segunda-feira, julho 11, 2005

Pesadelo

Pare e esvazie sua mente.
Feixe a porta que separa a sua consciência do mundo exterior deixando todos os sons do lado de fora.
Respire devagar e profundamente por três vezes.
E só então leia.

Imagine o terror de acordar de um pesadelo que te assombrou a noite toda. Uma noite azul, escura, quase negra e fria... Absolutamente fria. A respiração ofegante, o suor frio a escorrer salgado sobre a face depositando-se em suas sobrancelhas a ponto de fazê-las pesar mais que o mundo. Um pesadelo que te fizeste correr o céu durante a noite toda, dilacerando teus pés descalços em um chão metálico de pontas de agulhas partidas, molhadas e frias raspando teus ossos. Uma corrida interminável e tão agitada quando o desespero dos últimos grãos de areia de uma ampulheta tentando não cair pelo buraco. Imagine o cansaço queimando os pulmões como se eles estivessem repletos de ácido invadir o teu corpo, aquele mesmo cansaço que surge diante da exaustão, que salga a boca por baixo da língua e que traz à tona a vertigem. Imagine o céu girando em falso sob os teus pés e deixando-te imóvel na estratosfera enquanto chega a aurora. Os primeiros raios de sol despontando no horizonte revelando a silhueta distante daquilo que tu persegues, raios que irão queimar-te antes que o alcance. Raios estes a mostrar que tu passaste a noite toda correndo senão atrás de você mesmo como o cão corre bobo atrás do próprio rabo. Imagine acordar, sentar na cama gelado enquanto alguém se aproxima a passos lentos, assistir inerte e cansado a esse alguém se declinar aos teus pés e ser flagrado por um tênue facho de luz no instante em que se abaixa revelando que é você. E que seja o que for, pesadelo ou realidade, ainda não acabou.

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