sexta-feira, abril 01, 2005

Além do tempo e do espaço

Eu sempre me perguntava assistindo a todos aqueles desenhos quando jovem, aonde ou o que era a tal bendita 4 dimensão. Sabe, aquele tipo de pergunta que as crianças fazem e que os pais não sabem direito responder e ficam se perguntando: “_Porque Catso esse moleque encanou nisso?”. É, ninguém nunca soube me responder, e eu também não insisti tanto. Pra falar a verdade acho que essa foi uma daquelas perguntas que nunca venceu a gravidade da minha cabeça, não me lembro de ter perguntado isso para alguém. Passou muito tempo até que outro dia, viajando por aí em um hipertexto daqueles que só nerds conseguem ler descobri que um tal de Einstein havia dito que a 4 dimensão, nada mais é do que as três coordenadas espaciais já conhecidas (o tal do x,y,z cartesiano) com uma quarta que é o tempo. Mais o engraçado é pensar que às vezes nossa mente se comporta assim.

“When you are born you're afraid of the darkness
And then you're afraid of the light
But I'm not afraid when I dance with my shadow”

Eu tento digitar meu trabalho no computador, mas como posso se eu não estou aqui? Estou agora perdido em algum lugar entre amanhã e ontem, ouvindo Pear Jam, cantando Aerosmith, olhando o meu trabalho e escrevendo este texto. Se você acha que sou louco, não ache, isso é um fato, você chegou atrasado. Não vem ao caso.
A sala onde estou tem horríveis paredes sujas, pintadas de cinza, azul e amarelo, e é retangular com várias colunas de concreto ladeando as paredes. Uma alcova à minha frente guarda um extintor de incêndio com a classificação inapropriada para o ambiente, inútil caso algo aconteça, ventiladores estão espalhados pelos cantos e no centro diversas mesas juntam-se lado a lado de frente umas para as outras, formando um grande retângulo cheio de computadores, a maioria velhos. Uma planta enorme permanece em cativeiro junto à parede quase atrás de mim, suas folhas parecem começar a amarelar e eu penso que por melhor que seja ter uma planta aqui, é um crime condená-la a luz dos cátodos e a não mais ver o sol, e se isso é cruel com ela imagine conosco. A minha mesa é um pouco curta e bagunçada, nunca encontro nada no mesmo lugar, pois as faxineiras fazem uma zona gigante quando pseudolimpam-na. Porém, nada disso me parece real, e será que é realmente? Eu poderia lhes descrever o que vejo que não é nada disso, paredes de pedra, tatames, mas creio que vocês hão de concordar comigo: não carece...

“Oh yeah she's got that kind of love incense
That lives in her back room
And when it mixes with the funk my friend
It turns into perfume”

No lugar desta realidade torta, mórbida e cansativa que me permeia, minha mente me carrega para paisagens mais agradáveis, arrastada, em verdade, por um certo perfume, uma pele macia, uma doce saliva e uma voz deliciosa. Sinto-me até um pouco tolo, pois, neste instante em que eu não estou aqui, minha mente é mantida prisioneira de bom grado. Ela jaz atada a seu corpo, como uma das contas vermelhas de um colar que mora em seu peito. Mas isso tudo está muito longe de ser uma prisão.

“She a friend of mine
She a concubine
The sweetest wine
I gotta make her mine”

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