terça-feira, setembro 06, 2005

Paradoxos

Tremeu diante do silêncio, pálido como um defunto em frente à tela azulada do computador. Era ali em seu quarto, mas poderia ser em qualquer necrotério aos sons dos pneus distantes atravessando as ruas molhadas pela chuva que passou. Chuva que também poderia ser ali, dentro de casa, dentro do quarto, debaixo de seus olhos e sobre o seu coração. Só compreende a solidão quem dela sofre. Porque só os solitários sabem o que é sentir o coração apertado, enrijecido pelo frio. Um frio que qualquer um poderia calar exceto eles mesmos. Ser só é como morar em uma casa sem paredes e ser açoitado pelo vento que devora as plantas e agride os corpos com pequenos fragmentos de areia. Desejou, ao menos uma vez na vida, compreender o segredo de não precisar de nada nem de ninguém. Por algum tempo talvez até o tenha compreendido, ou assim acreditava. O segredo das crianças com seus amigos imaginários, o segredo dos velhos que falam sozinhos. A noite avançava cada vez mais fria e ele amaldiçoava a expectativa e o sentimento desperto. Se ele transformara seu coração em pedra o que os outros tinham com isso? Não é o princípio de não sentir dor, o de não causá-la? Ao menos a si próprio... Deixem me então esquecer o que é o amor, porque não se sente falta de alguém a quem se desconhece ou de um lugar onde nunca se esteve.

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