quarta-feira, janeiro 25, 2006

Ossos do ofício

Quem dera, nós pessoas inteligentes, fossemos menos complicadas e excêntricas. Porque a inteligência que nos é tão cara, infelizmente, nos torna aos olhos dos outros pessoas pedantes, frias e incompreensíveis. Quem corteja a inteligência com intimidade raramente se afasta dela para além do ponto onde distinguimos suas sardas, pupilas e cílios, linha que pessoas que não nutrem essa paixão não se arriscam a cruzar. Falo de paixão verdadeira, aquela sem a qual a vida de uns tantos não seria a mesma. Uma vida sem um livro qualquer para ler entre uma estação e outra do metrô (que diria então de um Graciliano, um Tokien ou um Shopenhauer). Um xadrez, um go ou uma outra atividade lúdica para excitar uma tarde entre amigos. Uma boa Hq ou um bom filme independente para aquecer uma noite. A inteligência é um critério gradual, ela não permite que se divida as pessoas entre duas categorias radicalmente opostas: quem a tem ou quem não a tem. Mas se é seu desejo dividir basta um olhar para saber a quem ela fascina ou a quem não. O que sobra é um abismo criado pelo paradigma social, um abismo que algumas horas é tão grande que faz de nós sábios, solitários.

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