segunda-feira, maio 28, 2007

Acorda...

Acorda. É mais uma manhã fria. Os homens cansados levantam para tomar um pingado e vão caminhar para o trabalho. Os ônibus passam lotados e as pessoas se escoram em outras pessoas, todas sonolentas, todas cobertas de pó. O céu escuro resiste e demora a clarear.

Acorda. Está frio pacas. Mal o chá alcança a xícara e já está morno, quase frio. O final de semana passou e você nem o viu. E mesmo que visse ao longo da semana nem teria a quem contar. Pessoas saem do metrô abafado para a rua gelada carregando grandes nuvens de vapor arduamente espiradas.

Acorda. A viagem é cansativa. As gentes se acotovelam tal qual bois indo ao matadouro e no fundo, no fundo, não sei qual é a pressa. É gente para todo lado, se acotovelando mesmo ao trabalho, dia à dentro, semanas a fio, meses, anos. Espremidas em escrivaninhas justas, confinadas a espaços escuros, salas secas de ar-condicionado e outras tantas alcovas tenebrosas da ganância intensiva.

Acorda. Vede a mancha marrom no horizonte e o frio sol de outono antes que descubram a persiana aberta. Vede a vida passando lá fora enquanto secam aqui dentro você e a pobre pimenteira. A vagar, liga anestesiado o monitor, coloca uma música sóbria e sonha com dias melhores.

Um comentário:

  1. Anônimo8:06 PM

    Adorei, pra variar. Gosto quando vc fica filosófico...

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