quarta-feira, setembro 09, 2009

Hiatos

Ainda ontem quando acordei uma nesga de sol amarelo ouro avançava sobre a sala após fugir entre as nuvens negras que maculavam os céus. Era muito cedo, como há muito tempo não me lembrava de acordar por vontade própria. Os primeiros pingos me alcançaram logo antes de chegar ao ponto de ônibus e já continham em si o mesmo ímpeto que meu corpo quando ainda na noite anterior prometi para a mim mesmo um derradeiro esforço pela salvação dos meus dias.

Estava feliz com a minha pequena vitória sobre o sono, o cansaço, o tédio e o desânimo; permanecia levemente excitado mesmo diante da montanha russa emocional matinal. A água açoitara as vidraças do campus com toda a fúria e escorria plácida pelos vidros das janelas, causando aquela sensação boa de que tanto gosto. Mal havia passado das nove horas da manhã e já era noite.

E assim o dia foi passando, molhado branco-acinzentado com aulas boas, conversas jogadas fora com amigos aqui e ali e rompantes de paixão. Veio a noite tão úmida quanto o dia, o ar leve e respirável, o asfalto brilhante, uns poucos letreiros acesos, as dezenas de portas fechadas e um restaurante grego um pouco mais animado do que a lanchonete em Nighthawks. O dia foi-se tão surpreendentemente quanto chegou deixando apenas o desejo de poder mandar embora todo o hiato criativo com a mesma veemência de um dia bom de chuva.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. lindo texto... adoro a chuva e os sentimentos bons... senti calma e contentamento e coisas boas, sabe... saudade de voce e de voces =]

    =*

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