segunda-feira, julho 25, 2005

E um novo dia virá...

O casarão legitimamente português quase do começo do século continuava a sua trajetória através do tempo. O sol brilhava, a tinta de suas paredes externas descascava e, gradualmente, perdia a cor. Era um dia bem quente para um inverno paulistano e nenhuma nuvem cobria o céu que era surpreendentemente azul de ponta a ponta. Todas as coisas estavam cobertas por aquele brilho bem claro da luz da manhã. A casa quente estava toda aberta como dos derradeiros dias de verão. Eram 9:00 horas.
Ele havia acabado de acordar. A luz invadia o quarto pelos frisos da janela fechada. Ele esfregava os pés um no outro por debaixo do lençol e com um leve sorriso no rosto pensava em um café bem ao estilo dos comerciais de margarina. Não precisava de paredes e roupas brancas ou da família toda reunida na mesa, só queria um pão na chapa bem quente e cheio de manteiga, sim, manteiga de verdade, nada de gorduras vegetais e aditivos químicos bizarros, apenas as coisas como elas deveriam ser naturalmente, sem complicações adicionais. A vida pura e simples como ela pode ser... Um pulo do beliche, alguns instantes procurando por uma camiseta no armário e um dia novo pela frente. Atravessou um corredor e a sala vazia parando apenas para ligar o rádio e constatar que estava sozinho. O som alto ecoou pela casa e o rock clássico dos anos 80 realçou seu entusiasmo fazendo-o lembrar das antigas fitas K-7 que suas irmãs levavam para viajar quando criança. Por um instante o sol brilhou mais forte e uma brisa iniciou um farfalhar de folhas, o céu reverberou mais azul e o verde das folhas tornou-se infinitamente mais verde. Alguns instantes em frente ao fogão, um copo de leite e estava pronto o seu café alto-astral. Juntou os pães sobre um prato, pegou todos os utensílios de que precisaria e com as mãos cheias atravessou o corredor de volta à sala onde o lilás de uma orquídea sobre a mesa em seu centro invadiu os seus sentidos. Naquele breve instante em que ele se fez confuso, mãos delicadas cobriram-lhe os olhos e o cheiro dela preencheu seus pulmões. Seu coração disparou e a surpresa se fez completa.

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