quinta-feira, novembro 16, 2006

Fim de Tarde

Ele saiu bem diferente de como eu o imaginei, ficou legal, então vou publicar e acho que vou tentar escrever outro seguindo a idéia original. Até lá, divirtam-se:

***

Fim de Tarde


A sensação de estar mentalmente distante do lugar onde se está fisicamente é uma velha-conhecida. Onde eu estava, de verdade, não sei? Onde estava? Parado no metrô.

A bela garota passava em um vestido bordô. Combinando desde as unhas até o sapato com os mais deliciosos tons de vermelho. Seus cachos perfeitamente castanhos destacavam os fones brancos do iPod e emolduravam o rosto pálido onde brilhavam olhos do mais puro azul-turquesa.

Ela se senta e eu assisto como um garoto na multidão. A curiosidade me devora. Quero saber o que ela está escutando enquanto sorri e batuca animadamente com as unhas na superfície do iPod. Seu sorriso é gracioso, um daqueles sorrisos que se dá quando ninguém está olhando, ou quando se está distraído demais para pensar nisso. Em deleite eu observo.

Mas no mundo real o telefone toca, borra a imagem e revela o escritório. Todo mundo ao redor olha enquanto brigo com a pequena concha cinzenta para silenciar o seu toque. Converso rapidamente e me dirijo para o recinto mais branco e diminuto que alguém ousou chamar de copa. na seqüência desligo o telefone e volto a minha mesa para me concentrar.

Só que alguém ralha com alguém, alguém contra argumenta e outro alguém cantarola do outro lado da sala. Eu respiro fundo, finjo ignorar tudo enquanto ar gélido me açoita saindo do maldito ar-condicionado. É tão difícil voltar a me concentrar! O relógio do computador ainda errado assiste a tudo e o do celular denuncia: falta dez minutos para o final do expediente. Fico indeciso se salvo ou não o arquivo e me lembro da pasta com dezenas de textos inacabados que apaguei recentemente.

Visto a minha jaqueta vermelha, desligo o computador e atravesso a sala tentando não levantar suspeitas ou revelar a minha felicidade. Passo o cartão no relógio de ponto que apita com o elevador. Corro para a porta quase inutilmente e alguém segura o elevador pouco antes que fechasse.

Agradeço automaticamente antes de erguer os olhos do chão e ver o rosto conhecido cujo sorriso eu só imaginei em sonhos. Abro meus lábios assustado em um reflexo sem, no entanto, emitir som e, enquanto a porta do elevador se fecha, ela diz: “Era Modern Love, do Bowie”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário