terça-feira, outubro 05, 2004

Carta a um velho amigo: Sobre ideologia e vinho

Hahahaha.Ah, caro amigo, soubesse você o tanto que o tempo me trouxe... Quantas mudanças, quanta maturidade...Acho que o melhor que posso dizer a meu respeito nesse sentido é parecido com o meu gosto para a bebida:Aprendi que não se bebe para encher a cara, mas para degustar uma boa bebida. Em fato beber e comer carne são coisa que faço por gosto e até por um posicionamento ideológico que vai contra a radicalização das idéias e contra os fundamentalismos. Eu poderia parar de beber ou de comer carne a qualquer momento se e somente se eu quisesse, se achasse que isso tem algum valor e quando falo em valor digo-o para mim, não tento aqui postular sobre o que todos devem ou não achar e fazer. Existem motivos muito bons para cada ato.
De um certo modo eu poderia dizer que não deixei de acreditar na "revolução", mas que, como tudo, tem de ser feito com consciência, ao contrario do que muitos pensam (aqueles que buscam a iluminação através dos atos e não das palavras). Embora as pessoas de modo geral não tenham gostado das continuações de matrix, eu devo dizer que, apesar delas não possuírem a genialidade do primeiro, as pessoas optaram por criticar o lado comercial e esquecer as discussões filosóficas. O segundo filme deixa bem claro aquilo que estou tentando dizer. O importante não é o ato em si, mas a compreensão sobre o que deve ser feito. Acho que isso expressa uma base muito grande onde se fundamentam vários dos meus comportamentos e das minhas ideologias hoje.
Yuppie de terninho? Rs... Meu gosto musical mudou bastante nesses anos todos, creio que para melhor, como disse a única coisa que tenho achado absolutamente agradável na idade é que um vinho de uma safra antiga tem um sabor melhor. Fui metaleiro, quase from hell, hoje estou muito próximo da ecleticidade. A pura ecleticidade em si não tem para mim muito valor, acho que ela deriva de uma ausência de aptidão crítica sobre uma das maiores formas de expressão, a arte. A arte é um dos filhos incompreendidos da humanidade. Hoje ela sobrevive de forma muito triste transformada em mercadoria como tudo aquilo que o homem é capaz de criar. Fácil é ouvir música, difícil e compreendê-la. Fácil é parar diante de um quadro, difícil é decifrá-lo. Fácil é ler um texto, difícil é compreendê-lo. O segredo para o gosto está no que Saussure chamou de significante e significado (o que mais uma vez me remete a uma das conversas mais agradáveis que já tive na vida e da qual sinto muita falta). Se eu mostrar um kanji, yama, por exemplo, a uma pessoa qualquer na rua, para ela isto nada irá significar. Serão apenas três traços verticais, que alguém poderia dizer simples traços, alguém poderia dizer um borrão e alguém poderia dizer que é um buraco feito pelas garras do Wolverine. O significante neste caso não teria significado certo para essas pessoas. Mas se eu mostrasse o mesmo kanji a você que estudou japonês por 8 anos, independentemente de não se lembrar quase nada, você pode até não lembrar do nome, mas sabe que yama é o kanji para montanha. O significante para você tem um significado. Partindo deste ponto sabemos que você pode discutir a respeito deste kanji e atribuir a ele um valor. Assim como poderia falar com propriedade sobre The Doors, uma banda que você sempre gostou, mas talvez não possa falar sobre música folclórica Neozelandesa.
Sobre o modo de vestir, acho que não sigo exatamente um modo, tenho sim um modo próprio, uma amiga minha disse que eu sou meio esporte... rs Creio que um hábito que adquiri depois do exército. Prefiro roupas que não me restrinjam os movimentos e que não sejam absolutamente largas podendo enroscar em qualquer coisa. Gosto de bolsos vários, fundos e ajustados ao corpo de modo que não pressionem o que eu carrego contra o meu corpo, mas que também não fiquem sacolejando. Atualmente eu tenho investido mais em um visual motociclista, devido à necessidade de ter roupas que protejam mais em caso de queda.
E para terminar de responder a sua carta, falemos sobre o vício da internet. A internet é uma ferramenta. Assim como uma chave de fenda ela por si só não é boa ou má, conceitos meramente humanos. Bom ou mau é o uso que damos a ela. Acho uma ferramenta formidável, só espero que sua esposa não tenha que disputar pela sua atenção com o computador, isso sim é um hábito desagradável. Um amigo que temos em comum, tem o péssimo hábito de deixar suas visitas esperando enquanto passa horas ao telefone. Isso é extremamente desagradável e desrespeitoso, reduzir uma pessoa a um objeto, que fica sobre sua estante até que você deseje utilizá-lo ou não e que, como qualquer criança descuidada e deslumbrada ou um animal como um gato, irá largar de qualquer jeito em qualquer lugar quando alguma outra coisa qualquer lhe chamar a atenção. O vício pode ser sobre qualquer coisa, pode ser sobre cocaína ou basquete, mescalina ou computação, álcool ou limpeza. O que caracteriza o vício é o abuso de algo em detrimento a uma obrigação ou ao convívio social.
Espero que me desculpe pelo tom absolutamente filosófico e um tanto frio que impregnei nesta carta, mas não escrevo no meu blog há alguns dias e achei nesta um prazer e um tema propício para um bom post. Lá, você a encontrará dentro em poucos momentos...

[]’sJuca

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