecei a inchar e inchar, engordando mais e mais. Minhas roupas rasgaram diante de meus olhos numa fútil tentativa de conter o meu imenso corpanzil. Ainda assim eu continuava a assistir, incapaz de desviar os meus olhos, até o momento em que eu explodi.
Suando frio eu acordei espantado olhando ao meu redor e, ao me deparar com a minha imagem refletida em um espelho vi que nada havia acontecido, porém uma pergunta não me fugia à mente: Se não podemos bebê-la, comê-la, metê-la ou comprá-la, resta apenas esperar que a felicidade surja?

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Ossos do ofício

Quem dera, nós pessoas inteligentes, fossemos menos complicadas e excêntricas. Porque a inteligência que nos é tão cara, infelizmente, nos torna aos olhos dos outros pessoas pedantes, frias e incompreensíveis. Quem corteja a inteligência com intimidade raramente se afasta dela para além do ponto onde distinguimos suas sardas, pupilas e cílios, linha que pessoas que não nutrem essa paixão não se arriscam a cruzar. Falo de paixão verdadeira, aquela sem a qual a vida de uns tantos não seria a mesma. Uma vida sem um livro qualquer para ler entre uma estação e outra do metrô (que diria então de um Graciliano, um Tokien ou um Shopenhauer). Um xadrez, um go ou uma outra atividade lúdica para excitar uma tarde entre amigos. Uma boa Hq ou um bom filme independente para aquecer uma noite. A inteligência é um critério gradual, ela não permite que se divida as pessoas entre duas categorias radicalmente opostas: quem a tem ou quem não a tem. Mas se é seu desejo dividir basta um olhar para saber a quem ela fascina ou a quem não. O que sobra é um abismo criado pelo paradigma social, um abismo que algumas horas é tão grande que faz de nós sábios, solitários.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Atum é assim, você só comenta quando pesca um dos grandes e não quer que ninguém fique criticando o tamanho do seu.

Quero quebrar este silêncio, dizia eu a mim mesmo, contrariado pela falta de idéias como quem reclama por comprar uma lata de atum sem ter um abridor de latas. Coisas de louco: latas vendidas sem o abridor e pessoas que conversam sozinhas, mas embora eu converse sozinho, isso já é outra história. Neste exato momento a falta de idéias ou a falta de intimidade comigo mesmo talvez sejam o ponto.

Voltando a vaca fria, quer dizer, ao atum neste caso, isso me faz lembrar da história dos tiozinhos famintos lá no agreste que ganharam comida através de uma campanha de caridade e receberam várias coisas legais, como latas de atum, ervilha e óleo para cozinhar, porém havia um pequeno detalhe, eles não tinham com o que abri-las. Não gosto nem de imaginar o pobre povo faminto olhando a foto do peixe a devolver o olhar em esgar e as bocas todas salivando.

Pensar tem, de fato, muito a ver com atum, assim como as atividades que cercam o atum, quer dizer, o pensar em geral. Pensar é como cozinhar Atum, você põe o atum na panela, deixa ele lá rolando no vapor, joga um tempero ou outro para acentuar o gosto e mexe de quando em vez para não queimar embaixo. Escrever é como tirar o atum da lata, se você usa um abridor fica fácil, de outro modo você corre o risco de o atum não sair muito aproveitável. Revisar o texto de alguém é como limpar o atum, não é difícil e se parece um pouco com escrever. Tem quem goste mais e tem quem não goste, indiferentemente, a maioria dos autores age como se você estivesse limpando o peixe deles com um abridor de latas quando você sugere uma leve mudança. Atum é assim, você só comenta quando pesca um dos grandes e não quer que ninguém fique criticando o tamanho do seu.

Ando com uma sensação estranha, uma espécie de frio na barriga ou coisa do gênero, como se eu estivesse ouvindo alguns barulhos estranhos, assustadores e pouco reconhecíveis... 13:31, me esqueci de almoçar, será que eu encontro uma lata de atum por aí?